nove

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Desde pequena eu passava horas deitada no quintal de casa, olhando para o céu. Meu pai sempre foi bem entendido de astrologia então amava explicar tudo para mim e o meu irmão, apontando para todas as constelações de cada signo e dizendo como ele planejou a data que a gente ia nascer por conta do nosso mapa astral, mesmo minha mãe achando a maior bobeira. Eu e Elio crescemos e perdemos um pouco desse hábito com o meu pai, porém eu continuei sempre sendo apaixonada por olhar para o céu. Hoje em dia eu não acredito em astrologia, minhas crenças vêm muito mais da ciência, mas não importa onde eu estiver, eu sempre arranjo um lugarzinho para dissociar de todo mundo, organizar meus pensamentos, ou apenas ficar em paz ouvindo música sem pensar em muita coisa.

Eu acabei nunca mais dividindo esse costuma com ninguém, mas depois que eu me mudei, acabava sempre encontrando Timothée na janela bem na hora que eu também estava lá. A maioria das vezes ele me ligava e ficávamos horas conversando olhando para o céu, até nossos pescoços ficarem cansados de tanto olhar para cima. Hoje foi diferente, depois do garoto mostrar o seu projeto da faculdade — em que eu apareci! — nós dois e Jo nos perdemos no papo e acabamos nem vendo filme. Ela foi embora há um tempo, por estar com sono, então viemos para minha sacada.

— Você sabe de cor qual é qual constelação? — Timothée me perguntou. 

— A olho nu é difícil de identificar, mas eu sei bastante. Meu pai sempre mostrou para mim e o meu irmão. Ele é apaixonado por isso, acho que já deu para perceber. Meu nome vem de constelações.

— Sério?! — ele se anima com minha "revelação", e se levanta do chão onde estávamos deitados, ficando sentado de pernas cruzadas — Sua vida é muito mais emocionante que a minha, olha isso! Meu nome não tem nenhum significado assim, estou com ciúmes.

Começo a gargalhar com sua insatisfação e me sento igual a ele, ficando de frente para o mesmo.

— Eu acho o seu nome perfeito, ele é muito legal de falar. Poderia falar o dia inteiro com meu péssimo sotaque francês. Timothée, Timothée, Timothée. — repito tentando falar com um sotaque perfeito — Agora tudo o que eu falar para você, vai ter o seu nome. Boa noite, Timothée. Como você está, Timothée?

Começamos a gargalhar. Estou com sono e normalmente fico parecendo bêbada.

— Estou bem, Atlas. E você, Atlas? Como está, Atlas? — entrou na brincadeira.

— Estou bem, Timothée — falo risonha e tomo um susto quando a próxima música da playlist é Moonlight da Ariana Grande, então me levanto depressa e animada — Timothée, eu amo essa música, Timothée.

— Atlas, me concede essa dança, Atlas? — ele se levanta e faz uma reverência, estendendo sua mão afim que eu retribuísse seu gesto e eu rio antes de entrar no personagem novamente.

— Mas é claro, Timothée — junto nossas mãos e ele me leva para mais perto dele, colocando uma mão na minha cintura, me dando um pequeno arrepio. A outra mão estava com a minha ainda, guiando a dança, e eu estava com a minha outra em seu ombro direito.

— Não sabia que você gostava de Ariana Grande, Atlas. Pensei que você só escutava a sua playlist de pai.

— Ei! Estou muito ofendida, Timothée! E, sim, eu amo Ariana Grande. Essa aqui é uma das minhas músicas favoritas, Timothée. Então nem venha falar mal, Timothée— eu estava gostando demais de repetir o nome dele milhões de vezes.

— Eu amo Ariana Grande também, Atlas — ele diz como se estivesse me contando o maior segredo, no pé do meu ouvido, e eu novamente me arrepio.

Não queria que isso acontecesse. Não quero me envolver com o meu vizinho e talvez amigo mais próximo aqui de Nova York. E de novo, então, eu ignoro isso.

Mesmo sendo uma sensação tão boa.

Canto a música como se eu estivesse sozinha no banho fazendo o meu show e Timothée me acompanha no refrão.

— Como você está sobrevivendo aqui em Nova York com esse céu poluído? — eu dou risada.

— Nem eu sei. Mas eu acabo gostando tanto desse lugar aqui, que no caso a gente está agora, que já tá sendo suficiente para mim.

Ele me gira durante a nossa dança.

— E você ainda tem um vizinho lindo que sempre aparece, aí que o lugar fica perfeito mesmo — gargalho com sua fala.

— Ele é legalzinho, mas se acha — ele se afasta de mim e cruza os braços, desviando seu olhar e fingindo de bravo — Vamos, Timothée, agora é a melhor parte da música para dançar. He's so bossy, he makes me dance...

Cantarolo enquanto giramos pelo pequeno espaço da minha sacada, gargalhando. O vento estava ficando mais forte e gelado mas eu não estava nem ligando, estava genuinamente aproveitando aquela situação. Pelo pouco que conheço o garoto, já percebi o quanto ele faz eu me divertir com tão pouco, seja nas suas atitudes ou no jeito de falar. E eu adoro isso.

— Eu já te girei um monte de vezes, agora é a minha vez de ser girado — ele diz, movimentando meu braço para que eu fizesse o que ele estava pedindo.

E eu o fiz. Timothée era muito alto e mesmo eu não sendo baixa, tive que ficar na ponta dos pés para ele passar por baixo do meu braço e girar. Damos as mãos um para o outro e giramos juntos, rapidamente, que nem quando somos crianças. Não conseguia parar de rir, nem ele. É estranho eu gostar tanto de dividir meus momentos que antes eram para ser só meus, com ele, mas eu estava tentando aproveitar sem pensar demais nisso.

moonlight ; timothée chalametOnde histórias criam vida. Descubra agora