No dia seguinte Tony acordou com sons de panelas sendo movidas pra lá e pra cá. O sol já lhe dava bom dia pelas frestas da cortina e ele fez uma careta querendo voltar a dormir, mas seria uma tarefa de longe impossível com Steve em sua casa. Infelizmente além dele ser mais velho, era uma pessoa da manhã, o que o tornava um velho da manhã, ou seja: nada de levantar-se depois das dez, não senhor.
Nem em sonho.
Ele foi ao banheiro e encarou o espelho, revirando os olhos para seu reflexo sonolento e desgrenhado. Foram vários meses de terapia compulsiva não-oficial com Rhodey para que enfim Tony aceitasse que Steve lhe visse naquele estado humilhante, com seus pijamas molambentos, cabelos um verdadeiro ninho de passarinhos, rosto inchado e as olheiras gigantescas de dar medo. Meneou a cabeça para sua figura horrorosa e pôs-se a fazer sua higiene matinal.
Escovou os dentes e lavou a face com água e sabonete de bebê, dica de sua mãe que levaria para a vida inteira. Aproveitou o embalo e tentou dar um jeito nos fios de cabelo revoltados. A noite anterior, como de praxe, fora tudo menos bondosa com suas madeixas. Steve tinha um sério problema que envolvia bagunçar seu cabelo durante todo o ato sexual, mas se fosse sincero não era exatamente um problema; ao menos não no momento, uma vez que era só depois que ele tinha de arcar com as consequências capilares.
Tony voltou para o quarto e trocou de roupa com o intuito de ficar mais apresentável. Não sabia se Steve ficaria o dia inteiro ou se tinha de ir trabalhar, mas preferia não estar de pijama em nenhuma das hipóteses. Aprendeu da pior maneira possível que moradores do Brooklyn iriam bater na sua porta a qualquer hora, em qualquer dia, por qualquer coisa. Ele nunca mais andou muito acomodado dentro da própria casa desde então.
Vestiu uma calça de moletom, uma camiseta um pouco larga e foi para a cozinha. Encontrou Rogers conversando baixinho no telefone, certamente com medo de acordá-lo. Ele estava sentado perto do balcão de costas para si. Tony aproveitou a oportunidade para lhe abraçar por trás e o mais alto sorriu, dando-lhe um selinho nos lábios.
— Eu ligo de volta depois. Até mais. — desligou o telefone e escaneou o mais baixo com os cristais oculares, humorado. — Vai sair?
— Não, só não quero passar pelo mesmo vexame de semanas atrás. — Tony sentou ao seu lado e os serviu do café que Steve preparou, sorrindo com o aroma relaxante invadindo suas narinas. — O café continua sendo a melhor parte de você passar a noite aqui. — riu anasalado.
— Sério? Achei que era outra coisa. — Stark assentiu em falsa concordância apenas para provocá-lo e o mais velho abraçou-o de lado, deixando beijos estalados em seu pescoço.
— Você vai pra empresa?
— Não. Hoje sou todo seu — Tony arqueou as sobrancelhas, contudo reprimiu um comentário sarcástico. Não queria estragar o clima. Rogers, por sua vez, era muito perceptivo. Ele olhou-o interrogativo, esperando uma resposta. Tony suspirou já enfezado e desvencilhou-se dos seus braços, tomando um farto gole de café. — Qual o problema? — inquiriu Steve, ainda com o semblante sigiloso.
— Nenhum, está tudo bem. — ele sorriu rapidamente e desviou o olhar, porém mesmo pela visão periférica avistou a carranca que se formara nas feições do mais velho. Tony suspirou mais uma vez e buscou seus olhos azuis, sério. — É verdade. Não é nada.
— Você não mente muito bem, Tony, e sabe disso.
— Não estou mentindo. — ele suspirou pela terceira vez e foi assim que percebeu que seus esforços para não estragar o clima foram estupidamente inúteis. Ponderou quinhentas vezes se deveria ou não trazer à tona o mesmo assunto amiudado, mas quando viu, já estava falando: — Eu só queria que você escutasse minhas reclamações e pensasse um pouco nelas. Pra alguém que se diz tão assertivo e prático, comigo você não é nada disso. — e finalizou com uma provocação, porque óbvio que o faria. Não estava na sua natureza contraditória ser delicado sem ter uma pitada de deboche em sua fala. Steve estudou-o de cima a baixo sustentando a mesma cara fechada, entretanto não disse nada. Ele se levantou do banco e ficou em pé próximo a Stark, cruzou os braços e os dois trocaram um olhar enraivecido. Não havia nenhuma condição de algum deles ceder naquela questão, isso era fato. — Você não vai falar nada? — Tony insistiu, a frustração já começando a dominá-lo.