Shinkirō - KakaHina

Vinte e Quatro

Lembranças são como fotos guardadas separadamente dentro de uma pequena e bonita caixa enfeitada, separadas por boas e ruins, talvez até guardadas dentro de outras caixas com grandes trancas reforçadas. Tudo o que acessamos ou vemos, são imagens que a caixa superior deixa à mostra e às vezes temos que vasculhar, revirar para conseguir encontrar aquela caixa que nos forçamos a esconder.

Desde pequeno aprendeu a lidar com suas lembranças seriamente, uma infância dura e um crescimento doloroso. Sua mente estava preparada para que conseguisse lidar com emoções difíceis e as dores que elas poderiam lhe causar. Não era novidade para ele que estivesse perdido no meio daquela grande caixa, numa busca que talvez pudesse ser em vão. A superfície continha apenas as marcas e as dores que mais lhe fizeram mal, ou que o marcaram com tanto afinco. Sendo boas ou ruins, estavam gravadas na parte superior antes que a abrisse.

Deitado na cama grande que começou a ter depois que seu pai se foi, não ousou abrir os olhos já sabia muito bem o que havia acontecido. E, mesmo que não se lembrasse do que aconteceu, sabia que todas as lembranças que sua cabeça teimava em esconder, estavam trancadas no fundo da caixa superior.

Kakashi aumentou o aperto no corpo quente que estava deitado em seu peito, um suspiro alto e um aconchego, foi o que lhe deu força para tentar buscar algo da noite que passou.

Lembranças que o fizeram mudar e imagens que o fez crescer, aprender e compreender melhor o que o mundo podia lhe dar. As pessoas que amou e as que acabou fazendo mal sem que fosse por querer, todas estavam ali, escondendo a pequena caixa que tinha a maior dor. Com um suspiro longo demais, puxou a pequena caixa preta que mantinha extremamente fechada, seus músculos se tensionaram com a antecipação. Havia muita coisa ali que não queria ver novamente.

Pelo bem da missão. — Obrigou a si mesmo a encaixar a chave naquela fechadura grossa e pesada. Por ela... — Não precisou forçar, até mesmo sua mente já sabia o que seu coração começara a sentir. Uma paixão louca e desenfreada pela mulher que jamais pensou em ter nos braços, podia ser apenas uma ironia, contudo, era a mais pura verdade. Hinata havia roubado seu coração e de um jeito completamente anormal, talvez fosse um grande e sacana tapa do destino, mas o levaria quantas vezes fosse necessário para continuar sentindo esse calor em seu peito todos os dias.

Com a vida completa, — pelo menos pensava que era. Vivia apenas pelo bem do lugar que sempre amou, mesmo quando se isolou, foram as pessoas deste mesmo lugar que o fizeram voltar a si novamente. Era simples, vivia em prol da vila que amava e a levaria para a paz aceitando seu futuro cargo. Era um tolo.

Não sabia que a vida podia lhe dar mais do que tinha e jamais imaginou que seria assim, uma aluna, alguns consideráveis anos mais nova e que o fazia ficar de joelhos com apenas um doce rubor. Tinha perdido o coração para ela e enfrentaria até a dor que voltou a guardar na caixa depois que Pain o matou.

Kakashi puxou a tranca e as imagens pularam para fora, com vida própria, pareciam atacar as pequenas e boas lembranças que havia gravado na tampa da caixa maior. Tomou outro gole profundo de ar e virou a caixa derrubando todo o conteúdo para fora.

Era difícil ignorar as acusações que elas faziam, talvez jamais devesse abrir aquela coisa e acabou cometendo o maior erro de sua vida. Outro suspiro longo e se forçou a virar para cima as imagens que tomavam o fundo da caixa.

Pessoas amarradas e jogadas em um canto, vozes de desespero e gritos altos e dolorosos. Medo em diversos tons de olhos e aquele sibilo que se lembrava vagamente de ter ouvido antes que perdesse a consciência nas diversas vezes que aconteceu. Rostos diferentes e alguns terrivelmente conhecidos, não sabia como tinha aquelas memórias guardadas, mas sabia que pertencia a ele. A lembrança do cheiro de sangue, a dor de um líquido viscoso sendo injetado em seu corpo. Um homem preso por correntes no canto de seu quarto.