Onde se fazem os monstros - Capítulo VII

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Enquanto bafava no vaporizador do John, o cheiro a amora enchia o ar, trazendo-me um pouco de alegria ao meu sistema nervoso, realmente estava a precisar, o stress pré-caçada está sem duvida a fazer-me mal.

Ao dar a minha terceira bafada no vaporizador, sinto o meu bolso a vibrar, foi aí que tossi, espontaneamente, o que fez com que ambos se rissem de mim. Era de um numero que eu desconhecia, prometo-vos que era um numero mesmo estranho, nem o tinha gravado nem nada e para verem o quão estranha a situação estava, o conteúdo na mensagem era o seguinte:

-Queres a Banshee? Nós também! E como somos 2 a querer, presumi que ambos pudéssemos unir esforços, sabes? Pensei que pudesses ajudar uma causa maior, deixares de ser um rato noturno, pago-te 300 rupias e dou-te acesso antecipado ao nosso armeiro. Vem ter comigo á ponte que liga Petúnia a Porto Real.

--------Desabafo rápido----------

Ok, uma pequenas coisa, assim muito rápida. Quem raio possui um armeiro nos dias que corre? Espera espera, só agora é que cheguei lá. "Nosso"? Isto só pode ser de um clã de caçadores, mas como raio é que ele chegou até mim?  A ponte que esta pessoa fala possui uma larga estrada em baixo e havia rumores de que, em tempos estavam lá hospedadas um grupo de caçadores, serão estes tipos? Além do mais, 300 rupias já dá para melhorar muito o meu "covil", talvez lhe dar um novo ar, umas novas cores quem sabe. Afinal de contas, o mundo é vazio se não tivermos amizades, certo?

--------Fim do desabafo rápido----------

Eu sorri para o telemóvel, o que deu a entender á Maia que a mensagem seria da Sara, mas desta vez ela estava errada. Coloquei o vaporizador do John na mesa dele, dizendo que já voltava em breve, que não demorava. Ainda ouvi a Maia a chamar por mim, a perguntar-me aonde ia eu, mas ignorei por completo.

Era visível que eles os dois estavam preocupados comigo, mas como se costuma dizer, se gostas de algo, deixa partir e se não voltar é porque nunca foi realmente teu. É um mundo cruel o que vivemos mas nós, seres humanos, não temos assim grande janela de escolha.

Como estava no piso de cima já, desci para agarrar na caçadeira de canos sobrepostos na vertical, num ritmo bastante acelerado. Mal cheguei lá abaixo, com a minha mão direita peguei-a num gesto rápido rebuscado, colocando-a logo ao meu ombro  e dei um jeito á gola do meu casaco de cabedal preto da noite passada.

Ainda me mantinha á mesma com a minha camisola interior branca, o meu casaco de cabedal preto, as minhas jeans de ganga pretas e os meus ténis-bota também pretos. Como seria óbvio, se estivesse em casa trocaria de roupa para sair á rua.

Mas bem, pegando na caçadeira e colocando-a ao ombro, ainda joguei mão á munição que ele tinha na bancada, ainda eram uns 10 cartuchos, que juntamente com os que eu trouxe de casa faziam um total de 20. Abençoado pai que me ensinou a aproveitar todos os bolsos das roupas que transporto para levar o maior numero de coisas possíveis, agradeço-te a paciência que tiveste comigo e com a mana.

Após pegar na minha arma e nas munições da mesma, fiz-me á estrada, sozinho, apenas com o meu telemóvel e a minha carteira, algo que transporto porque a qualquer momento posso ser preciso noutro lado distinto, inclusive voltar ao meu lado de humano normal.

Enquanto caminhava, decidi dar um toque á Sara, talvez para fazer com que o tempo passasse mais depressa, ou talvez porque tinha somente saudades da voz dela.

Marquei o número dela, esperei até que ouvi a voz dela do outro lado, a voz dela tinha um poder sobre mim descomunal, acalmava-me e mexia comigo, pergunto-me o que ela fez para cair nesta minha paranoia.

A primeira coisa que ela me disse assim que atendeu o telemóvel foi:

-Espero que estejas bem alimentado, é hoje a grande noite, certo? Onde vocês mortais vão-se reunir para abater uma criatura mística e sombria?

Diários de um caçadorOnde histórias criam vida. Descubra agora