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Capítulo 23

Nancy jogou um roupão por cima do meu corpo envolto pela camisola que não passava de uma segunda pele transparente e nós deixamos o quarto.

"O homem que se diz meu pai estuprou uma mulher da Corte Primaveril e então eu nasci. Ela morreu no parto e quem me criou foi Nancy, mas nunca mais a encontrei, talvez ele já tenha matado-a porque era importante para mim"

"Sou eu Gillian, Nancy, levante-se"

Eu fiz a rápida ligação dos nomes em segundos, com a voz de Leanna que denotava tristeza ao tocar no nome da mulher que a criara, em mente.

Nancy não estava morta, suas mãos quentes seguravam meu braço à medida que ia me conduzindo pelos corredores escuros e de piso xadrez e parecia finalmente desperta, dona dos próprios pensamentos e ações.

Mas como?

- Não pergunte, ainda - me avisou com pouco menos do que um sussurro e segurei as perguntas.

Nancy voltou a usar da expressividade mais uma vez, como uma máscara.

Na extensão dos corredores estavam posicionados guardas de uniformes, e pude visualizar o olhar zombador de alguns deles, divertidos com o que estava prestes a acontecer quando eu deixasse aquele nocivo corredor para trás.

Nós viramos para a esquerda e subimos um lance de escada para encontrarmos novamente mais cubos brancos e pretos no chão. A mesma tonalidade escura e vazia nas paredes, mais guardas uniformidades e a pouca decoração que estava ali, vasos e candelabros, eram de ouro.

Desviei o foco para a porta dupla de madeira e esculpida por arabescos cintilantes a dez passos de nós. Eu soube que esse era o quarto do comandante e dois guardas de trajes negros e uma espécie de capuz de prata estavam a guardar.

Um em cada extremidade dos lados da madeira e seus semblantes eram quase indecifráveis.

Seis passos de distância.

- Ora eu estava mesmo indo até você Gillian.

A voz de Alberyo as nossas costas nos fez estacar no lugar.

Nancy e eu nos viramos devagar e seus olhos escuros avaliaram a mulher.

Nancy sequer piscou.

- Minhas ordens são para alimentar, vestir, vigiar e preparar Gillian para o mestre. Se Gillian não colaborar, você corta minha cabeça - disse, inexpressiva.

Alberyo se demorou mais 3 segundos na mulher e voltou-se para mim, o semblante mais endurecido de aviso.

- Muito bem, não me decepcione Gillian.

Não respondi direcionando-o raiva líquida e um toque de desespero para incitá-lo a se despreocupar mais ainda com o andar daquela noite que, pensando bem, estava até mesma um beco escuro para mim mesma.

Nancy indicou para mim continuar andando até estarmos de frente para a porta e os guardas. Eles sequer nos olharam e as portas foram abertas, tão rápido quanto foram fechadas assim que entramos.

Era como se as paredes fossem reforçadas por um material sólido e frio como pedra e as cores no cômodo eram verdes e douradas e novamente mais arabescos de ouro forravam tecidos e mobílias.

O mais que se destacava era a gigantesca cama que parecia um casulo aberto, com tecidos caindo do teto e terminando no chão.

O que trazia luminosidade eram dois candelabros de velas acesas e aromatizantes. O cheiro de morango estava impregnado no ar, inclusive em mim, em razão dos hidratantes diários que Nancy passava pelo meu corpo todas as manhãs depois do banho.

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