chapter xvi

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O cheiro característico de hospital já causava náuseas em Tony. Os rostos presentes na sala de espera eram tão miseráveis quanto o seu próprio, regados a desesperança gritante por conta da possibilidade inevitável de que talvez nunca mais fossem ver seus entes queridos com saúde novamente. O ar era pesado, como uma nuvem escura pairando sobre todas as cabeças presentes ali. Há pelo menos duas horas Bruce e ele estavam aguardando notícias do estado de Steve e o mais baixo estava à beira de um surto psicótico.

Pouco depois da chegada dos paramédicos, as autoridades levaram Sharon algemada direto para a delegacia, enquanto Banner acompanhou-o na ambulância até o hospital, oferecendo-o todo apoio que podia. Ele deixou que Anthony chorasse em seu ombro o trajeto inteiro, afagando suas costas em silêncio de vez em quando. O rapaz não parou de pensar por um segundo que poderia ter executado seu plano de fuga de uma maneira consideravelmente mais suave, mas se estivesse sendo racional, ele nunca teria conseguido segurar Rogers. Mesmo machucado, o loiro era mais forte e possuía a força de vontade de um touro; ainda mais quando viu que Tony estava prestes a levar um tiro.

Bruce suspirou pesadamente e se levantou para ir beber água, deixando Tony sozinho por um instante. As bolsas debaixo dos olhos de Stark estavam mais proeminentes devido ao choro, que havia parado meramente pelo seu cansaço. Fazia três dias que ele sequer cochilava e justamente por isso, assim que chegaram ao hospital, o mais baixo também necessitou de atendimento médico. Ele quase desmaiou algumas vezes na ambulância, lutando contra o próprio esgotamento para permanecer consciente pelo menos até que tivesse certeza de que Steven estaria bem.

Uma hora no soro fora o bastante para deixá-lo mais alerta e apesar de Banner ter insistido que Anthony tomasse um calmante para dormir, ele continuou recusando veementemente. Queria ser o primeiro a ter notícias de Steve nem que pra isso precisasse sacrificar mais algumas horas de descanso.

Era o início da madrugada quando Banner olhou para o relógio na parede. Ele estava tentando contar os ponteiros a fim de saber a hora exata quando o som de uma porta abrindo chamou sua atenção. Uma moça negra que surgiu de trás da mesma, caminhando até eles. Bruce ergueu-se da cadeira no susto, mal podendo acompanhar os passos rápidos de Tony na direção dela.

— Como ele está? — o mais novo lança um olhar suplicante à médica.

— Nós já nos conhecemos, não é... — ela lê algo em sua prancheta, então abre um sorriso quase que maternal — Tony Stark. Correto? Suponho que seja algum parente de Steve Rogers...

— Sou namorado dele. — responde rápido, sem hesitar. — Como ele está, doutora? Por favor, seja sincera.

— O quadro de Steve não é grave, Tony. — ela o oferece outro sorriso reconfortante e ele solta a respiração em um suspiro aliviado. Shuri aponta para o quarto onde o loiro está: — Felizmente as balas não acertaram nenhum órgão vital, Steve teve muita sorte. A única complicação foi uma pequena hemorragia que já está sendo tratada. Ele está sedado no momento, mas você pode ir vê-lo se quiser.

— Tudo bem. Muito obrigada, doutora. — Tony agradece, segurando sua mão num gesto sincero.

Shuri assentiu em silêncio e se afastou, deixando um Tony eufórico e um Bruce não tão diferente para trás. Ele trocou um olhar silencioso com o amigo e respirou fundo, indo em direção ao quarto de Steven. Fechou a porta atrás de si e seus olhos se encheram de lágrimas ao avistar a figura adormecida do mais velho, uma onda de alívio tomando conta de si ao lembrar-se das palavras da médica.

O céu lá fora já dava os primeiros sinais da madrugada, o sereno fraco batendo contra a janela de vidro o único som do ambiente além do monitor cardíaco. O silêncio era aconchegante ao mesmo tempo em que perturbador. Tony foi a passos foram lentos até a cama, acanhado como sempre era na presença forte do loiro. Ele pousou a mão sobre o braço do loiro, praguejando-se mentalmente por ter sido o motivo indireto dele ter se machucado.

Anthony acariciou a barba ainda um pouco estrangeira debaixo de seus dígitos e deixou um beijo em seus cabelos dourados, virando-se para sair logo em seguida. Um barulho o fez parar em seus movimentos, contudo, e ele voltou a fitar Rogers. Tony foi incapaz de conter o sorriso gigante em seus lábios quando aqueles olhos azuis o saudaram.

— Você vem sempre aqui? — Steve murmurou com voz rouca, piscando lentamente.

Steve. — balbuciou entre uma risada e um soluço, tomado pela emoção. Tony se aproximou novamente, limpando algumas lágrimas que insistiam em molhar seu rosto. — Quando você for tomar um tiro por mim, será que dá pra me avisar? — havia indignação em seu tom, mas especialmente tristeza. Ele então fungou, tentando controlar o choro. — Nunca mais faça isso, por Deus. Eu achei que você...

— Tony. — chamou-o devagar, desacelerando o ritmo frenético do menor com uma simples palavra. Ele juntou suas mãos e entrelaçou seus dedos, abrindo um sorriso fraco: — Eu faria tudo de novo por você, sem pensar duas vezes.

— Claro que faria. — Anthony resmungou inconformado, revirando os olhos. — Você sabe que não deveria ter mentido pra mim. — adicionou em um fio de voz. Ele não queria já começar uma discussão, mas precisava tirar aquela história a limpo.

— Eu queria te proteger. — veio a resposta previsível, o que fez o menor revirar os olhos internamente. — E também teria feito isso duas vezes se necessário. Você não tinha que se enfiar nesse caos.

— Eu sei e eu entendo, mas não concordo com seus métodos. — contrapôs, da maneira mais doce que já havia feito com Steve. — Sem contar que você pensou demais nos outros e esqueceu de si mesmo, agora está aí todo enfaixado. Tenho certeza que não vai conseguir tomar banho sozinho por um bom tempo.

As sobrancelhas do loiro se ergueram em surpresa:

— Geralmente sou eu que dou os sermões... As voltas que o mundo dá.

— É verdade. — Tony riu baixo, meneando a cabeça. — E geralmente sou eu que faço as burrices.

— Não. — respondeu de imediato, apertando sua mão no processo. Sua expressão ficou séria de repente e o mais novo franziu o cenho com aquela mudança repentina. — Não eram burrices, Tony. Eu que era muito duro com você. Às vezes me colocava nesse lugar paternal por causa da nossa diferença de idade sem perceber, mas esse tempo separados me fez refletir sobre muitas coisas. A conclusão geral delas é que eu era um idiota e estava errado. Na maioria das vezes. — soltou uma risada fraca no final, tentando descontrair o clima com a pequena brincadeira. Anthony, por sua vez, continuou o olhando confuso, pego de surpresa por aquela confissão. Talvez fosse a primeira vez que ouvia Steve admitir algum defeito em voz alta. — Você me desculpa? — o loiro questionou por fim, fazendo Stark finalmente revirar os olhos com sua típica voz de criança.

— Claro que sim. — aproximou-se com cuidado, segurado o rosto dele em suas mãos. — Mas se você acha que essa conversa acabou aqui, está muito enganado. Ainda quero saber tim-tim por tim-tim toda essa história com Rhodey e Sharon. — Steve suspirou, mas acenou com a cabeça por fim.

Anthony sorriu vitorioso e então colou seus lábios em um beijo demorado, quente, que tinha gosto de casa. A sensação de ter seu loiro de volta ali em seus braços era inexplicavelmente catártica. Enquanto a língua de Steve dançava com a sua em um ritmo que era só deles, ele considerou que talvez o seu “felizes para sempre” talvez não fosse tão impossível assim. Mais uma vez o frio do ambiente fora amenizado pela proximidade de seus corpos em um abraço apertado, ao passo que seus corações batiam em sincronia inconscientemente.

Um beijo de boa noite. Outra palavra de carinho.

n/a:

acabou!

obrigada por ler

lay.

I HATE U, I LOVE U | 𝘀𝘁𝗼𝗻𝘆Onde histórias criam vida. Descubra agora