Capítulo IV

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Sonhei com um monstro, sua roupa suja de sangue assim como as suas mãos e sua boca, o monstro comia meu coração, sedento e faminto, eu estava deitada na minha cama de West Dorset, o ambiente estava completamente escuro e havia a luz do sol entrando pela fresta da cortina, o monstro tinha presas pontiagudas e olhos pretos impossível de se ver o globo ocular e ele brilhavam na fraca luz do sol.

E por mais que aquilo fosse aterrorizante eu estava maravilhada, pois ele me desejava mais que a própria vida, eu não queria gritar ou correr, apenas queria vê-lo se alimentar de tudo que eu poderá oferecer.
Mas o monstro me matou, seu egoísmo era grande e ele não podia resistir a sua natureza sangrenta, quando terminou chorou sem lágrimas sobre meu cadáver frio.

Quando acordei estava ensopada de suor e meu coração batia forte, Miranda não estava no quarto, mas deixou um remédio na cabeceira da minha cama, no banho deixei a água quente aquecer meu corpo, relaxar meus músculos e aliviar a minha dor de cabeça, me sentia aérea, parecia ainda estar dormindo, no quarto recordei do combinado com meu pai e arrumei uma mochila com algumas peças de roupas e fui para o ponto da universidade esperar o ônibus que me deixaria em casa.

No meio do trajeto avisei meu pai que estava a caminho, ele me recebeu na porta de casa, contente, me mostrou na mesa de centro meu prato preferido, sushi, comemos assistindo uma programação qualquer da BBC, pela tarde almoçamos lasanha, meu pai adormeceu no sofá, subi para meu quarto em busca da minha cama, sempre vi meu quarto como um cômodo pequeno, cama pequena, móveis pequenos... Depois de ficar essa semana na faculdade meu quarto se tornou gigante e acolhedor.

As lágrimas surgiram outra vez, me sentindo insuficiente, percebi que não era atração ou paixão, eu o amava só pela sua completa existência, Harry existia e isso era a razão suficiente para ama-lo até o dia da minha morte.

O conhecia apenas a uma semana, e era inexplicável o sentimento parecer tão forte, quando o vi pela primeira vez senti o vazio ir embora, cores surgirem, parecia que não estava mais amortecida, quando ele me afastou, senti as cores esvaindo, o vazio me atingindo. Aquela dependência emocional era uma vergonha.

Andei por toda a casa e não sintia apenas a dor no peito por uma desilusão amorosa, o quarto de Aria com sua cama arrumada me rendeu choros e soluços, o cheiro do seu shampoo não estava mais nos ursos de pelúcia ou no macio travesseiro.
No quarto que meu pai se recusava a passar muito tempo, ainda tinha as roupas da minha mãe, seu perfume também estava sumindo das roupas... Meu peito estava esburacado, como um queijo.

E mais uma noite foi perdia, me sentei na varanda de casa observando a lua, com a estranha sensação de estar sendo observada entrei para dentro e liguei a tela plana, acabei adormecendo no sofá, abraçada a um travesseiro.

Tive o mesmo sonho e novamente o monstro foi egoísta demais, acordei com a iluminação do sol, lágrimas escorreram pelo meu rosto, havia um cobertor me embalando, possivelmente meu pai trouxe.

Leonard estava na cozinha fazendo o nosso café da manhã.

- Bom dia, querida! Vitamina de banana com aveia, sua preferida! - Ele me recebeu com um sorriso afetuoso.
- Bom dia, pai, obrigada! - Mantive distância por conta do mau hálito, mas fiz carinho em sua mão.
- Você dormiu bem? Vi que se sentou lá fora.
- Eu... Não tenho dormido muito bem, acho que é ansiedade por conta da faculdade... Mas é bom estar em casa. - suspirei e arrumei meu cabelo.
- Ou é alguém chamado Harry... - Me engasguei com a vitamina. - Você estava chamando por ele no sofá e até choramingou...
- Só um sonho com esse garoto que apareceu... - Rimos
- Até agora você está evitando me falar da faculdade... - Leonard se sentou e começamos a comer. Seus olhos fazendo uma acusação.
- Ah, está tudo bem, fiz quatro amigos... Parece que na universidade fazer amizades é mais simples... Fui em um festa ontem, não bebi muito, mas voltei tarde. - Confessei um pouco constrangida.
- Que horas voltou? - Segurei o riso
- Preocupado? - Provoquei
- Não... Quer dizer, sim... Eu e sua mãe queríamos que você estudasse. - Ele forçou a postura de durão, nunca combinou com Leonard.
- Pai, fui porque sábado e domingo não estudo. - Ele precisou concordar, responsabilidade sempre foi o meu forte.
- Quando vai poder fazer um estágio? - Sabia que esse assunto iria acabar com o pedido para ser uma funcionária no seu escritório de advocacia.

A Quarta Fase Da Lua (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora