três

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Seus cabelos castanhos e roxos, trançados de cada lado e sua roupa inteira em tons de azul, verde e roxo sobre toda a estampa, eram inconfundíveis. A garota, cujo nome eu ainda não sei, percebe a minha presença e acena animada, vindo na minha direção, atrapalhada por estar cheia de sacolas de uma loja de roupa que eu passei hoje mais cedo.

— Eu percebi que fui extremamente mal-educada e não perguntei o seu nome!— ela exclamou assim que chegou na minha frente, ajeitando as sacolas nas suas mãos e braços — O meu é Marjorie, mas só minha vó me chama assim. Todos me chamam de Jo. Qual é seu nome?

Dou uma leve risada com a garota antes de responder.

— Atlas.

— Meu Deus, que nome legal! — diz, surpresa — Queria que meu nome fosse assim também, mas não, escolheram um nome formal e sem graça para mim.

— Eu gostei do seu nome— digo, sincera.

— É, eu reclamo mas aprendi a lidar com ele.

Damos risada. Jo me convida para almoçar com ela no "melhor restaurante dessa cidade. Não! Do País! Do Planeta Terra!", como a mesma intitulou e prometeu fazer surpresa. Segui ela por três quarteirões cheios de movimentação, conversa, risadas e uma Atlas muito encantada com a minha experiência na cidade até agora. Chegamos em poucos minutos num pequeno lugar com paredes de tijolos brancos, cheio de plantas e pôsteres e bandeiras pendurados. Sua fachada possuía o nome "Doug's" e descobri ser um restaurante de massas. Já gostei muito daqui.

Entramos animadas no lugar, passando pela porta e ouvindo o sininho que anuncia clientes tocar e nos direcionando para a mesa perto da janela. Jo disse que é a que ela mais gosta. Um garoto loiro com o cabelo preso em um coque, que eu acredito ser o garçom, se aproxima da nossa mesa.

— Chris! — Jo exclama, levantando os braços e o garoto sorri, dizendo o nome dela também.

Eles engatam numa conversa e eu me sinto um pouco constrangida por estar meio por fora, o que logo passa, já que a garota na minha frente me introduz.

— Chris, essa é a Atlas. Acabou de se mudar para o meu prédio!— O garoto me cumprimenta e logo depois pergunta os nossos pedidos— Vou querer o de sempre!

Os dois olham para mim, esperando que eu diga o que eu quero.

— Quero uma surpresa— digo e ele ri, concordando.

— Ousada, gostei — Jo fala e todos nós rimos.

Chris vai em direção à cozinha e conversa com uma garota de cabelos rosa pastel cacheados. Outro garoto aparece ao lado dela. Acredito que os dois trabalhem na cozinha. Eles se animam na conversa e vêm até nós, chamando por Jo. Eles se cumprimentam, felizes e sou apresentada de novo. Doug e Cecile são os nomes deles, os dois são namorados e Doug é o dono do lugar. Este e Jo são amigos de infância e daí que se conheceram e mais tarde conheceram Chris e Cecile, que são irmãos, e então todos são um grupo que parece ser tão próximo e animado. Eu amei a energia deles. Depois que todos eles voltam ao trabalho, eu e Jo começamos a conversar. Ela me perguntou se eu já morava em Nova York e eu explico brevemente a minha trajetória antes de chegar aonde estou. Questiona também o motivo da minha mudança e eu respondo ser sobre a minha faculdade — que faz a garota ficar maravilhada — e que decidi não morar nos dormitórios da faculdade pois meu sonho era ter meu apartamento.

Descubro que Marjorie tem 20 anos, estuda na NYU e sonha em ser atriz. Nasceu e morou em São Francisco apenas com sua mãe, que sempre apoiou sua decisão sobre as artes cênicas. Percebo que Jo possui um carinho e uma saudades enorme da sua mãe e que visita a mesma sempre que pode e que nunca deixa de passar um feriado com ela. A morena conta milhões de histórias sobre São Francisco até que nossas comidas chegam. Fico extremamente animada quando vejo que acertaram em cheio o meu gosto na surpresa. Macarrão com frutos do mar e molho de quatro queijos. Saboreio o meu prato e concordo com Jo sobre ser o melhor restaurante do planeta e ela responde com "Eu avisei", toda convencida. Depois de terminarmos nossa comida e nos despedirmos dos amigos de Marjorie, saímos do local e passeamos pela cidade o dia inteiro até chegarmos em casa no começo da noite.

Me despeço dela e entro em casa, tirando meu tênis que já me cansava e me jogo no sofá, tomando coragem para tomar banho. Após alguns minutos encarando o teto, bufo e me levanto indo em direção ao chuveiro. Depois de terminar, coloco meu pijama mais confortável e quentinho, já que a noite estava fria e me dirijo à sacada, com meus fones de ouvido no volume mais alto ao som da playlist do meu pai, das suas músicas favoritas dos anos 80, que a gente sempre escutava em viagem de carros. Hoje bateu uma saudades deles. Me sento na poltrona, abraçando meus joelhos e olhando pro alto, sentindo o vento bater na minha cara, tudo isso com uma ótima trilha sonora. Uma das coisas que eu me irritam de cidades grandes é a poluição e que com isso eu não posso ver plenamente o céu e as constelações.

Um pouco frustrada com isso, passo a olhar para frente, logo me deparando com o meu vizinho de frente, o garoto que eu conversei por escrito alguns dias atrás, e que me despertou uma estranha curiosidade desde então. Ele estava com uma câmera, mexendo na mesma com uma feição de descontentamento e apontando ela para lugares aleatórios do seu quarto. Dou uma leve risada sozinha ao ver a cena. Até que ele para, bufa e se senta na escrivaninha, que fica de frente para o vidro e consequentemente, para mim. Coloca a máquina da mesa e deita sobre a escrivaninha, com o queixo apoiado na mesma, e então percebe que eu estava lá. Ele se levanta rapidamente, se ajeitando e acenando para mim e eu faço o mesmo. O menino começa a escrever e fico feliz de ele querer puxar assunto. Logo levanta seu olhar e mostra o que havia escrito.


" O QUE ESTÁ ESCUTANDO?"


Vou rapidamente até a minha escrivaninha e pego meu caderno e minha caneta. Volto e agradeço por ele ainda estar lá esperando pela minha resposta, que após escrever, mostro.

" MODERN LOVE DO BOWIE"

Vejo ele arregalar os olhos e levantar a sobrancelha como se tivesse aprovado o que acabei de falar.

"BOM GOSTO MUSICAL"

Sorrio e volto a escrever.

"O QUE ESTAVA FAZENDO COM AQUELA CÂMERA?"

A resposta dele foi:

"TENTANDO VER O QUE DEU DE ERRADO COM ELA. TENHO UM TRABALHO DA FACULDADE PRA TERMINAR"

Dou um leve e sorriso e depois mordo levemente meu lábio pela curiosidade, enquanto escrevo.

"ESTUDA O QUE?"

Percebo que ele sorri enquanto escreve a resposta e eu acho fofo.

"CINEMA :)"

Abro minha boca em surpresa. Ele volta a escrever rapidamente e depois me mostra.

"VC FAZ FACULDADE?"

E então é a minha vez de sorrir enquanto responde.

"SIM, ASTRONOMIA. COMEÇO SEMANA QUE VEM!"

Ele se surpreende como eu ao saber o que ele cursava.

"CARALHO! TENHO UMA VIZINHA CIENTISTA!"

Nós dois caímos na risada.

" BEM Q VC PODIA PASSAR O SEU NÚMERO PRA GENTE CONVERSAR MELHOR NÉ?"

Foi o que ele mostrou. Abusado!

"EU NEM AO MENOS SEI O SEU NOME!"

Ele riu enquanto escrevia minha resposta.

"ISSO EU POSSO RESOLVER. SOU O TIMOTHÉE. E VC PODERIA ME FALAR O SEU NOME EM UMA LIGAÇÃO, NÃO É?"

Solta um sorriso enquanto eu leio, e eu caio na risada. Mostro a plaquinha com o meu número e ele anota, feliz. Logo vejo ele pegando seu celular num ato quase que desesperado e levando ao ouvido. Após alguns milésimos de segundos, meu celular brilha, mostrando "Desconhecido" na tela e as opções de aceitar ou recusar a ligação. Eu aceito.

— Oi, Timothée, eu sou a Atlas.

moonlight ; timothée chalametOnde histórias criam vida. Descubra agora