Quando Tony soubesse de toda a verdade, ele provavelmente levaria uma surra. Às vezes questionava-se em silêncio sobre que cadeia de eventos culminou naquela situação tão nebulosa, o arrependimento de não ter escolhido cursar artes na Califórnia em vez de direito florescendo em seu peito inevitavelmente. Mas já era tarde para lamentações, de qualquer forma. Tudo que Steve queria agora era dar um trato na ordinária que só sabia atrapalhar sua vida — e a das pessoas ao seu redor — desde que viraram sócios.
Ele adentrou o prédio de Sharon com Bruce em seu encalço, ambos em silêncio absoluto desde aquele pequeno diálogo nada esclarecedor para o mais novo. Banner ainda estava tão perdido quanto um cego no meio de um tiroteio, contudo estava ciente de que nenhuma de suas dúvidas seria sanada enquanto Steve estivesse uma pilha de nervos, funcionando no automático como visivelmente estava no momento.
Os dois pararam na portaria e o loiro tirou um documento aleatório da maleta, sua cara fechada em uma carranca desde que entraram no local. Ele ergueu a folha de papel na altura dos olhos do moço dentro da pequena cabine e pigarreou, chamando sua atenção.
— Boa tarde, eu tenho uma intimação para a senhorita Carter. Sou seu advogado e preciso falar com ela urgentemente.
— Ela está esperando o senhor? — o homem cerrou os olhos, estudando a fisionomia um tanto errática de Rogers com certa suspeição.
— Desculpe, senhor, mas enquanto você perde tempo me interrogando, minha cliente corre o risco sério de ir presa injustamente. — Steve pontuou em um corte ágil, como um felino, o gosto da mentira amargo em sua boca uma vez que a prisão injusta na verdade fora a de Anthony.
Os olhos inquietos de Bruce iam e voltavam do loiro ao porteiro, ainda tentando compreender qual era afinal o envolvimento da tal mulher naquela situação. O moço hesitou por um momento antes de enfim concedê-los entrada direta, apontando para as escadas já que o elevador estava em conserto. Steve trocou um olhar com Bruce e então os guiou até o andar de Sharon.
Assim que subira o último degrau, Banner encostou-se na parede do corredor em busca de algum fôlego, fazendo uma nota mental de que definitivamente voltaria à academia depois daquela confusão. Ele assistiu à figura de Steve se aproximar de uma porta, a de Sharon certamente, e bater na mesma com força, não dando espaço à delicadeza ou educação.
Eles trocaram mais um olhar significativo e Rogers voltou a esmurrar a porta insistentemente, até ser enfim atendido por Carter. Ela vestia roupas casuais e seus cabelos dourados estavam presos em um coque alto. Seu semblante denunciava cansaço, mas logo se convertera em descontentamento ao dar de cara com os olhos azuis de Steve Rogers a fitando enfezados.
— Você aqui? — ela cruzou os braços e ergueu o queixo para analisar o loiro da cabeça aos pés, arqueando uma sobrancelha em atrevimento. — Achei que só iria te ver de novo em uma audiência.
— Devia ter rezado pra isso, mas foi burra e preferiu enfiar uma pessoa inocente no meio dos seus crimes. — Rogers esbravejou, olhando fixamente para o rosto cínico de Carter.
— Ora, Steve. Você sabe que vale tudo na guerra e no amor. — sorriu irônica e entrou de volta em sua casa, sendo seguida pelo mais alto a passos duros.
Bruce continuou no corredor, os observando de longe sem dizer uma palavra sequer. Sua presença não parecia ter sido notada por Sharon, ou ela simplesmente não se importava o bastante consigo para ter comentado algo sobre. Ele tirou o telefone do bolso e checou as horas, praguejando-se internamente por ter perdido o horário da faculdade. Teria de se virar para não reprovar naquele período.
Ele viu Sharon sentar-se no sofá casualmente, cruzando as pernas. Bruce notou uma bolsa de couro vermelha e alguns papéis jogados desajeitadamente sobre a mesinha de centro, torcendo o nariz para a desorganização da moça. Claro, ela tinha todos os aspectos de uma vilã de desenho animado, mas o que custava empilhar seus papéis de vez em quando para receber visitas do seu arqui-inimigo?
