Acordei no dia seguinte com uma ressaca monstruosa. Era como se um operador minúsculo tivesse invadido meu cérebro durante a noite, e agora martelava sem dó as paredes da minha cabeça. Me sentei na cama devagar, olhando o dia ensolarado pela fresta da janela e recuando, sentindo meus olhos arderem com a forte luz do sol. Meu relógio de cabeceira marcava 11 horas da manhã, e eu lentamente comecei a superar a sede desumana que estava sentindo e lembrar onde eu estava e o que aconteceu na noite anterior.
Ao lembrar dos lábios de Leon nos meus, da sensação de sua mão em meus cabelos, dele tão próximo a mim, senti meu rosto esquentar e quase esqueci a dor de cabeça da ressaca. Aquilo realmente aconteceu ou foi um sonho? Lentamente passei os olhos pelo meu quarto, vendo a bagunça que estava. Algumas roupas perdidas, controles jogados por aí, embalagem de doce pelo chão e a garrafa de refri vazia na escrivaninha. Talvez tenha sido só uma alucinação pela bebida... Mas se for assim, por que foi tão... Real? Sinto como se pudesse sentir novamente seus lábios nos meus. Ao fechar os olhos, o único que vejo é seu rosto corado e sem jeito, seus olhos brilhando de expectativa e receio enquanto esperava o que eu ia dizer. Droga, a declaração!
Abri os olhos rapidamente ao lembrar disso e ouço passos e conversas invadirem meu quarto.
- Minha nossa, eu saio por um dia e tudo perde o controle! Olha o estado desse quarto! - Exclama Des, seguida por Dante.
Me sentei rapidamente, ficando tonto com o movimento brusco e quase caindo para trás na cama novamente. Quase, porque Dante me segurou em seus braços, se sentando ao meu lado na cama.
- Você bebeu. - Ele disse, sério, e pelo seu tom não foi uma pergunta.
Murmurei algo em resposta e me sentei melhor, saindo de seus braços e esfregando os olhos. Quando olhei para frente novamente, um inconfundível brilho laranja estava parado na frente da porta do meu quarto, olhando para o chão. Vê-lo quase me trouxe a sensação de embriaguez novamente, mesmo sóbrio. Ver ele ali na minha frente me deu a certeza final de que tudo ontem foi real, sem ilusão de bêbado ou qualquer outra coisa. E ele estava corado como um tomate. O encarei tempo demais, e o olhar de Dante ia de mim para Leon, intrigado.
-Levi, você bebendo??? Você é menor de idade! O que sua mãe diria se descobrisse? - Perguntou Des, alheia ao que acontecia à sua volta.
-E é exatamente por isso que ela nunca vai descobrir. - Respondi, me levantando devagar. - O que todo mundo tá fazendo no meu quarto? Não lembro de convidar ninguém, nem de ouvir batida na porta. - Falei, com a mão na cabeça, ainda com dor e com sede. A dor estava me impedindo de pensar claramente, e eu só queria ficar sozinho e em silêncio até ela passar, mas quem disse que a vida está disposta a me dar paz?!
-E desde quando preciso de convite? Sem falar que nem entramos pela porta. - Respondeu Des, dando de ombros. - Agora se arruma que já trouxemos o Leon aqui, e agora vamos para o Beco. Seu avô está esperando. - Disse ela, batendo palma, me apressando.
-Espera... O quê?? - Perguntei, chocado. - Eu tenho um avô? E ele está me esperando para quê? - Perguntei, saindo de um estado chocado para um desconfiado.
-Seu avô é o antigo rei do Beco. Ele atualmente deixou o trono e o castelo e está em repouso em uma casa no campo, distante da cidade. - Explicou Dante, se levantando e se virando para mim. - E ele quer treinar você. - Terminou, como se fosse algo normal.
- Treinar? Como assim? - Perguntou Leon, que já não estava mais ruborizado e agora estava imerso no assunto.
- Como se fosse da sua conta... - Murmurou Dante, alto o suficiente para todos ouvirem, revirando os olhos.
Encarei Dante duramente, e tossindo para limpar a garganta, ele continuou.
- Ele acha que a guerra está próxima, e eu também acho. Ele vai te treinar sobre como usar seus poderes para estar pronto quando a hora chegar. - Disse Dante, agora sério.
Milhares de perguntas se acumulavam em minha cabeça, mas não disse mais nada e peguei minhas roupas para me trocar no banheiro. Eu não tinha parado para pensar no fato de eu ter poderes até agora, por mais que soubesse que sendo meio médium, tinha habilidades maiores que o normal, como Dante, e que ele me disse que Magos tinham poderes mágicos. Mas a ideia de que isso tudo é real, e mais, que se aplica a mim, me... assombra. É algo novo, como um mundo de possibilidades e descobertas em minha frente, mas eu estava com medo. Entrar nesse mundo significa entrar numa guerra que não sei se vencerei, defendendo pessoas que confiam em mim, mesmo eu não sabendo se serei realmente capaz.
Quando chegamos ao barco de Dante, ele não estava mais em alto mar como antes, agora estava estacionado no porto, que estava tão movimentado quanto da última vez. O dia hoje estava nublado, mas não tanto ao ponto de vir chuva. O vento estava forte, e acompanhava as pessoas que iam e vinham em meio às lojas e casas que seguiam terra adentro.
- O que vamos fazer agora? - Perguntou Leon, encarando brevemente Des. Imagino que ele ainda deva estar se acostumando com o fato de Destiny estar sempre entre nós, mesmo ele não sendo capaz de vê-la na terra.
Quando Leon perguntou isso, Dante enlouqueceu.
- Por que você quer saber? Em primeiro lugar, quem te chamou aqui? Isso tudo não tem nada a ver com você, o que você tá fazendo aqui? - Perguntou ele, em um tom de voz alterado, com as mãos cerradas em punho. Estávamos no convés do barco, e algumas pessoas que passavam por perto no porto se viraram para encarar.
- Dante! - Exclama Des, indignada e brava, mas antes que ela possa dizer alguma coisa, Leon estende a mão à sua frente, impedindo-a.
- Dante, essa história é da minha conta desde o início, eu vim com vocês, estou envolvido goste você ou não, e Levi é meu amigo, o que diz respeito a ele me interessa sim! - Disse ele, se controlando para permanecer calmo, mas subindo o tom de voz mesmo assim.
- Eu não confio em você! Como você esteve ali, justo naquela hora? Coincidência? Como que é coincidência o filho do nosso inimigo se infiltrar em nosso meio? - Perguntou Dante, agora gritando.
- Será que dá para parar de desconfiar de mim?? Que inferno! O que você quer que eu faça para provar que eu... - Gritou Leon em resposta, mas o interrompi.
-Chega! - Gritei, me colocando em meio aos dois. - Será que podemos ficar a sós? - Perguntei, encarando firmemente Dante.
-Sim, eu e Leon vamos dar uma volta pelo centro... Não vamos, Leon? O rei deixou um dinheiro, e temos muito o que conversar... - Disse ela, puxando Leon pela mão para o píer. Leon desceu do barco e me lançou um último olhar raivoso, antes de se virar e sumir com Des em uma das ruelas do centro.
-Levi... - Começou Dante, mas eu levantei a mão, o interrompendo.
-Dante, eu gosto muito de você, sou muito grato mesmo por ter me salvado daqueles meninos aquele dia, por me ajudar e ter me contado a verdade, e realmente te admiro muito, mas... você tá passando muito dos limites com Leon. - Falei, direto mas com cuidado, estudando sua expressão, que estava surpresa no início, mas logo ele soltou um suspiro.
-Pensei que você fosse gritar comigo. - Disse ele, se desarmando. - Eu não confio nele, Levi. E ele realmente não podia estar aqui. Sabe quando foi a última vez que um humano entrou no beco?? Se as pessoas souberem disso, vai causar comoção, se o rei souber disso... Eu estou encrencado, de verdade. - Disse ele, cruzando os braços e encarando o ponto onde eles sumiram na multidão. - Eu sei que às vezes sou meio duro, mas preciso saber se ele tá nessa por inteiro, ou se vai sair correndo na primeira dificuldade e fazer todo esse trabalho ser em vão.
O encarei, pensativo. Me dei conta de que conheço muito pouco de Dante, só nos conhecemos à alguns dias, não me dei ao trabalho de perguntar ou conversar sobre ele e como funcionam as coisas; já tô me sentindo muito culpado por não ter pensado sobre o risco que ele estava correndo ao me ajudar, e ao trazer Leon para cá.
-Obrigada, de verdade, por correr esse risco e mesmo assim trazê-lo junto. - Agradeci, sinceramente, sorrindo levemente. Me irrita o jeito que ele implica com Leon, mas ele se coloca em perigo para traze-lo mesmo assim.
-Eu não faço isso por ele. - Ele disse, dando de ombros e caminhando até a amurada do barco, se escorando e encarando o mar.
Encarei suas costas, a roupa preta e sua pele escura em contraste com o mar azul, pensando naquele dia em que ele me defendeu, no dia que nos conhecemos. Lembrei de como me senti indefeso, e impressionado com as habilidades incríveis dele. Com essa guerra cada vez mais próxima, ele pode não estar ao meu lado o tempo inteiro para me defender.
-Dante... posso te pedir um favor? - Perguntei, me aproximando e me escorando ao seu lado na amurada.
-O que você precisa? - Perguntou ele, dirigindo seu olhar para mim.
-Me ensine a lutar.

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A saga de Levi
FantasyLevi é um jovem de 15 anos, no primeiro ano do Ensino médio, que tem uma vida... Nada normal. Ele vive com a mãe, tem muitos amigos, é um adolescente se descobrindo e descobrindo o mundo. Aparentemente normal, não? Mas ele tem uma coisa bastante ano...