Capítulo 13

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Dante me encarou surpreso, se virando totalmente em minha direção. Ele fez menção de falar alguma coisa, mas se conteve. Ao invés disso, se afastou e subiu a âncora, fazendo o barco se afastar lentamente do píer.

Enquanto nos afastamos em direção ao mar, ele para no meio do convés e ergue uma mão ao lado do corpo, na altura da cabeça.

- Dá um soco com tudo o que tem. - Disse ele, me encarando pacientemente.

Cheguei perto, meio indeciso e soquei sua mão, que nem se mexeu.

- Isso é tudo o que você tem? Fracote. - Debocha ele, com um sorriso convencido no rosto.

O encarei, indignado.

- Isso é o que você chama de ensinar? Você não devia me corrigir, tipo ângulo da mão ou algo assim? E não vamos alongar nem nada do tipo? - Perguntei, confuso e ficando um pouco irritado.

Ele então deu um forte soco no ar, atingindo centímetros ao lado do meu rosto. Cheguei até a ouvir o vento sendo perfurado rente à minha orelha.

- O inimigo não espera você se preparar, muito menos alongar. E com suas habilidades médiuns, você não precisa. - Disse ele, posicionando a mão ao lado do próprio rosto outra vez. - E como eu vou te corrigir se você nem ao menos fez algo para que eu corrija? Vamos, dê um soco. - Pediu ele novamente, sinalizando sua mão.

Olhei para a mão dele e respirei fundo, cerrando o punho e atingindo o alvo agora com mais força. A mão dele seguiu sem se mexer.

- Se você chama isso de soco, nem imagino o que teria acontecido naquele beco se eu não tivesse aparecido… - Disse ele, me encarando com uma sobrancelha erguida.

Quando ele falou isso, Tonhão e todas aquelas lembranças vieram à minha mente. Todos os anos que ele me infernizou, as piadas, as risadas maldosas, os socos. Meus olhos começaram a marejar com todas essas lembranças que eu enterrava muito fundo e queria esquecer vindo à tona, e junto com elas, veio a sensação de impotência. O medo. A raiva.

Olhei para a mão de Dante, vendo o rosto de Tonhão nela, com aquele sorriso orgulhoso que habitava meus pesadelos. E soquei.

Dante voou para trás, caindo sentado do outro lado do convés.

Ao vê-lo deslizar de costas pelo convés, acordei do meu torpor e corri até ele, preocupado.

- Dante?? Tá tudo bem?? Desculpa, eu não queria… - Comecei, mas ele não estava machucado ou bravo. Ao invés disso, me encarava com um brilho no olhar e um grande sorriso no rosto. Acho que era a primeira vez que via ele sorrir dessa forma.

- É disso que eu tô falando!!! Você é mais forte e mais rápido do que eu imaginava! Já está à altura de usar meu campo de treinamento. - Disse ele, animado, levantando com um pulo e pegando no meu pulso, me levando para dentro da cabine.

Eu apenas o seguia enquanto ele passava por aquela salinha pequena em que nos contou tudo. Ele estava indo em direção à parede, e me perguntei se ele iria abrir um portal ou algo assim. Mas, quando ele tocou na parede, uma porta de madeira entalhada apareceu sob seu toque. Nem tive tempo de ficar muito surpreso antes que ele a abrisse. Do outro lado da porta havia algumas escadas de madeira, que desciam para o interior do barco. Descemos, e ao chegar no deque inferior, quase tropecei no último degrau da escada, por pisar em falso devido à surpresa.

Ao invés de um recinto pequeno e cheio de cargas como imaginei que seria, vi em minha frente uma enorme sala, quase como um ginásio, lotado de equipamentos de treinamento, circuitos de obstáculos, até mesmo um ringue de luta em um canto. grande parte do lugar era forrado com tatame, e sacos de pancada e materiais de academia estavam espalhados aos montes pelo lugar, cordas de todo tipo decoravam o lugar, indo do teto ao chão, provavelmente para exercícios de escalada ou coisas assim. Prateleiras forravam uma das paredes, com vários objetos que eu desconhecia, mas que pareciam ser  mágicos de alguma forma, já que exalavam um brilho estranho. Nas quatro paredes tinham pequenas janelas no alto, iluminando o local e mostrando o mar azul e calmo do outro lado.

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