chapter vi

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Quando Tony recebeu o e-mail de admissão à universidade dos seus sonhos, na manhã chuvosa de uma sexta-feira, fora a primeira vez que sentiu que sua vida finalmente estava tomando um rumo.

Ele enfim colhia os frutos de todas as noites sem sono, todas as madrugadas em claro, todo o suor e sangue derramados sobre os estudos para o vestibular. Os bons resultados chegavam afinal, trazendo consigo o doce sabor da conquista individual e acadêmica. Ali, porém, sentado numa cadeirinha de madeira ao lado do escritório do diretor, ele sentia apenas o gosto salgado das lágrimas que ainda caíam desenfreadas por suas bochechas silenciosamente, vez por outra indo de encontro aos seus lábios partidos.

Há pelo menos vinte minutos encarava a parede branca, sem personalidade e sem hospitalidade. Era uma cor sem vida e sem afeto, não lhe acalentava em nada diante daquela situação estressante. Tony olhou para a mesa da secretária, onde a mesma falava ao telefone enquanto arrumava seus óculos de grau, e suspirou. Seus cabelos estavam a mesma bagunça desde o acesso de raiva de minutos atrás. Os nós dos seus dedos doíam por conta dos socos que desferiu e as palmas das suas mãos ainda ardiam pelos tapas. Sua visão estava embaçada pelas lágrimas incessantes e a garganta seca, rouca de tanto gritar.

Tony olhou para o corredor vazio e sentiu um calafrio em suas costas quando a porta da diretoria se abriu. O homem alto e careca pediu calmamente que entrasse e o obedeceu. Ele fechou a porta atrás de si e se sentou em silêncio na cadeira em frente à mesa, cabeça baixa e mãos entrelaçadas sobre o colo.

Senhor Fury foi o primeiro a se pronunciar, pigarreando:

— Anthony Stark. — o rosto de Tony se ergueu num segundo. — Pode me dizer o que diabos aconteceu naquela sala?

Ele não queria saber realmente o que aconteceu, pensou Tony. Todos já sabiam, afinal. Não, senhor Fury queria apenas ouvir a sua versão dos fatos, sabe-se lá Deus o porquê. A mente lenta e desordenada de Anthony pareceu acordar de um transe, contudo, remoendo os pensamentos com mais clareza; o mero prospecto de poder não ser expulso no fim das contas era bom demais para ser verdade, divagou.

Stark então respirou fundo, buscando em sua cabeça perturbada algo semelhante a coesão para juntar as palavras certas em sua resposta. Aquela era uma oportunidade de ouro e ele faria de tudo para agarrá-la. Ele ficou ereto em seu assento, tensionando a face em uma expressão séria.

— Rhodes e eu tivemos um... desentendimento.

Desentendimento é um eufemismo, meu rapaz. Você destroçou a cara dele. — Fury comentou casualmente, causando um leve franzir de nariz no mais novo. — Mas continue.

— Meu ex-namorado estava me traindo com ele. — soltou rapidamente, como se as meras palavras lhe cortassem como lâminas. O mais velho arqueou as sobrancelhas sem dizer nada. — Eu estava o evitando, foi esse um dos motivos por que faltei a semana passada inteira. Hoje ele tentou falar comigo e não me contive. — Stark ainda tinha os olhos marejados, porém segurava o choro. Fury estudou suas feições em silêncio, então respirou fundo e recostou-se na cadeira.

— Brigas, por menores que sejam, são um motivo sério para expulsão nessa universidade, Stark. Você mais do que ninguém sabe disso. — Tony acenou com a cabeça, baixando o olhar para os próprios pés. Fury o fitou pensativo e soltou um longo suspiro. Ele coçou a careca incerto e por fim disse: — Em qualquer outra situação, com qualquer outra pessoa, eu seguiria à risca as regulações dessa instituição. Mas você é um estudante brilhante. Não poderia apagar toda sua trajetória aqui por causa de um descontrole de natureza tão rasteira.

— Você... não vai me expulsar? — o mais novo olhou-o incrédulo.

— Não. Você está suspenso pelos próximos três meses, acho que é punição o bastante.

I HATE U, I LOVE U | 𝘀𝘁𝗼𝗻𝘆Onde histórias criam vida. Descubra agora