Existem algumas teorias sobre o fim do universo. A maioria é bem apocalíptica e trágica e indicam o fim, simplesmente, de algo tão grande e curioso quanto o Universo. Uma delas é a do "Big Rip", que diz que daqui milhões de anos, o universo que está em constante movimento, se expandiria tanto que nem mesmo os átomos que formam os planetas aguentariam, até que tudo acabasse se desintegrando. Eu sei que tudo isso são hipóteses e que se realmente for verdade, eu nem estarei aqui viva para presenciar, mas não é tudo tão estranho? Quero dizer, pensar que tudo que a gente conhece pode um dia simplesmente parar de existir?Nada sobre o destino do universo é reconfortante, assim como nada sobre o nosso destino é. Posso dizer que essa é a graça de tudo, pois para mim realmente é, mas isso não deixa de ser... Esquisito? Nada que é novo passa despercebido, muito menos deixa de mexer com a gente.
Começo a refletir sobre esse assunto enquanto faço um chá de frutas vermelhas. Tudo isso veio à tona na minha mente por conta de um seminário que estou fazendo para a faculdade, que consistia em escolher uma das teorias sobre a destruição do Universo, explicar e dissertar sobre. Eu estava bem animada e fazendo inúmeras pesquisas até que tudo se transformou em análise na minha mente. Era uma das coisas que eu amava sobre física. Ela deixa tudo de importante para fugaz num piscar de olhos. Nossa existência é extremamente complexa mas ao mesmo tempo completamente frágil em relação a todos os sistemas, buracos negros, estrelas e asteróides, a ponto de poder ser destruída a qualquer momento.
Volto a minha mesa onde meu computador e caderno estavam abertos. Me sento e tento me concentrar apenas em terminar o seminário, não em me fazer ter uma crise existencial. Consigo escrever mais algumas poucas linhas até que tomo um susto com o toque do meu celular. O procuro no meio da bagunça que meu apartamento estava, achando o mesmo debaixo das almofadas do sofá. Pego e vejo o nome "Elio" na tela, logo atendendo a ligação de vídeo.
— Atlas! — meu irmão exclama assim que minha cara aparece na tela — Finalmente você não está ocupada — bufou e eu dei risada.
— Dramático como sempre, não é, Elio? — ele revira os olhos com meu comentário.
Vou até a mesinha de centro, apoiando o celular e me sentando no tapete de pernas cruzadas.
— Estou com saudades de você — ele diz, apoiando o celular em algum lugar também, que eu imagino ser a mesa da cozinha.
— Estamos! Estamos com saudade, todos nós! — escuto minha mãe o corrigindo de longe e dou risada.
Olho para o relógio e vejo que já são quase sete horas da noite, hora do jantar na minha casa.
— Eu também estou morrendo de saudades de vocês! — digo — E também da comida! Tenho certeza que estão fazendo o jantar agora, né?
Elio vira a câmera traseira de seu celular, mostrando minha mãe com uma tábua cheia de cebolas picadas na sua frente, acenando para mim, e meu pai completamente distraído com alguma coisa no fogão. Ele é sempre assim quando cozinha, entra no seu próprio mundinho.
— O papai nem percebeu minha presença— começo a rir — Muito obrigada, viu?! — brinco.
Ele, então, se vira e vem bem perto da câmera, pedindo para me ver, o que faz Elio colocar novamente na câmera frontal e virar o aparelho. Assim que o faz, vejo o maior sorriso no rosto do meu pai.
— Atlas, minha estrela! Quanto tempo não vejo sua carinha — ele fala e eu fico com vontade de chorar.
Eu sempre fui muito grudada com o meu pai, e vê-lo me chamando pelo apelido que eu gosto tanto desde pequena, mas estando tão longe, me dá um aperto no peito.
— Quando vocês vão me visitar? — pergunto — Assim vocês podem fazer a lasanha que amo e eu mostro cada cantinho de Nova York para vocês — digo, sugestiva.
— Eu gostei — minha mãe responde, largando o que estava fazendo para vir até mim.
Ou melhor, para a câmera. Empurra meu pai para conseguir aparecer também na tela.
— Prepare um presente para o seu irmão! — ouço Elio e vejo meu pai dando risada.
— Eu quero um presente também— o mais velho fala e leva um empurrão da minha mãe.
— Pare de ser criança— repreende — Separa o meu presente — pisca para mim.
Eles começam então uma discussão sobre presentes e coisas infantis enquanto eu apenas me divertia. Fazia bem para mim quando conversávamos por vídeo, mas nada substituia estar realmente morando com eles. Sinto muita saudades.
— Ei, ei! — exclamo e todos passam a prestar atenção em mim — Vai ter uma surpresa para cada um, ok? — digo e todos respiram aliviados.
— Acho bom! — minha mãe diz — Agora, conte, filha, como está a faculdade?
Me ajeito no meu lugar, sendo tomada de surpresa pela pergunta da minha mãe. Finalmente ela estava perguntando genuinamente sobre a universidade sem julgar a minha escolha? Uau.
— Está muito legal, de verdade — digo, sorrindo como
uma boba, involuntariamente — Estava fazendo agora mesmo um seminário muito interessante e...— Você sabe que não precisa mentir para a gente — me interrompe — Se não estiver gostando, pode falar, não tem problema em desistir.
É. Estava demorando.
— Stela... — meu pai fala, com cuidado, mas ela não escuta.
— O que foi? Só estou falando a verdade. Quantas pessoas você conhece que já terminaram esse curso? Sempre falei que Administração era melhor. Ou até direito. Atlas sempre foi tão boa em argumentar...
Não acredito que estou ouvindo isso. De novo. Era sempre essa conversa que voltava.
— Pois é, mas eu não estou fazendo esses cursos e nem pretendo fazer, mãe — digo, ríspida — Preciso terminar meu seminário, vou desligar.
Deixo eles se despedirem, agora todos envergonhados, e desligo a ligação. Me deito no chão e coloco as mãos na cara, soltando um suspiro alto. Quando esse assunto vai acabar? Poxa, estávamos tendo uma conversa tão tranquila até ela trazer isso de volta! E quando minha mãe iria entender que eu estava fazendo o que eu realmente quero? Mesmo que eu for passar fome, o problema é meu por ter seguido essa carreira e estou ciente de que tenho que lidar com as consequências das minhas ações.
É péssimo tentar estar feliz e esperançosa com o futuro quando sou constantemente desencorajada.
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moonlight ; timothée chalamet
Fanfiction"eu vejo constelações inteirinhas no seu rosto" Atlas é a nova vizinha de janela de Timothée, recém-chegada em Nova York e com uma ansia dentro de si por todas as novidades e mudanças. Ela sempre foi assim, ela nunca esteve fixa em um lugar, em uma...