Capítulo 11

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Aos poucos tudo foi voltando, o mundo voltou a girar um pouco e percebi que o silêncio não era só coisa da minha cabeça, meu quarto realmente estava mergulhado em um completo silêncio.

- Er... Acho que... Já tá ficando tarde também, vamos indo já, tem aquele tema de história pra segunda, né, gente? - Disse Breno, se levantando e juntando as coisas e cutucando os outros. Eles foram levantando um por um e balbuciando desculpas, indo embora. Mas em momento nenhum eu tirei os olhos dos de Leon, e nenhum momento ele tirou os dele dos meus.

Quando todos saíram do quarto e nos deixaram sozinhos, Leon piscou e desviou o olhar, se afastando de mim.

- Er... Então, Levi, eu... - Ele começou, se sentando sobre os calcanhares e ainda encarando o chão.

- Você não acabou de beijar Anita antes de vir para cá? - Perguntei, direto. Acho que além de me deixar agressivo, a bebida me dava coragem.

- Ela me beijou! Do nada, como uma louca! Estávamos conversando normalmente, mas de repente, do nada, ela me agarrou e me beijou. Eu me separei rápido, mas vocês já tinham visto. - Ele disse, de forma rápida e atropelada, com as bochechas e orelhas completamente vermelhas. Achei uma visão fofa e engraçada ao mesmo tempo, e decidi que queria vê-lo corar mais vezes.

Foco, Levi. Foco.

- Ah... - Exclamei, analisando o que ele disse. Não sei se era porque o mundo ainda estava girando ou se era porque eu sou idiota mesmo, mas decidi acreditar no que ele me disse. Acenei com a cabeça e também encarei o chão, pensativo. Mesmo que ele não tenha beijado Anita, por que ele não deixou que eu beijasse o Bruno e me beijou? - Então, você não sente nada por ela? - Perguntei, mordendo levemente meu lábio, com medo da resposta.

- Não! Não mesmo... Na verdade eu não gosto muito dela, de qualquer forma. Eu só fico ao lado dela porque... Tive medo de ficar... Sozinho. - Disse ele, baixando a voz na última palavra, como se pronunciá-la doesse.

O encarei, embasbacado. 

- Eu nunca... Me dei conta do quanto você devia estar sofrendo sendo o aluno novo, sem conhecer ninguém... - Murmurei, pensando em voz alta, me sentindo culpado por já ir tirando conclusões precipitadas desde o primeiro dia.

- Não tem problema... É bobagem minha, de qualquer forma... - Disse ele, envergonhado, encarando o chão, e vi um vislumbre de tristeza passar pela sua expressão.

Um silêncio levemente incômodo se instalou entre nós outra vez, enquanto eu me punia mentalmente por não ter prestado atenção nesses detalhes, e o quanto foi egoísta de minha parte ter julgado ele e a relação entre eles, que realmente não existia. A culpa nem ao menos me permitiu sentir aliviado por isso. Queria poder dizer a ele que ele não estava mais sozinho, que tinha a gangue, que tinha... A mim, e que eu nunca ia deixá-lo se sentir sozinho, mas não sabia como dizer, então apenas desviei o olhar para o chão.

- Levi, desculpa por ter... - Começou Leon, quebrando o silêncio, mas eu o interrompi. 

- Foi o meu primeiro. - Sussurrei, agora olhando para ele.

- Foi o que? - Perguntou ele, me encarando nos olhos outra vez.

- Esse. Foi meu primeiro beijo. - Falei, agora mais alto, sem tirar os olhos dele.

Ele arregalou os olhos, ficando ainda mais vermelho do que estava, se é que isso era possível. Um silêncio pesado se instalou entre nós, e eu não sabia o que dizer. Sempre me disseram que depois do primeiro beijo fica um clima estranho, mas agora vivenciando na pele, o silêncio nem era tão ruim assim. É clichê dizer isso, eu sei, mas não encontro outras palavras para descrever: a presença dele fazia barulho. Mas um barulho bom, uma presença agradável, que fazia meu coração acelerar e me arrancava um sorriso bobo contra a minha vontade. Deu para entender a descrição? Acho não né... Bem, só segue a leitura por favor, a bebida realmente tem um efeito estranho em mim.

- Você se arrepende? De... gastar seu primeiro beijo.... comigo? - Perguntou Leon, ainda encarando o chão, com o rosto e as orelhas competindo para ver quem ficava mais vermelho.

O encarei fixamente, incrédulo. Ele realmente não tinha percebido que eu estava completamente apaixonado por ele? Eu realmente nunca fiz muita questão de esconder, o quanto aqueles olhos claros mexiam comigo, o quanto aqueles cabelos ruivos habitavam meus sonhos, o quanto aquele cheiro me enlouquecia, o quanto aquela risada virou o eixo do meu mundo... As declarações giravam dentro da minha cabeça e paravam na ponta da minha língua, mas não consegui dizer uma palavra.

- Ah... Deixa, é melhor eu ir embora também, você tá bêbado, e não precisa responder... - Balbuciou ele, fazendo menção de se levantar. Mas, antes que ele pudesse ficar em pé, me impulsionei para frente e segurei seu pulso.

- Não, espera... Na verdade, eu... - Comecei, respirando fundo e tentando manter os pensamentos em ordem. Leon me encarava com os olhos arregalados e repletos de expectativa, seu rosto ainda corado como quem havia acabado de correr uma maratona. Nossos olhos estavam ligados tão intensamente que aquele evento de tudo silenciar começou outra vez, como se o mundo tivesse desacelerado à nossa volta. Quando eu estava lembrando de como falar, o celular de Leon começou a tocar em seu bolso, e larguei seu pulso como se tivesse levado um balde de água fria na cabeça, voltando à realidade.

- O-oi pai. Sim, tô na casa daquele amigo... Não, pai, eu não... Tá vou pedir um uber, já tô voltando. Sim... - Murmurou ele, levando o olhar ao chão e se levantando. Me levantei junto com ele, o seguindo até a porta do meu quarto ainda em transe.

- Eu... tenho que ir agora. - Disse Leon, assim que desligou o telefone. Ele me encarou com um olhar diferente, como se... Não quisesse ir embora.

- Sim, sim, eu... não quero que seu pai fique chateado com você nem nada, eu... - Balbuciei, mas não sabia mais o que dizer.

- Sim... A gente se vê. - Disse ele, hesitando um pouco e logo seguindo o corredor para a porta dos fundos, olhando para trás antes de fechar a porta.

Fiquei tão aéreo que nem desci para jantar. Me recordo vagamente de ter tomado banho, mas quando voltei a mim já estava na cama, no meio da noite, encarando o teto. Ao pensar no beijo, senti meus lábios formigando, como se estranhassem estar separados dos de Leon. Aquilo foi tão surreal que por pouco não me convenci de que foi apenas um sonho. Mas logo vinha a culpa de não ter falado nada... E se ele achasse que eu realmente me arrependia de o ter beijado? Eu devia ter falado alguma coisa, qualquer coisa... Mas, mesmo contra a minha vontade, meus olhos começaram a pesar e adormeci, com cada detalhe de Leon em minha mente.

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