Se havia passado uma, duas, três semanas — até mesmo um mês, era como um borrão. Tony estava no piloto automático desde o término com Steve, andava feito um fantasma dentro de um corpo estranho. Sentia-se como um morto vivo, sem rumo e sem motivação alguma. A parte do seu cérebro responsável pela racionalidade há muito estava adormecida, se não dramaticamente assassinada pela desilusão causada pelo coração partido.
Rhodes batera na sua porta algumas vezes desde àquela noite. Anthony o reconheceu apenas pela voz irritante e estridente gritando seu nome, humilhando-se pelo direito de dar uma explicação. Mas que explicação havia mais afinal, pensava, não era óbvio o suficiente? A traição estava escancarada pelas mensagens explicitamente sexuais entre os dois no telefone de Steve. Não havia espaço para dúvidas. E por Deus, como ele desejava que fosse tudo um mal entendido, que Rogers na verdade estivesse ajudando James com um texto que ele precisava decorar para aventurar-se em uma carreira improvável de ator. Como Tony queria, suplicava por qualquer outra explicação, a mais estúpida que fosse.
Era tão claro como água, contudo. Rhodey era pra ser seu melhor amigo, inferno! Será que na Filadélfia era isso que significava sê-lo: uma apunhalada nas costas? Ele bufou indignado, possesso, o rancor em seu peito aumentando a cada minuto.
Até Bruce, que possivelmente não tinha nada a ver com a história, tentou entrar em contato com Tony. E ele sabia que não deveria estar descontando no pobre coitado sua frustração, mas o baque ainda era muito recente. Todos em quem havia depositado sua confiança acabaram o fazendo de trouxa, bem debaixo do seu nariz. Stark contemplou, por um segundo, a observação perturbadora de que agora estava de fato sozinho naquele lugar estranho. Não tinha amigos, não tinha família. Steve e Rhodey ocuparam esse papel em sua vida desde que se conheceram, ao menos em sua cabeça ingênua demais. Agora não tinha mais ninguém. O pânico invadiu sua espinha e ele correu em direção à geladeira, tateando a parte de cima em busca da garrafa de uísque escondida ali.
Era o que estava lhe faltando, virar um alcoólatra.
O líquido ardente desceu queimando sua garganta e ele fez uma careta. As lágrimas invadiram seus olhos castanhos, como acontecia tão frequentemente nos últimos tempos. Ele era uma confusão, estava dividido entre raiva e tristeza. Quem um dia disse que traição é sim perdoável certamente nunca sentira na pele o que é ser enganado, passado para trás e feito de idiota pela pessoa que mais amava. E o que diabos Rhodey tinha que ele não, afinal? Era a adrenalina do romance proibido dentro do ambiente de trabalho? Eram os cabelos negros e olhos de jabuticaba mais envolventes que os seus? Talvez fosse tudo isso em conjunto.
Eles até que formavam um casal bonito, ademais, com certeza mais do que Tony e Steve. Bem que Anthony nunca entendeu realmente o que um homem tão hollywoodiano como Steve viu nele. Talvez Tony tenha entendido tudo errado desde o início. Talvez o rapaz tenha se aproximado dele meramente para ficar perto de James. Talvez suas expectativas emocionadas o tenham feito distorcer as coisas e no final de tudo, a culpa fora inteiramente sua. O sentimento inexistente do mais velho não passara de um fragmento da sua imaginação fértil e impressionável.
Ele chocou a boca contra o gargalo mais uma vez e soltou um longo suspiro, indo se sentar no sofá bege. Debaixo dele, os mesmos sapatos daquela noite. Do seu lado esquerdo, uma lixeira repleta de presentes e itens que a remetiam a Rogers. Do seu lado direito, a mesinha sobre a qual estava seu celular com o visor aceso pelas inúmeras e repetitórias ligações de Steve e Rhodes.
Ele encarou o aparelho e notou que Bruce não havia desistido de continuar ligando até o presente momento, ao contrário dos réus em questão. Encorajado pelo álcool em suas veias, tomou uma decisão. Ele retornou a chamada e quase desligou quando Banner atendeu no primeiro toque.
