Já passa da meia noite, e estou no barco de Dante, sentado e olhando o mar abaixo de mim. Era sábado, ainda o mesmo dia que aprendi tudo. Acho que Dante está no interior do barco, na sala secreta de treinamento mágica que não faço ideia de como cabe dentro desta pequena embarcação. Mas, no momento, somos apenas meus pensamentos, eu e o calmo mar a minha frente, escuro e misterioso com o breu da noite. Por mais que eu evitasse pensar em alguns assuntos, eles sempre me vinham à mente. Pensava em meu avô e seu jeito estranho, principalmente quando ele disse sobre a semelhança de um dodô com uma cadeira, e algo sobre chave. De todas as coisas que ele disse, essa foi a que menos fazia sentido.
Sons de passos atrás de mim me tiraram de meus devaneios, e me deparei com Dante se aproximando.
- Você voltou quieto de lá, normalmente não cala a boca. - Observou ele, me analisando. - Como foi? - Perguntou, se escorando ao meu lado e observando o mar junto comigo.
- Eu... Não sei, Dante, é tanta coisa... Há pouco tempo atrás eu achava que meu pai era apenas um vagabundo que nos abandonou, e descobri que ele é um rei e que supostamente não posso culpá-lo pelo meu abandono. E pelo visto eu tenho um avô agora, que não bate muito bem da cabeça e dois irmãos que eu não conheço. É... muita coisa. Eu só queria minha vó aqui comigo. Ela ia saber a coisa certa a dizer. - Desabafei, terminando com um soluço preso e sentindo os olhos encherem d'água.
- Argh, eu sou péssimo nisso.. mas vem cá. - Disse Dante, a contra gosto, me puxando para um abraço. Eu travei, surpreso com a reação repentina, mas então lentamente envolvi os braços ao redor dele e comecei a chorar baixinho com o rosto em seu peito. Ele tinha um cheiro amadeirado aconchegante, e eu não conseguia segurar mais as lágrimas. - Eu posso não ser sua vó e saber o que dizer, eu não faço a menor ideia, na verdade. Mas o que eu sei é que você é incrível, forte e corajoso. Caramba, você tá conseguindo lidar com tudo isso e ainda aprendendo mais coisas e se tornando mais forte para enfrentar o que vem aí! - Disse ele, afagando minhas costas.
- Mas eu... Eu to com medo, Dante. Eu não sou incrível, eu não tenho a menor ideia do que eu tô fazendo. - Falei, com a voz abafada e falha pelo choro.
- Todos temos medo, Levi. E é sério, no fundo, ninguém tem a menor ideia do que tá fazendo. - Afirmou ele, com um suspiro. - Mas, mesmo com esse medo você está aqui, no meu barco, no Beco. Aprendeu a lutar e a usar um pouco da sua magia, e eu sei que você não vai fugir. É isso o que eu mais admiro em você, vossa Alteza. - Disse ele, me segurando pelos ombros e enxugando minhas lágrimas com a manga da camiseta preta.
- E o mais importante, - Continuou Dante - é você não desistir de si mesmo. Levi, dê a si mesmo o valor que você merece, e não desista de ser quem é. Às vezes eu sinto que você está tentando ser tudo, menos você mesmo. Vá atrás do que você ama e do que te faz feliz. - Nessa última parte ele me lançou um olhar significativo.
- Você sabe, né? - Perguntei, rindo fraco.
- Quem não saberia? Você literalmente só falta babar perto dele. - Disse Dante, rindo. - Eu tava pegando pesado com ele porque queria ver se era mesmo a pessoa certa para Sua alteza, já que fui encarregado pessoalmente pela sua avó a cuidar de você. E, depois de tudo, e antes de tudo que possa vir também, se acerta com ele. Vocês parecem ter pendências a resolver... - Ele disse, me dando um soquinho no ombro.
- Pra quem não sabia como fazer isso, até que você se saiu muito bem, Karatê kid. - Falei, enxugando as últimas lágrimas.
Dante revirou os olhos e sorriu suavemente.
-Eu só disse o que achei que você precisava ouvir. - Respondeu ele.
- Mas, mesmo assim, obrigado. Eu... não poderia nunca lidar com isso sem a sua ajuda. - Falei, sinceramente agradecido. - Mas tem uma coisa que eu não entendo.. como, exatamente, você chegou até mim?

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A saga de Levi
FantasyLevi é um jovem de 15 anos, no primeiro ano do Ensino médio, que tem uma vida... Nada normal. Ele vive com a mãe, tem muitos amigos, é um adolescente se descobrindo e descobrindo o mundo. Aparentemente normal, não? Mas ele tem uma coisa bastante ano...