Trovões e relâmpagos - Capítulo XI

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A única coisa que ouvia naquela noite eram os gritos de dor e sofrimento da pobre mensageira após a sua morte enquanto trovões radiantes caídos do céu ressaltavam no telhado da casa. Gritos esses que não sei se tão cedo irei apagar da minha memória estilhaçada. Alguma vez viram alguém se dissipar e virar cinza?

Desta vez senti remorsos, foi diferente , talvez a minha irmã tenha razão, talvez eu seja um coração mole mesmo. Porém, através das minhas ações trilharei o meu destino e a minha história.

E eu... trilharei a minha história por fogo e impulsos de energia custe o que custar.

Enquanto olhava para o corpo a se desfazer por si mesmo e para o meu banimento, senti uma mão gélida a tocar-me no ombro, uma mão forte, áspera, como que calejada do trabalho duro. O meu batimento cardíaco variou para mais rápido.

Para meu espanto, era o Doc, ao ver que eu tinha ficado estático a olhar para o corpo da banshee, a maldita da mensageira mexeu com o meu ser interior. Talvez não tenha sido justo mas sim cordial, afinal o conselho precisava de mim e do meu grupo, mas acima de tudo eu precisava de banir a mensageira.

Congelei mesmo, sem saber o que se tinha passado ao certo. Fiz o correto mas quando se trata de tirar a vida a alguém... por vezes pode não ser a melhor solução.

Sem dizer uma única palavra, Wesley saiu do quarto, deixando-me sozinho e reagrupando-se com as mulheres lá fora, fora da casa. Longe de mim, deixando-me em agonia e afundado nos meus próprios pensamentos.

Respirei fundo, indo ao meu bolso direito com a minha mão esquerda, agarrei o meu telemóvel e enviei uma mensagem ao Conselho de caçadores (CDC), sei que não mencionei esta sigla antes porque também achava que não iria trazer grande valor á história.

Subi as escadas, como escapatória aquela cave que me marcou para sempre. 

Para terem noção, os meus pés não se deslocavam pela madeira da casa mas sim arrastavam-se, pesados pelo fardo que eu carregava naquela altura.

Assim que a minha irmã Maia me viu, empunhando a minha caçadeira de canos verticalmente sobrepostos ao ombro, esboçou um sorriso morno e inclusive soltou um comentário do género:

-Então, mataste a bruxa? Não te sentes melhor agora? Agora o mundo está sem menos uma das criaturas mais temíveis de todos os tempos.

Ao que encolhi os ombros e baixei a cabeça, não dando uma resposta, fazendo o meu caminho até á caçamba da carrinha do Wesley, sem dizer uma única palavra ou demonstrar sequer algum apresso pela atitude positiva da Maia.

Para vos ser franco, não me sentia eu mesmo, sentia-me pesado, como se não tivesse sido a minha obrigação ou que não teria feito a coisa certa.

Será que havia outra forma de eu fazer o trabalho? Será que era possível não eliminar os outros 2 caçadores? Será que eu não tinha de queimar a Banshee mas sim de a guardar?

Notou-se que a Sara estava preocupada pois os olhos dela deixaram de ser vermelhos cor-de-rubi e retornaram as suas cores originais, os seus lindos castanhos cor-de-mel.

Sem dizer nada a nenhum dos membros da minha matilha, continuei a caminhar para a carrinha do Wesley, arremessando a minha caçadeira para a caçamba e sentando-me no canto inferior direito visto do interior da cabine.

A Maia ainda ficou a olhar para mim o caminho todo preocupada enquanto pensava nas minhas emoções, pois ela sempre foi muito ligada ao que se passava ao seu redor.

Eu somente queria voltar para Petúnia para repensar o que tinha feito naquela noite, abatemos 2 humanos, uma banshee... e até agora, as consequências ainda não tinham sido reveladas, o que é assustador, isto para além dos trovões e dos relâmpagos que se ouviam.

Diários de um caçadorOnde histórias criam vida. Descubra agora