Capitulo 37 | Quem te causa mais dor?

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A L Y S S A

Psiquiatra. Eu estou passando com um psiquiatra, tomei a decisão mais importante da minha vida em parar de fugir, não aguentava mais ser corroída por meus problemas e ter que lidar com eles sozinha, ainda mais depois de ter levado um esporro da minha única forma de escape: Jack Wilder. Ele odeia escutar meus problemas, eu estava o sobrecarregando e nunca percebi isto! Mas logo que sai da casa dele aquele dia, fui andando até uma farmácia qualquer, liguei para a irmã dele e perguntei qual era o remédio que ele estava precisando. Quando ela me passou o nome do remédio, comprei e paguei um motoboy para que fosse até a casa dele entregar. Ele não me mandou nenhuma mensagem a respeito, mas eu fiz questão de escrever um pequeno bilhete e colar na caixinha do remédio antes de entregar ao motoboy. Eu tenho certeza que o cara riu da minha cara, porque ele com toda certeza leu o bilhete antes de entregá-lo ao Jack. No bilhete estava escrito "Eu sou uma tola, Jack. Nunca lidei com esse tipo de problema antes, nunca consegui sequer resolver os meus, então eu peço desculpa se não consigo fazê-lo esquecer dos teus! Espero que você me perdoe pela minha falta de jeito, nunca fui muito boa em ajudar as pessoas. Amanhã podemos conversar na escola? Eu prometo não agir como uma criança dessa vez, hoje eu estava um pouco mexida com meus problemas e nem me dei conta de que você também estava sendo corroído pelos seus. Me perdoa?"

Mas adivinhem? Ele não me respondeu, não mandou uma mensagem ou sequer foi para o colégio no dia seguinte, ele me ignorou completamente. Até hoje estamos sem nos falar, já faz uma semana desde que eu não o vejo, porque quando eu estou na escola, ele não está. E quando eu não estou na escola, fico sabendo através da Louise que, sim, ele está. Fico frustrada com nossos desencontros, mas espero que esteja realmente tudo bem com ele, eu não tive intenção alguma em magoá-lo aquele dia, pelo contrário! Jack é a primeira pessoa a quem eu confio todos os meus segredos e inseguranças, até hoje nem minha mãe sabe que eu gosto de pintar, ninguém na minha casa sabe! Minha psiquiatra tem utilizado desse dom para o meu tratamento, ela me pede para desenhar o que eu estou sentindo sempre no início de uma consulta, e o desenho que fiz hoje assustou até a mim. Eu me assustei quando percebi o rumo que o desenho estava tomando, mas era como se minha mão não estivesse no controle, apenas meus pensamentos conturbadas e minha alma destruída. A psiquiatra não disse muitas palavras, mas olhou-me no fundo dos olhos e disse que agora eu poderia começar a descrever o que de verdade aquele desenho significava na minha vida. E quando comecei a descrever, doeu. Eu me destruí emocionalmente, comecei a chorar e todo meu corpo parecia ter sido espancado por um leão.

- O que você sente em relação aos desenhos, Alyssa?

- Dor.

- E como é está dor? É a mesma que te levou a machucar a si própria hoje de manhã?

Eu já ia me esquecendo desta parte. Tive algo que me deixou atordoada, eu mais uma vez escutei vozes, mas as vozes desta vez eram as do Jack. Eu não podia escutar o que ele dizia, mas via imagens e seu rosto demonstrava decepção, ele estava decepcionado comigo, estava querendo se afastar completamente de mim e eu... eu... ah, eu simplesmente entrei em estado de pane e comecei a arranhar todo meu corpo, desde o rosto que até agora está marcado com sangue pisado, até os braços que ardem como se eu tivesse passado um pedaço de lâmina por eles. Eu não me lembro de como aconteceu, mas me lembro de quando meu irmão entrou no quarto e me abraçou por trás, segurando meus braços para que eu não fizesse mais nada. Ele era o único em casa, então passou mais de meia hora comigo no chão, abraçado comigo, segurando meus pulsos enquanto eu simplesmente desabava em lágrimas desesperadas. Eu nunca me senti daquela forma, nunca. Nem quando eu escuto a voz da Martina eu fico desesperada daquele jeito, mas foi dolorido vislumbrar a expressão de descaso com que Jack me olhava nos meus pensamentos.

Azul da Cor do CéuOnde histórias criam vida. Descubra agora