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Eu estava tentando me concentrar na lição de Estatística que era para amanhã, mas Alex mexia incessantemente em suas canetas e estava me desconcentrando. Hoje não era o meu dia, minha cabeça estava prestes a explodir e ver o garoto derrubando suas canetas toda hora para conseguir montar uma "espada super legal de canetas" estava piorando tudo.

— Atlas, olha! — tiro a minha atenção do enunciado que eu estava lendo pela centésima vez e movo para o loiro, que mostrava umas dez canetas juntas pela tampa, mas durou pouco tempo, pois a mesma caiu no chão— Não olha.

Começo a gargalhar com a cara de decepção de Alex ao ver suas canetas no chão, depois de todo o esforço que ele botou para fazer sua espada super legal de canetas.

— Ei, não tem graça, meu trabalho acabou de ser destruído— diz sem olhar para mim, agachado e recolhendo os materiais — Agora minha espada super legal de canetas está apenas em minha memória...— diz, dramático.

— Você monta outra em menos de um minuto — rimos  — Você por um acaso fez a lição?

Ele joga seu tronco na mesa, bufando mais uma vez.

— Essa aula é muito chata! Não aguento mais aquele professor lendo o livro e não ensinando porcaria nenhuma. Ler o livro eu consigo sozinho, poxa.

Concordo com sua revolta, que o deixa mais ainda no espírito revolucionário. Ele começa a gesticular e falar alto que devíamos fazer algo sobre isso, tentar conversar com o professor ou até mesmo com a coordenação. "Não pode ficar assim!", ele repetia e recebia alguns olhares bravos das outras pessoas da biblioteca. Começo a explicar para ele o como isso seria inútil e só serviria para o professor odiá-lo, até que sou interrompida por uma voz familiar.

— É aqui que estão planejando uma revolução? — Finn fala em tom secreto, como se fôssemos uma espécie de espiões.

— É aqui mesmo, mas não podemos falar muito mais pois acho que a Atlas está trabalhando para o inimigo — Alex diz, sussurrando também.

— Eu só disse que reclamar de um professor vai trazer mais mal do que bem— cruzo meus braços, vendo a cara de reprovação dos meus dois amigos.

— Se isso fosse uma revolução de verdade você seria péssima— Alex fala e depois revira os olhos.

Convidamos Finn para sentar, que aceita e diz que chamaria Grace também. O garoto se senta ao meu lado e mais uma vez eu agradeço por termos conversado e resolvido tudo aquele dia, e agora está tudo normal, nunca mais ficou aquele clima chato e eu agradeço fortemente pois eu não queria perder a amizade. Ele coincidentemente estava fazendo a mesma lição que eu — e que Alex também deveria— então acabamos nos ajudando. Eu gosto como o Finn se preocupa tanto com os outros. Enquanto fazíamos os exercícios, ele sempre me perguntava se eu estava conseguindo fazer ou se estava tendo dificuldades em alguma matéria e se ele podia me ajudar. Toda vez que ele fazia algo assim Alex me olhava malicioso mas eu apenas ignorava, segurando o riso.

— Por que tem tantas canetas na mesa? — Grace chama atenção de todos nós ao se sentar.

— Alex estava brincando com elas — começo a gargalhar lembrando da cena de todas elas desmoronando — E derrubou tudo!

Os dois começam a gargalhar junto e Alex explica como tinha montado elas e narra dramaticamente sua queda. O que só me fez rir mais ainda.

Continuamos estudando — na verdade eu e Finn continuamos, já que Alex e Grace estavam mexendo no celular — até o bibliotecário avisar que iam fechar. Arrumamos nossas coisas então e saímos do campus.

— Hoje é sexta-feira à noite, vamos fazer alguma coisa? — Grace pergunta, pegando seu celular do bolso.

— O que você sugere? — pergunto.

A garota começa a digitar freneticamente no celular até soltar um "Rá!" e voltar a olhar para todos nós.

— Festa na casa da Jaz, tá acontecendo agora. Vamos? — ela pergunta, animada e aceitamos.

[...]

Bom dia — digo entre bocejos, para Alex, que estava deitado no sofá mexendo no celular.

— Boa tarde, né? Nós dormimos muito, já é mais de duas horas— ele me responde enquanto eu arranjo um lugar para me sentar no meio dos cobertores.

Estranho o motivo de termos acordado tão tarde se nem ficamos tanto na festa ontem, logo voltamos e Alex dormiu aqui em casa. Acho que estamos cansados da semana que tivemos na faculdade, cheia de provas e trabalhos.

— Vou fazer um café. Você toma? — me levanto em direção a cozinha e o vejo me acompanhando, enquanto assente.

Pego a cafeteira e começo a preparar, enquanto Alex senta na bancada.

— Onde a Grace nos meteu ontem, hein? — ele pergunta e eu começo a rir.

— Vou fazer uma nota mental para não confiar nos lugares que ela arruma para a gente ir — respondo enquanto me sento, esperando o café ficar pronto — Só tinha música chata, gente desconhecida e bebida quente — reclamo me lembrando de nós dois saindo nem meia noite da festa.

— Mas você conseguiu aproveitar bem, né? — me da um empurrãozinho — O Finn que o diga... Vocês dois não se largavam.

Levanto rapidamente, indo checar o café. Tentativa falha de mudar de assunto, já que isso apenas fez o garoto à minha frente insistir mais ainda nesse papo.

— Qual é, Atlas? Você sempre troca de tópico quando estamos falando do Finn — continuo observando o café sendo preparado, sem falar nada — Você beijou o menino ontem a noite inteira e agora não quer falar sobre isso?

Sim.

— Olha, eu acho ele um fofo e é legal ficar com ele, mas é só isso. Não quero ficar alimentando algo que eu sei que não vai para frente — respondo, colocando a bebida nas xícaras.

— E por que não iria para frente? — pergunta, confuso e eu suspiro.

— Porque eu não quero — vejo o olho de Alex arregalar — Ele é muito legal mas eu não vejo ele como um namorado. Pelo menos para mim. Para os outros ele deve ser um ótimo parceiro, mas para mim, não sei. Não vejo ele desse jeito — tento ser o mais sincera possível — E não acho que ele me veja assim também — falo entre goles do café quentinho.

Não gosto de me entregar assim tão fácil para qualquer um. Não gosto de ficar criando fantasias na minha cabeça e estar sempre nas nuvens pensando em alguma pessoa, quando a realidade é bem mais sem graça. Eu me conheço, então sei que ficar falando e falando disso, só me deixaria aflita sobre Finn e estragaria o que a gente tem, que é tão leve e legal.

— Entendi — Alex responde, mas não tenho certeza se ele realmente tinha entendido — Acho que quando é para ser alguma coisa a gente sente algo, né?

— Eu espero que sim. Nunca senti isso por ninguém, acho — digo, me lembrando que nem pelo meu ex-namorado eu senti que era algo "destinado".

— Nem eu.


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att dupla hj pra recompensar esse tempo todo que eu fiquei fora!

moonlight ; timothée chalametOnde histórias criam vida. Descubra agora