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Capítulo 10

Ao abrir a porta de entrada, fui recebida pelo cheiro de batatas cozidas e carne assada, o que me fez seguir o cheiro até estar na cozinha em que duas femêas trabalhavan. Gêmeas, de pele negra e olhos de jabuticaba. Belíssimas.

— Olá. — Elas balançaram a cabeça ao mesmo tempo.

— A comida está pronta. Estamos indo servir o almoço agora mesmo — uma delas avisou e concordei.

— Um minuto — corri até o banheiro mais próximo e me lavei, deixando meus pertences no canto. Depois buscaria.

Voltei à cozinha e arregacei as mangas da blusa que vestia.

— Deixe-me ajudá-las. — Senti que receberia um não quando uma delas abriu a boca e peguei a travessa de batatas em mãos mesmo assim. Não me custava nada e não era incômodo algum.

— Como se chamam?

— Nualla e Cerridwen, senhorita.

— Gillian — corrigi, com a recordação de Feyre dizendo seus nomes para mim. Indiquei o prato em mãos. — Se eu estiver atrapalhando, posso ...

— Não, tudo bem. — Nualla negou com um gesto de cabeça.

Deixei-as guiarem o caminho na frente com as de mais travessas e fui atrás, tendo conhecimento de que os outros já ocupavam a mesa de jantar pelas vozes que nos encontraram no percurso até lá.

— Enfim, Cassian sendo o porco de sempre.

Ouviu-se o barulho de um tapa.

— Guardamos um lugar para você, Gillian. — Larguei a travessa de batatas em cima da mesa e inclinei minha cabeça às palavras de Feyre.

Eliel estava sentado entre Rhysinho e Azriel e o único lugar vago era ao lado do mestre-espião.

Passei por Nestha para chegar até lá.

— Conseguiu seus livros? — um acenar de cabeça.

— Encontrou o que queria? — Devolvi o aceno.

— Que bom. — E ela voltou a comer.

Puxei a cadeira e me sentei ao lado de Azriel.

Tensa pela proximidade, comecei pela bebida e enrosquei meus dedos ao redor de um copo de líquido amarelado.

— Quem ganhou, mestre-espião? — Não o olhei ao perguntar.

— Quem você acha, Gillian? — meus olhos se estreitaram.

Tsc Tsc.

— O que esteve procurando no vilarejo? — Ele passou a se servir e continuei a bebericar de meu suco.

— Um emprego e o próximo passo é encontrar um lugar para mim e Eliel.

— Achei que havia dito que me daria uma chance para cuidar de vocês — balancei a cabeça.

Nosso tom de conversa era baixo, mas eu podia jurar que os outros ouvidos atentos aumentavam sua própria conversa para disfarçar do fato de que ouviam a nós dois.

— Nós estávamos falando sobre Eliel. Não sou sua responsabilidade ou me deve nada, mestre-espião. — Esclareci.

Ele comprimiu seus lábios e não disse mais nada, e não gostei da forma como seus olhos lampejaram em uma ideia. Pensamento este que guardou para si.

Eu não queria que ele pensasse que só porque dei à luz ao seu filho, fosse sua obrigação me guardar também. Longe disso, sua assistência se estendia a nosso filho e acabou aí. E além do mais, eu precisava trabalhar e me movimentar por conta própria, era independência e jamais abriria mão disso.

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