Livra-me

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Livra-me de mim mesma. Do som tenebroso das ondas a baterem contra a areia, sem fim, sem saberem desenrolar-se. Como água que transborda da superfície, mesmo na zona antes da desgraça acontecer. Livra-me deste sentimento de ódio. Dói-me a alma e o corpo. O coração e a cabeça. O futuro de saber que se não me livrar, não consigo fazer presente. Deixa-me correr. Mas correr para fora, não no mesmo sítio, só para me cansar. Sair. Antes de esgotar a última gota. Antes de quebrar o último pedaço. Antes, mesmo antes, de pedir socorro ao mar e gritar com o vento, que me sussurra de volta que está tudo bem, que a vida é mesmo assim. Mas eu não quero um coração feio e preso ao ciúme. Não quero sufocar-me na maldade e na escuridão. Não acredito em injetar a minha vida com uma mancha preta que vai demorar a sair, ou que sai, mas não realmente, fica sempre a presença de como quem já lá esteve. Então livra-me do caminho da raiva. Só quero poder olhar em paz, sentir em paz. Sofrer em paz, se for preciso. Mas sem ódio, nem ciúme, nem inveja. Livra-me dessa realidade de ser humana, porque não aguento. Não quero ser assim. Que me venha dizer a terra que é normal, mas eu não quero, rejeito. Deixa-me ser livre de escolher amar os outros em vez de espalhar sofrimento. Deixa-me chorar sem ser de raiva e dançar sem ser de vingança. Deixa-me amar e isso ser suficiente.


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A little bit of my heartOnde histórias criam vida. Descubra agora