Capítulo seis - You are mine

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Davina Petterson 🦋

Levo um susto ao ouvir o terrível toque estridente do despertador. Ou do celular apitando por mensagens, não sei, não consegui distinguir. Acabei de acordar de quase uma ressaca.
Ao tentar recuperar os sentidos, me lembro do compromisso que tinha hoje pela manhã.
Que droga!
Dou um pulo, e pego o celular na escrivaninha ao lado da cama vendo trilhões de mensagens de Lindsey, me xingando em vários idiomas.
- Ah droga... - suspiro passando as mãos pelos cabelos. Já eram sete e vinte.
Minha cabeça explodia.
Abro o chat de mensagens, mas logo a ruiva me liga. Eu atendo.
- Ah, agora você me atende! Sabe que horas são? - ela grita pelo telefone.
- Primeiro, para de gritar por favor. Minha cabeça tá implorando por socorro. Segundo, eu sei que eu tô atrasada no nosso compromisso, mas eu acabei de acordar com uma amnésia esquisita... - falo sentada na cama, apenas de calcinha e a mesma camiseta de ontem.
- Ah meu Deus. - diz ao suspirar.
- O quê? O que foi?
- Ah, nada. Estou te esperando aqui embaixo, vê se não demora.
- Ma... - ela desliga o telefone. - vaca. - sorrio sozinha. Dou um pulo quando ouço a porta ser aberta, revelando meu pai entrando. - pai! - grito, e coloco um lençol sobre o corpo. O vejo dar um pulo, e tapar os olhos.
- Me desculpe, me desculpe. Eu não vi nada. - ele se vira. - só queria conversar.
- Batesse na porta. - digo calma. Logo sigo para o guarda roupas para escolher o que vou vestir hoje. - e agora não dá, preciso sair.
- Só queria saber, o porquê você chegou aquela hora.- a calmaria que ele tinha para falar sobre as coisas, era impressionante.
- Ah... que hora? - que merda!
- Três da manhã. - fala sério. Eu cheguei tão tarde assim? - seus amigos te trouxeram pra casa. - franzo o cenho. Por que não me lembro disso?
- Ah eh, pai... eu te avisei que não iria vir pra casa depois da escola. - falo, e puxo um short jeans curto desfiado nas bordas, e uma camisa longa marrom com um gavião estampado na frente.
- Não vir pra casa depois da escola, é diferente de vir pra casa às três da manhã, não acha Davina? - suspiro.
- Pai, tô atrasada, depois a gente conversa. Se me der licença...- me aproximo o abraçando e o levando até o lado de fora. Deposito um beijo em sua bochecha, e corro para o quarto de volta fechando a porta.
- Não acabamos ainda mocinha! - me apresso para tomar um banho e me vestir, antes que Lindsey haja de subir aqui e me arrastar pelos cabelos.
Tomo um banho rápido, sem lavar os cabelos, e me visto.
A parte da frente da blusa, coloquei por dentro do short. Coloquei um all Star vermelho com os cadarços soltos, e enrolei os cabelos num coque alto, deixando alguns fio bagunçados abaixo.
Me perfumei um pouco, peguei meu celular e um dinheiro enfiando dentro dos bolsos de trás do short, peguei um óculos escuro coloquei na cabeça e desci. Caso estivesse um sol muito forte, não aguentaria sua luz irradiar minha visão.
Na cozinha, onde eu fui apenas pra pegar algo para beber, encontro quem eu menos desejaria ver agora.
Ela me olha, e eu reviro os olhos a ignorando e indo até a geladeira. O silêncio pairou sobre o ambiente, e eu agradecia mentalmente. Pego uma garrafa de água com sabor de frutas vermelhas, e me retiro dali sem trocar uma palavra sequer com Yasmine, que também não moveu o lábio para se dirigir à mim.
Vou para a fora da casa, já tomando minha bebida e corro para o carro de Lindsey. Como eu havia dito, o sol está muito forte me obrigando a colocar os óculos sobre os olhos mesmo enquanto ando até o carro.
Me aproximo, e adentro o lugar da frente.
- Desculpa amiga, eu realmente estava perdida lá em cima. - fecho a porta e me aconchego colocando os óculos sobre a cabeça novamente.
- Ah claro bonita. Depois de ontem. - arregalo os olhos, e a ruiva da a partida, e começa a dirigir.
- O que exatamente aconteceu ontem? - pergunto confusa, porém calma.
- Você beijou o Eli amiga! - reviro os olhos.
- Disso eu já sabia.
- Você bebeu demais ontem, e até passou mal. - torço os lábios numa expressão de "conta algo mais grave".
- Nem te ofereci, quer? - aponto a garrafa para a garota que recusa educadamente. Dou outro gole.
- Ok, percebi que você não se importa com nada mesmo. - diz e eu sorrio.
- Não fiz nada demais. - dou de ombros. Resolvo fechar a garrafa.
Avisto uma farmácia.
- Para aqui por favor. - peço ao apontar para o estabelecimento.
- O que foi? - ela direciona o carro para a direita, e para numa vaga no estacionamento da farmácia.
- Dor de cabeça. - abro a porta do carro. - vai querer alguma coisa? - a encaro.
- Ah sim, um remédio de vergonha na cara pra você. - reviro os olhos e solto um riso assoprado pelos lábios saindo do veículo.
Me apresso ao entrar no local, e compro o medicamento para a dor de cabeça infernal que estava sentindo.
Volto para o carro, onde Lindsey ouvia uma música no rádio, enquanto cantarolava e batia no volante levemente.
- Vamos nessa baby. - falo e fecho a porta.
- Vamos .- destaco um comprimido o jogando na boca, e tomando um gole do líquido de frutas vermelhas. A ruiva da ré no veículo e o direciona nas ruas. - sabe o que achei interessante amiga? Sua tatuagem. - quase engasgo.
- O quê?! - a encaro de olhos arregalados. A garota varia sua atenção entre mim e a estrada com a expressão confusa.
- É amiga, sua tatuagem. A borboleta azul que você tem um pouco acima da virilha, achei bem bonita...
- Como você sabe? - pergunto tentando ser calma.
- Digamos que, em uma das suas palhaçadas de ontem, eu acabei conseguindo ver. - suspiro.
- Lindsey, diz logo se fiz algo constrangedor, algo que se eu soubesse, teria evitado...
- Não, não. Fica de boa. Não fez nada demais. - mordisco o lábio inferior.
- Alguém mais viu?
- Acho que só eu mesmo. - ela vira a curva de uma rua.
- Ótimo. Por favor, não conta pra ninguém. - pelo menos ela não sabe da história.
- Ok. Mas por que eu iria contar isso pra alguém? - a encaro. - é retórico. - reviro os olhos sorrindo. - chegamos. - ela para em frente à um centro comercial com umas escritas "Cobra Kai".
Descemos do carro.
Eu fiquei olhando o estabelecimento por alguns segundos. Achei bem legal.
Seguimos até a entrada, já ouvindo vozes vir de dentro. Sorrio ao ter algumas lembranças do meu sensei quando me dava aulas.
- Toda feliz assim, por quê? - pergunta Lindsey.
- Lembrei de uma coisa. - respondo e sigo para dentro do local.
Haviam alguns alunos, o suficiente para combater um grupo com dez imbecis.
Passando os olhos pelo local, consigo perceber duas pessoas conhecidas. Uma garota que falou com o Miguel algumas vezes acho que se chama "Aisha" e o próprio Miguel, que percebe minha presença na hora. O garoto me lança um sorriso, porém sem perder o foco no treino. Um homem loiro, com idade um pouco avançada, que aparentava ser o sensei deles, nos encara sério.
- Quem são vocês e o que estão fazendo aqui? - que belo jeito de receber um cliente. Não tá um pouco na cara? Pelo que parece ele já não é tão gentil como o Miguel dizia.
- Sensei, elas são as garotas que eu convidei, não se lembra? Você pediu para eu recrutar mais alunos para o dojô. - Miguel diz ao se aproximar. O homem parece pensar.
- Muito bem, mostrem o que sabem! - diz firme. Lindsey me encara confusa. Tiro os sapatos e sigo para o tatame na primeira fila de alunos. Os alunos ao meu redor, continuavam a fazer os movimentos e golpes. Eu já sabia de todos aqueles as posições e os golpes que eles realizavam. Apenas fazia os mesmos sem precisar de nenhum auxílio. Mas aquilo, aquela situação, aqueles golpes, os jeitos, me lembravam meu sensei quando me treinava. Era... bem semelhante.
Lindsey, me seguiu e ficou ao meu lado.
Miguel e o sensei, me observavam de longe. A expressão do garoto era satisfeita. Já o homem, estava indignado com algo. Não entendi porém prossegui.
{•••}

- Venham os dias marcados após a escola. E os dias de folga como hoje, é sempre de manhã. - dizia meu novo sensei para os alunos.
- O sensei ficou impressionado, sério. Você viu a cara dele? - Miguel pergunta empolgado ao nosso lado. A aula do dia havia acabado, e os alunos estavam se preparando para irem embora.
- Pois é. Ele ficou bem impressionado. - diz Lindsey. Eu apenas encarava o homem que também não tirava os olhos de mim a maioria das vezes. Eu sentia algo que não senti a muito tempo... Era como se o meu sensei me ensinasse o que aprendi até hoje. Ele falava com alguns alunos antes de passarem pela porta para irem embora. - aí amiga, tá com a cabeça aonde? - uma mão passa em frente ao meu rosto, e percebo ser a da ruiva. Meneio a cabeça e a encaro.
- Em lugar nenhum. - suspiro.
- Então vamos embora, já encerramos por hoje. - diz Miguel.
Eles vão para a porta, e eu os sigo. Quando uma voz me chama a atenção.
- Ei, você. Daviná. - me viro e era o Johnny vindo em minha direção.
- É Davina, sensei. - respondo.
- Tanto faz. - o encaro perplexa. - quero saber onde aprendeu tudo aquilo? - diz me encarando sério. Era engraçado o jeito em que olhava enquanto dizia algo, por mais grave que fosse, se fosse, ele continuava com a mesma expressão neutra. Semicerro os olhos, e suspiro.
- Eu fazia aulas de karatê antes, na minha antiga cidade. - respondo.
- Disso eu sei. O Miguel me disse. - o encaro confusa. - mas... quem te dava aulas? - minha confusão se torna maior após essa pergunta. Por que ele queria saber?
- Você não conhece. - digo e retorno meu caminho para a saída o deixando só. Não entendi o porquê da curiosidade dele. Mas não vou ficar pensando nisso. Deve ser apenas... curiosidade.
Lindsey e Miguel, me esperavam ao lado do carro. Corro e me aproximo deles.
- O que foi? - Lindsey me encara com o cenho franzido após perguntar.
- Nada demais. - respondo.
- Ah ok. Ofereci carona pro Miguel, vou levar vocês pra casa. - diz a ruiva.
- Por mim tudo bem. - falo.
Entramos no veículo de Lindsey, e seguimos para o destino. A casa de Miguel. O caminho todo, conversávamos aleatoriamente, e sobre ontem na lanchonete. Rimos dos acontecimentos, do Miguel bêbado e deles me lembrando o que eu dizia enquanto também estava bêbada. Quase perdi o ar de tanto rir.
- Então... querem fazer algo mais tarde?- sugere Lindsey. Miguel nos encarava do lado de fora pendurado na janela ao meu lado.
- Ah, eu topo. Mas hoje tem que ser um dia menos alcoólico. - diz o garoto. Sorrimos.
- Fica de boa. Hoje vamos só ficar ao redor da fogueira observando as estrelas, tomando um refrigerante. - diz a ruiva.
- Eu quero ir. Já tô incluída, por favor. - digo levantando a mão.
- Então nós vamos. Chamamos os meninos também, e está tudo certo. - diz Miguel.
- Tá beleza. A gente se vê mais tarde. - diz Lindsey. Miguel se afasta e acena.
- Até mais tarde. - diz o garoto, e dou um "tchauzinho" com a mão também.
Saímos, e Lindsey me levou pra casa.
Nos despedimos e entrei no hall.
- Ah, oi Davina. Como vai? Então, eu preciso ir, estou atrasada e...- senhorita Alice, dispara enquanto colocava um salto no pé apressadamente, cambaleando. - não posso te dar atenção agora, querida. - agora tenta ajeitar seu par de brincos em sua orelha, me encarando. - será que você...
- Claro, deixa eu te ajudar. - me aproximo e encaixo seu brinco. - deixa eu colocar o outro... pronto.
- Ah meu anjo, muito obrigada. Avisa Yasmine que já fui. - puxa a barra de sua saia para baixo. Como um raio, ela passa pela porta, a fechando.
Caminho pela casa, e percebo que meu pai não está aqui. Já deve ter ido para o trabalho.
- Ai meu cabelo! - suspiro ao ouvir um grito de Yasmine vir lá de cima.
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You are mine - Eli Moskowitz Onde histórias criam vida. Descubra agora