Entrei em casa ainda num estado catatônico. Como era de manhã ainda, minha mãe estava no restaurante preparando para abrir, já que ainda era cedo.
Entrei pela porta dos fundos para não ter que dar explicações e fui para meu quarto, ainda tentando processar tudo o que aconteceu.
Abri a porta do quarto e entrei com a cabeça baixa, com a visão ainda borrada, mas parece que não era a melhor hora para entrar no meu próprio quarto num estado profundo de bad e coração partido. Não havia hora pior, na verdade.
- E o número sorteado é... 14! Alguém tem 14 na tabela? - Perguntou Dona Lurdes, amiga da minha vó, em pé no meio do cômodo.
Ah, Dona Lurdes não era o único fantasma velho no meu quarto, claro que não. Ele estava tendo um enorme encontro de velhos jogando bingo. BINGO. NO MEU QUARTO.
- Bingo!!! Ah, oi Lelê! Passa o prêmio Lurdes, eu ganhei! - Disse minha vó, sem olhar muito para mim.
Olhando por cima, deveria ter aproximadamente uns 20 idosos fantasmas no meu quarto, e todos resmungando por perder o bingo para minha vó. Eu já vi muita coisa nessa vida, mas nada tão... Inesperado?!
- Aaaah mas eu também completei tudo! - Disse a dona Maria Aparecida, outra amiga da minha vó, se levantando.
- É dona Maria, mas a Lúcia gritou primeiro. Já esqueceu como joga? - Falou Des, que estava junto com minha vó, e só aí me viu na entrada do quarto. - Levi! Agora que você chegou, explica para a dona Maria que... Pera, sua aula não acaba só meio dia? E... Você tá chorando? - Perguntou ela, confusa. Nessa hora, todos os não-vivos do recinto me encararam, e apenas cochichos eram ouvidos.
- Eu só... Da pra geral sair do meu quarto, por favor? - Perguntei, apoiando as têmporas nos dedos e segurando o choro. Era só o que me faltava. Passar por tudo isso para virar a fofoca do mês de velhos mortos com a eternidade toda para fofocar.
Mas não conseguia pensar nisso agora. Só queria me enfiar embaixo do travesseiro e chorar até amanhã.
- Ouviram meu neto! Todo mundo pra fora! - Gritou minha vó, expulsando os amigos do meu quarto.
Os velhos resmungaram, pegando cartelas de bingo translúcidas e saindo pela janela, até que só sobraram eu, Des e minha vó.
Passei por elas arrastando os pés e me joguei na cama, com a cara no travesseiro.
- O que aconteceu, Levi? - Perguntou Des, sentando ao meu lado.
- Fe fu famar o Flóvis de fittler denofo fu fai afanhar. - Falei, com a voz abafada pelo travesseiro.
- Ai Odin, Levi, levanta a cara e fala que nem gente! - Reclamou ela.
- Só... O Clóvis é a melhor pessoa do mundo. - Disse, me virando e deitando de barriga pra cima, com um braço na barriga e o outro cobrindo os olhos..
E, segurando o choro, contei a elas tudo o que aconteceu aquela manhã. Tá, talvez a parte de segurar o choro não tenha funcionado muito bem.
- O Clóvis... Levi, certeza que você não ingeriu nada suspeito essa manhã? Não entrou no mundo das drogas? Porque... É muito difícil imaginar o Clóvis legal E gay. - Disse Des, confusa.
- É, eu mesmo quase não acreditei, mas ali, só eu e ele no banheiro, ele... Se soltou. Ele falou solto, sem parecer preso e mal humorado, ele... Foi ele mesmo comigo. Parecia até outra pessoa! E... Isso me ajudou tanto.. - Falei, com um sorriso fraco e a voz embargada.
- LEVI! JÁ CHEGOU? - Gritou minha mãe lá de baixo.
- SIM! JÁ TO DESCENDO! - Gritei de volta. - Vou lá ajudar a mãe. Depois penso nisso. E vó, sem bingo por hoje. Afinal, qual era o prêmio? - Perguntei, receoso, já mais calmo e deixando de lado o assunto do Leon.
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A saga de Levi
FantasyLevi é um jovem de 15 anos, no primeiro ano do Ensino médio, que tem uma vida... Nada normal. Ele vive com a mãe, tem muitos amigos, é um adolescente se descobrindo e descobrindo o mundo. Aparentemente normal, não? Mas ele tem uma coisa bastante ano...