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Algum tempo tinha se passado desde que ele havia deitado ao lado do jovem marido, mas o arrastar lento das horas e o baixo ruído não tinha sido o suficiente para encontrar descanso. Ter um corpo quente com quem compartilhar a cama era uma coisa normal em sua vida, mas para alguém como Ragnar ter Kyle deitado em seu braço e sonhando ingenuamente, principalmente após o longo dia que tiveram juntos era completamente diferente.

Muitos o considerariam um tolo por permitir as atitudes do jovem nobre, ele iria ser ridicularizado por todos se descobrissem que não havia consumado o casamento. As lágrimas de Kyle eram verdadeiras e expressavam o seu medo e desespero, ele tinha chorado antes e durante toda a cerimônia de casamento, e parecia ainda mais apavorado quando se encontrou sozinho com o marido. Ragnar acreditava que nada do que tinha acontecido desde o seu primeiro encontro havia sido premeditado por Kyle. Ele gostava de pensar que estava sendo apenas cauteloso, o seu casamento era antes de tudo um acordo entre dois clãs.

Entretanto, havia desejo vibrando por todos os seus membros ao ver um corpo tão pequeno e pecaminoso – havia uma experiência bruta que foi contida em seus movimentos – havia uma estranha curiosidade em descobrir como seria tocar uma pele tão pálida, como seria beijar os lábios vermelhos e suaves que tinham lhe insultado muitas vezes, como seria romper a barreira que separava Kyle do mundo real onde não havia o medo de ceder aos piores e mais selvagens desejos do corpo. Ragnar tinha certeza de que desejava Kyle – assim como desejaria qualquer outro homem ou mulher com traços tão delicados e uma atitude imperiosa – mas esse não era de forma alguma um sentimento recíproco.

Ragnar era um viking em busca de poder, mas tinha feito uma promessa e era homem o suficiente para cumprir e seguir as suas próprias palavras. Não seria a primeira pessoa a machucar o marido, ou repetir qualquer ação que pudesse assustá-lo ou encorajá-lo a fugir. Ele não queria ser o motivo de uma vida deprimente, estava decidido a criar uma relação verdadeira com o jovem, mas continuaria a ser impiedoso com todos os inimigos que ousassem cruzar os seus caminhos.

Muitos pensamentos rondavam a sua mente naquela noite longa, mas logo desistiu do seu lugar na cama e se desvencilhou dos membros adormecidos de Kyle. O vento gelado do intenso inverno invadia o quarto em ruínas pelas brechas na janela, só havia uma coisa que poderia esquentar o seu sangue naquele momento e deixá-lo cansado a ponto de adormecer em qualquer superfície, e essa coisa se encontrava há algumas portas, guardada em uma garrafa de vidro e embaixo das saias de alguma senhora inglesa faminta. Ele reuniu suas roupas ao chão e as vestiu rapidamente – com a intenção de encontrar uma grande garrafa de hidromel e diversão com algumas prostitutas, mas então Kyle despertou assustado e com um pequeno grito quando Ragnar deixou uma de suas botas cair.

O jovem sentou na cama e esfregou os olhos uma vez antes de lançar o seu olhar em sua direção. — Já é manhã? Ainda estou tão cansado. — Comentou, mas o mais velho optou ignorar a pergunta e se inclinou para amarrar os laços de sua bota. — Ou você está me deixando aqui? Já que conseguiu o que queria.

— Só para que você fique sabendo, ainda não consegui o que realmente queria. — Ragnar murmurou sarcasticamente, adicionando um sorriso ao seu rosto enquanto se erguia em toda a sua altura, percebendo a forma que o seu marido adotou uma postura defensiva antes de inutilmente se cobrir com o pano que cobria a cama.

Apenas para testá-lo Ragnar se aproximou da cama e se inclinou e Kyle caiu contra a cama em reflexo, mas no ultimo segundo voltou a se erguer para capturar a espada que estava próxima a cama. E logo depois, soltou um pequeno punhal sobre os lençóis, para a completa confusão do seu marido.

— O que é isso? — Perguntou um segundo antes de tirar o punhal da bainha.

— Use-a se precisar.

Meraki | ROMANCE GAY (M-PREG)Onde histórias criam vida. Descubra agora