oito

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Eu sou mais introvertida, isso é um fato. Mas envergonhada ou tímida nunca foram adjetivos que me descreviam. Eu lembro de estar no parquinho da pré-escola e gostar de brincar na caixa de areia e construir castelinhos sozinha e ficava irritada quando ficavam insistindo para eu brincar com os outros colegas. Quando eu fui ficando maior percebi que eu não me importava tanto de passar a maioria dos finais de semana dentro do meu quarto fazendo qualquer coisa que me tirasse do tédio. Na verdade eu até preferia. E ao mesmo tempo eu gostava de sair com minhas amigas também.

Porém, algo que me traumatizou um pouco durante a época da escola foi as apresentações. Principalmente na pré-adolescência, eu ficava extremamente nervosa quando tinha que ficar na frente da sala inteira, falar um texto decorado e tudo isso com o julgamento do professor que ia me dar nota e também da sala inteira. Hoje em dia eu superei isso. Não paralisava mais e conseguia passar a minha manhã antes da apresentação sem um ataque de nervos.

Então pode se imaginar a minha surpresa quando eu batia meu pé freneticamente no chão de nervosismo enquanto estava sentada do lado de Finn, esperando o grupo 2 terminar, pois nós éramos os próximos. Nota mental para a futura Atlas: nunca beijar alguém do grupo do seu trabalho.

Não trocamos uma palavra, apenas olhávamos para frente como se a apresentação fosse a coisa mais interessante do mundo. Nesse tempo eu ignorava as mensagens que Alex mandava rindo da cara de nós dois.

Nossa vez chega e eu e ele levantamos ao mesmo tempo. Nos direcionamos ao palco, ajeitando os papeis que indicavam o que iríamos falar. Alex e Grace cuidam de escrever na lousa algumas coisas essenciais, já que não poderíamos usar slides. Sem querer, trombo com Finn enquanto estou distraída organizando tudo, o que rende milhões de desculpas desconfortáveis de ambas as partes. Limpo minha garganta e faço uma cara mais séria, eu que sou encarregada de começar.

— Eu acho que não é novidade nenhuma que tudo hoje em dia é muito rápido. A gente acha qualquer coisa em questão de milissegundos. Ás vezes parar pra respirar é preciso. Ás vezes tentar resolver algo
sem a facilidade que a gente tem desde que a gente nasceu, é preciso também. Por isso hoje, a nossa pesquisa, foi feita pensando nisso. É o que a gente quer mostrar para todos vocês.

[...]

B+! — Alex disse assim que Sr. Wheeler nos deu a nota.

Comemoramos enquanto nos dirigíamos para o pátio, pegar alguma coisa para comer. Grace repetia como a gente falou bem e que o nosso trabalho foi o melhor. Nos sentamos em uma mesa e após alguns minutos, Alex chama Grace para ajudar ele a pegar os refrigerantes que ele prometeu ser por conta dele, para todos nós. Restando apenas eu e Finn na mesa. Eu tenho certeza absoluta que Alex fez de propósito. E depois de alguns minutos de completo silêncio enquanto nós dois olhávamos desesperadamente para nossos celulares, ouço a voz dele.

— Está tudo bem entre a gente, né?

— Sim, sim! Tudo certo, né? — eu respondo e meio que pergunto ao mesmo tempo.

— Ótimo, tudo ótimo.

— Perfeito.

Silêncio de novo.

— Não quero estragar amizade, a gente podia deixar isso como algo casual, sabe? — ele pergunta e eu concordo.

Ele falou exatamente o que eu pensava.

— Sem toda essa pressão, né? — Eu complemento e ele faz que sim com a cabeça.

Conversamos um pouco mais sobre isso e percebi que Finn tem um pensamento muito parecido com o meu. O que me aliviou demais e até mesmo fez com que meu interesse pelo garoto aumentasse um pouco mais. Logo nossos amigos chegam na mesa com os refrigerantes, contando sobre alguém que estava na fila e assim Finn e eu acabamos com o assunto.

Foi melhor do que eu esperava.

[...]

Jo me falava sobre seu final de semana, o qual sua mãe e aniversariante veio visitá-la para comemorar. Me contou os restaurantes e os lugares que elas foram, tudo do jeito mais Jo possível, ou seja, cheia de gestos e pulos e tudo o que complementasse sua história. Eu soltava um risinho cada vez que a garota repetia "e então...", para contar uma nova parte do seu dia.

Ela se ajeita no sofá e puxa uma almofada pro seu colo assim que termina seu relato com "já estou com saudades da minha mãe". Elas tem uma relação que além de eu achar a coisa mais linda; eu talvez inveje um pouco. Não é como se eu tivesse uma péssima relação com a minha mãe, mas não é nada comparado com a das duas. Eu sinto falta dessas demonstrações de carinho tão presentes entre elas.

— E que filme vamos ver? — ela pergunta, enquanto eu passo pelo catálogo no meu computador.

— Eu estava esperando você me sugerir um, Marjorie— damos risada.

— Credo, você e minha vó insistem em me chamar assim — rio com sua resposta — Só por isso eu vou escolher o filme e não vou aceitar nenhuma reclamação sua, Atlas — diz pegando o computador da minha mão — Não tem graça com o seu nome.

— Eu sei que meu nome é maravilhoso — respondo da forma mais prepotente possível e ela me da um leve empurrão, rindo.

Jo passa pelos filmes procurando o que ela estava em mente, fazendo o maior mistério, quando tomamos um susto com o toque do meu celular, indicando que alguém estava me ligando. Vejo o nome "Timothée" na tela e dou um discreto sorriso involuntário, que desfaço assim que percebo o que eu fiz. Deslizo meu dedo na tela e atendo.

Vá para sua janela! — ele exclamou, animado, e eu levanto rápido confusa, gerando os olhares mais expressivos de Jo.

Assim que abro a porta de vidro e me direciono até o balcão da pequena sacada, ficando o mais perto que eu podia da janela do garoto, vejo um papel escrito " O CURTA ESTÁ PRONTO!" e ele segurando tanto a folha, quanto o seu computador, pausado bem na cena que ele filmou de mim.

— Eu quero ver! — exclamo, tão animada quanto a feição de Timothée — Vem aqui agora, eu quero ver como eu fiquei agora que vou ficar famosa!

Ele desliga o telefone e corre com o computador na mão até sumir de vista. Dou risada com sua pressa e volto para a sala, onde Jo me olhava com a sobrancelha arqueada. Explico para ela a situação e logo ouço a campainha tocar. Vou correndo, mais animada do que talvez eu deveria, atender a porta. Abro a mesma e Timothée entra logo dentro de casa me falando que tinha ficado perfeito e que minha participação foi crucial. Eu dou uma risada tímida.

A gente se junta, sentados no meu tapete, olhando ao computador na mesinha de centro, onde o garoto da play. Ele explica que a professora passou um áudio e eles tinham que fazer o curta com essa dublagem, só adicionar as cenas, do jeito que achassem melhor. Eu amei a ideia e estava ansiosa para ver em que parte eu estava encaixada.

moonlight ; timothée chalametOnde histórias criam vida. Descubra agora