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No meu tempo em Nova York eu criei alguns hábitos. Passar na loja de doces da esquina e provar sabores de chicletes diferentes a cada dia, era um deles. Fazer ioga no parque perto de casa logo depois do almoço era outro. Tomar café da manhã com Jo, que faz as melhores panquecas de chocolate do mundo inteiro — sem exagero! — era, com certeza, um dos meus preferidos.

Eles aconteciam normalmente de finais de semana, pois entre segunda e sexta-feira, nossos horários pela manhã não batiam muito. Tudo começou quando a única frigideira que a garota tinha, caiu no chão e o cabo quebrou. Ela me pediu para que eu emprestasse a minha em troca de dividir as panquecas comigo. Obviamente eu aceitei e a partir daí se tornou parte da nossa rotina. E é por isso que hoje, às 10 da manhã de um sábado estou aqui me deliciando com a panqueca de Jo e esperando enquanto ela faz a segunda rodada.

— Foi minha mãe que me ensinou, sabia? — ela fala enquanto joga a panqueca no ar e ela cai perfeitamente na frigideira de novo — Ela fazia para mim quando eu tirava alguma nota boa na escola e nos meus aniversários.

— Nossa, se eu tivesse essa motivação para ir bem na escola, eu iria ser a primeira aluna da classe — respondi e ela riu.

— Você fala isso porque nunca experimentou os waffles do Joe. Ele tem uma padaria e é maravilhosa! — responde, animada.

— Agora você me deixou com vontade de ir...— falo, dramática.

— Nós sempre vamos quando saímos e voltamos tarde e com fome— coloca as panquecas no prato — Aliás, você nunca saiu com a gente, né?

— Eu não saí nenhum dia à noite aqui em Nova York — revelo e Jo abre a boca, surpresa — Fui a uma ou duas festas, no máximo. Mas nem fiquei até tarde.

— Você está brincando? — eu chacoalho a cabeça, em negação — Vamos sair hoje, então! Vou ligar para o Chris, Doug e a Cecile e vamos te mostrar como saímos aqui!— bate palmas animada, depois de se sentar na bancada da minha cozinha— Você pode convidar o Alex e aquele seu vizinho bonitinho também — dá uma piscadela e eu dou risada.

Dou uma última garfada na comida do meu prato e depois a respondo.

— O Timothée? — pergunto, apontando para a janela em direção ao seu apartamento e ela concorda, elétrica — Posso convidar ele sim, mas se você estiver interessada, acho que ele está de rolo com alguém...

Ela revira os olhos.

— Não era para mim, era para você! — arregalo os olhos — Estou desacreditada com isso, achei vocês aquele dia tão fofos. Atlas, ele colocou você no filme dele! E eu vi a cara dele enquanto te mostrava, tá? Era tão de apaixonado...— imitou a feição dele e eu caio na risada.

— Você viu coisas, então, Jo — pego outra panqueca e coloco bastante mel — Outro dia mesmo eu vi ele saindo do prédio dele agarrado com uma menina— digo, lembrando daquela cena com a mesma menina que eu o tinha visto outro dia quando a encontramos na padaria logo depois de ele me filmar para o curta.

Jo apenas bufa e continua comendo. Até que ela levanta a cabeça, como se tivesse tido uma ideia brilhante.

— Eu tive uma ideia brilhante! — fala com a boca cheia.

Eu disse.

— Vou descobrir se ele está mesmo com essa menina ou não. Hoje mesmo que a gente vai sair! E se ele não estiver, vou juntar vocês dois — sorri, orgulhosa de seu "plano".

É minha vez de bufar. Além de eu realmente achar que ele não está mais solteiro, eu tinha bem claro na minha mente que não queria me envolver com o meu vizinho, por mais que eu o ache extremamente lindo e simpático, seria uma baita dor de cabeça. E eu sei que realmente é, meu último e único namorado era meu vizinho e depois que terminamos foi um terror. Tive sorte que logo fiz minha viagem e depois vim para cá. Mas agora meus planos eram ficar aqui em Nova York, e mudar de apartamento não é uma opção, pois eu não tenho todo esse dinheiro. Então não tinha como eu fugir.

Jo poderia tentar o quanto quiser, mas eu não ficaria com o Timothée. Explico isso para ela que apenas concorda com um sorriso estranho no rosto. Não acredito que ela vá deixar isso de lado.

Ela conta algumas das histórias das noites em que ela e os amigos saíram e eu fico mais animada ainda. Confesso que eu estou precisando sair e aproveitar como Jo estava dizendo.

Após terminarmos de comer ela diz que precisa voltar para casa para terminar um trabalho da faculdade e promete que me mandará mensagens avisando o local e o horário. Nos despedimos e vou em direção à minha sacada, querendo convidar Timothée para hoje à noite. Para minha sorte o garoto estava no seu quarto, andando para lá e para cá com umas folhas na mão e falando sozinho. Mando uma mensagem para ele e o vejo pegar o celular do bolso e ler, e em alguns segundos ele estava olhando para a janela e acenando, feliz. Resolvo ligar para o mesmo, que logo atende.

Oi, Atlas! Você sumiu esses dias — ele diz.

— Pois é... To cheia de coisa da faculdade.

Nem me fale, tô tendo que decorar esse texto aqui para um trabalho porque meu amigo furou comigo— me responde, nervoso — Não sirvo para ser ator, meu Deus.

Dou risada com seu último comentário.

— Olha, te liguei para te convidar para sair comigo, com a Jo e alguns amigos dela. Topa? — vejo sua animação pela janela e sorrio.

— Topo! Para onde?

— Não faço ideia — dou uma risada e ele também — Quando Jo me mandar as informações eu te mando.

Ele assente.

— Posso levar uma... amiga minha? — ele pergunta e eu confesso que fiquei meio decepcionada com sua pergunta, já pensando que seria aquela mesma garota.

Tiro isso da minha cabeça quando lembro que não ia fazer diferença alguma, afinal eu não quero nada com ele.

— Claro que pode! Quanto mais melhor, não é? — respondo e ele assente, risonho.

— Ok, obrigada pelo convite, Atlas! Agora eu preciso ir.

— Imagina, boa sorte com o seu trabalho— digo e então nos despedimos.

Volto logo para dentro do meu apartamento, mando o convite para Alex e logo depois, mando uma mensagem para Marjorie.

atlas:
seu plano acabou, jo. timothée pediu para convidar uma "amiga"

jo:
NÃO ACREDITO!

jo:
e você deixou???

atlas:
óbvio que sim, não sou mal-educada e não pretendo ficar com ele!

jo:
aff

jo:
sou um péssimo cupido

jo:
mas relaxa, terão outras oportunidades....

atlas:
não terão nada

jo:
aham...

jo:
mas enfim, a gente vai se encontrar umas sete da noite, vou te mandar o endereço!

moonlight ; timothée chalametOnde histórias criam vida. Descubra agora