CAPÍTULO TRÊS

204 30 23
                                    

Pennelope Wendy Barnett Giordano

     — Penne, querida. — Suzi diz com a voz baixa e comedida antes de bater uma vez na minha porta. — Os convidados já estão desfrutando dos coquetéis e quitutes do jantar, estão todos esperando. — Ela faz uma pausa. — Você não gostaria de deixá-los esperando não é? 

Faço uma careta, não para o fato de precisar descer e aguentar algumas horas de um jantar puramente profissional com alguns parceiros do meu pai, mas para a voz da mulher à minha porta.

Quem fala assim?

Eu estava agindo como uma adolescente irritada com a nova namorada do seu pai apenas por não aceitar que ela tome o lugar da mamãe ou por pura implicância, mas não era o caso, eu queria muito que meu pai fosse feliz, desejava do fundo do meu coração que ele não sentisse a mesma dor que eu sentia cada vez que me lembrava dela, que ele não sentisse o coração apertado a ponto de quebrar de tanta saudade como o meu sempre ficava.

A falta dela era uma dor constante em meu peito e talvez isso tenha dado um pouco de combustível ao meu sentimento de repulsa e desgosto em relação a Suzi, mas não é o único motivo que eu não consigo gostar da mulher.

Eu já estava preparada para aceitar as namoradas que meu pai teria.

Matteo Giordano amava a minha mãe, isso não era uma dúvida, mas ele também era um homem e eu sabia pela minha experiência, mesmo que pouca, que homens geralmente não ficavam viúvos, eles não ficam celibatos depois que a mulher que ama falece.

Ok, talvez eu esteja generalizado e deva existir em algum lugar do mundo um homem capaz de ficar sem uma mulher, mas eu nunca conheci um, então para mim eles eram como os contos de fadas.

Como os ratos falantes, aboboras que viram carruagem, fadas madrinhas e toda essa baboseira, só existia na imaginação.

Abro a porta ajeitando o cabelo antes de passar por Suzi parada em frente à minha porta com seu usual vestido bege sem decote nenhum, o rosto com uma maquiagem leve e o cabelo loiro, liso quase tampando seu rosto como se tivesse vergonha.

Ela podia enganar meu pai com todos esses trajes respeitosos, o uso de roupas claras para passar uma imagem de boa moça, a voz baixa e mansa como se fosse obediente ou uma mulher submissa, mas seus olhos não me enganavam, eles não acompanhavam o seu teatro de boa samaritana.

Fixo o olhar nas suas íris azuis claras, desejando que ela mostre de uma vez por todas o que é de verdade e não fique de joguinhos para tentar conquistar a minha família.

     — Seu pai está esperando. — Sorriu de maneira doce, mas adivinhe... o sorriso não chegou nos olhos.

Devolvi o sorriso da mesma maneira antes de fechar e trancar a porta do meu quarto como se estivesse trancando um tesouro lá dentro, não que tivesse algo importante ali, eu não era idiota o suficiente para manter segredos em um lugar que uma pessoa que eu não confiava tinha acesso, mas gostava de fazê-la pensar que tinha.

     — Não queremos ninguém xeretando o meu quarto, não é? — Passo por ela colocando a chave entre meu sutiã e meu seio.

Eu nem tinha chegado perto da escada ainda e já podia ouvir as distintas vozes carregadas de testosterona no andar de baixo conversando naquela famosa cumplicidade masculina que nós mulheres precisamos muito aprender com eles.

(LEIA O ÚLTIMO AVISO)Onde histórias criam vida. Descubra agora