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Desliguei meu Apple Watch e olhei ao redor.

Mads estava no sofá com o MacBook no colo, os fones no ouvido, concentrada em alguma coisa importante para amanhã. Ela tinha uma habilidade incrível de trabalhar no meio do caos, e, mesmo assim, parecia tranquila.

Do outro lado do vidro, Cole e Dylan estavam rindo de algo, conversando e gesticulando como se estivessem tramando algo secreto.

Eu, por outro lado, estava sentada em um banco, ajustando o solo de guitarra que faria no meio da música. Sempre fui perfeccionista com isso, e qualquer detalhe fora do lugar me tirava do sério.

Parei por um segundo para checar o horário. Minha barriga roncou. Ótimo, já era quase hora do almoço, e eu nem tinha percebido.

— Gente! — chamei a atenção de todos. — Tá quase na hora de almoçar. Vamos encerrar por hoje. Obrigada por terem vindo! Vejo vocês segunda-feira!

Enquanto guardava minha guitarra e pegava minha mochila, percebi Dylan vindo em minha direção.

— Tori, por que você tá sem óculos de novo? — perguntou, franzindo o cenho. — Você sabe que não enxerga nada sem eles!

Revirei os olhos.

— Meus óculos estão na minha bolsa, acabei de guardar. E quem tá precisando de óculos é você, Dylan.

Ele balançou a cabeça, exasperado, enquanto eu soltava uma risada discreta. Eu sei que deveria usar óculos o tempo todo, mas, sério, não consigo me acostumar com eles. Tenho miopia, astigmatismo e glaucoma, o combo completo da cegueira. Mas evito usar óculos fora do palco, porque da última vez que usei durante um show, eles literalmente voaram e quebraram quando pulei demais.

Mads levantou os olhos do computador.

— Tudo bem, depois do almoço nos encontre na sua casa. Vou mandar levarem as roupas pra lá. — Ela fez uma pausa, olhando para mim com uma expressão séria. — E nada de almoçar besteiras, Tori. Também não esqueça de tomar seu comprimido. Já tá na hora.

— Meu alarme nem tocou...

Antes que eu terminasse a frase, meu celular vibrou no bolso. Peguei o aparelho e olhei:

12:00 - COMPRIMIDO!!

Suspirei, enquanto Mads me lançava aquele olhar de "eu te avisei".

— Ah, esquece. Querem almoçar comigo? — perguntei, tentando mudar de assunto.

— Fica pra próxima. Ainda temos coisas a resolver — respondeu Cole. — Mas, falando sério, não coma besteiras.

Revirei os olhos novamente.

— Já entendi, gente. Vou almoçar em casa mesmo, tenho que passar lá de qualquer jeito. Tchau pra vocês!

Saí acenando e fui direto para o carro. Mary, minha cozinheira, provavelmente tinha deixado algo pronto, mas, no meio do caminho, resolvi parar no Dunkin'. Nunca tinha ido, mas já ouvi muita gente falar bem.

Estacionei, peguei minha carteira e celular, e fui até a entrada.

"CLOSED"

Franzi o cenho. A placa dizia que estava fechado, mas vi algumas pessoas lá dentro conversando. Entrei mesmo assim, afinal, vai que alguém esqueceu de virar a plaquinha?

Assim que abri a porta, os quatro jovens na mesa pararam de falar e me encararam como se eu fosse uma entidade divina.

Spoiler: não sou.

As duas garotas tinham traços muito parecidos, uma com cabelo curto e outra com cabelo longo, claramente irmãs. Um dos garotos tinha um estilo meio "vampiro indie", e o outro era o clássico garoto de filme colegial americano.

— Mentira, né? — disse a garota de cabelo curto, com os olhos arregalados.

— Meu Deus! — exclamou a outra, já com lágrimas nos olhos.

— Eu não acredito... — murmurou o garoto colegial, chocado.

Antes que eu pudesse processar, a garota de cabelo longo se levantou rápido e veio na minha direção, já chorando.

— Meu Deus! Olá, eu sou Charli, sou uma super fã sua! — disse, hesitante e emocionada.

Abracei-a antes que ela desabasse no chão. Ela me apertou com tanta força que fiquei sem ar por uns segundos.

— Wow, calma! Respira, tá tudo bem — falei enquanto ela continuava chorando no meu ombro.

Quando ela finalmente me soltou, olhou para minha blusa e arregalou os olhos.

— Ai, não! Eu sujei sua blusa de rímel e ela tá toda molhada! Me desculpa, me desculpa!

— Calma, Charli! É só uma blusa.

— Mas deve ser cara... Você só usa roupas caras!

— Minha mãe que me deu. Não gostava dela mesmo. Na verdade, você me fez um favor! Agora tenho uma desculpa pra não usar mais.

Ela riu nervosa. Era verdade. Minha mãe vivia tentando controlar meu estilo, e eu era orgulhosa demais para admitir que às vezes até gostava do que ela escolhia.

— Então você é minha fã? — perguntei, tentando animá-la. — Se é mesmo, quem foi meu primeiro crush no mundo do rock?

— Kurt Cobain, do Nirvana! — ela respondeu na hora, empolgada.

Soltei uma risada surpresa.

— Tá certa! Quantos anos você tem, Charli?

— Dezesseis!

Aos poucos, ela foi se soltando mais e apresentou os amigos. Dixie era sua irmã mais velha (e não gêmea, como eu achava), e os garotos eram Noah e Chase. Eles estavam tão nervosos quanto ela, mas acabaram relaxando depois de um tempo.

Descobri que Charli era uma TikToker famosa e que o café era uma inauguração especial para ela. Tiramos fotos juntos, e ela continuava emocionada.

— Hoje foi o melhor dia da minha vida!

Quando finalmente saí, suspirei aliviada:

— Isso foi intenso.

E entrei no carro, rindo da situação.

Ser quem eu souOnde histórias criam vida. Descubra agora