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Capítulo 1

O corpo das árvores e minha limitada velocidade era tudo o que me separava de uma possível morte iminente. Porque quem quer que estivesse nos perseguindo (dessa vez) tinha somente o objetivo de levar Eliel consigo.

Eu era somente uma humana, a progenitora, fraca, descartável e sem malditos poderes para defender meu próprio filho. Por isso, continuei correndo e não ousei parar mesmo quando cada célula de meu corpo queimava e implorava por ar.

— Eli ... Eliel ... — Pisoteei e chutei cada samambaia, pedra e galhos do caminho, me forçando a continuar e driblar os troncos infinitos daquele desprezível bosque.  — Pre-eciso que seja sombras, névoa ... — Ralhei, a voz quase sem som. — Preciso que evapore daqui, lembra do nosso jogo? — tentei sorrir, mas até simples movimento me roubava mais sopros de ar. — Eliel? Filho? — tentei de novo, com um vislumbre de seu pequeno corpo em movimento próximo ao meu.

Sabia que ele próprio se continha para me acompanhar e proteger e em hipótese alguma concordaria com aquilo. Não queria nos separar, mas eu ... eu atrasaria qualquer chance de uma fuga bem sucedida.

Os passos atrás de nós, pesados e ágeis, se tornavam cada vez mais audíveis e o cheiro de fúria e desumanidade chegava até nós.

 — ELIEL! — soprei em súplica, o horror me sufocando. Seríamos pegos, seríamos pegos e meu filho escravizado.

Engasguei e decidi que tudo o que eu poderia oferecer eram minutos a mais para ele fugir.

— Eli ... — Olhei, seu pequeno corpo envolto por sombras negras, os olhos grandes como duas amêndoas e os cachinhos negros que emolduravam o rosto infantil e a cópia do pai. Esculpi a imagem no coração, preguei com força para jamais esquecer.

E quando a lâmina deslizou pela minha mão e o pequeno simplesmente evaporou, forcei uma parada brusca e colidi com nosso perseguidor, sem esperanças.

E quando a lâmina deslizou pela minha mão e o pequeno simplesmente evaporou, forcei uma parada brusca e colidi com nosso perseguidor, sem esperanças

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Abri os olhos e precisei de 6 minutos inteiros para localizar onde eu estava.

O cômodo era parcialmente iluminado pela  fraca luz do sol e eu podia visualizar o espelho rachado na parede, a cômoda de três gavetas e a cama de casal em que me deitava, a que rangia a cada pequeno movimento.

O quarto pertencia a nossa mais recente estadia em um vilarejo abandonado perto da muralha que dividia o mundo em dois, uma muralha física feita por árvores e espinhos e criaturas terríveis que se deliciavam em impedir qualquer passagem.

Soltei o ar devagar lembrando de que escapamos e quase chorei, escapamos! escapamos mais uma vez, repeti.

Levei o olhar até Eliel dormindo ao meu lado, o peito subindo e descendo devagar, sem nenhum sinal de sombras negras. Puxei-o para mim e agradeci uma, duas, três, quatro, repetidas vezes às estrelas.

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