Acordo com o som do despertador a tocar. Tinha-o colocado para ter tempo de ir fazer o curativo em antes das aulas.
O Senhor Harvey tinha me aconselhado a não ir às aulas, pois tinha que estar em repouso, mas também não me parecia que a minha mente iria cooperar. Sabia muito bem que iria passar o dia todo a rever o que se passou ontem, se não ocupasse o meu tempo. Sentia umas ligeiras dores no meu ombro, mas podia estar muito pior se não tivesse feito o curativo ontem, graças ao Riven, penso para mim, enquanto me levanto.
A Terra ainda está a dormir, então tento não fazer barulho para não a acordar. Enquanto me vestia, lembrei-me da Bloom e dos outros que a esta hora, estariam na missão. Temia por eles. Eu sabia que eles eram muito experientes, para além de terem a Bloom do lado deles, mas mesmo assim, não deixava de me preocupar. Questionava-me se eles o teriam encontrado, mas se já o tivessem, eu já não deveria de sentir dores, o que não é o caso.
Coloco os meus auscultadores em volta do meu pescoço, telemóvel no bolso das calças, mochila ás costas e saio do quarto. Pego numa garrafa de água do armário, bebo e coloco-a na mochila, para mais tarde. Irei tomar o pequeno-almoço depois de fazer o curativo.
Saio do dormitório e dirijo-me à estufa. Os corredores ainda estavam vazios então cheguei lá rápido. Ao entrar vejo logo o Sam, que também me vê.
"Bom dia, como estás?" Pergunta com um sorriso, embora denoto preocupação.
Dou-lhe um beijinho. "Bom dia." Digo, sorrindo. "Sinto umas ligeiras dores, mas de resto, estou bem."
"Vamos ver como isso está, então." Pega na minha mão e guia-me até ao seu pai, que se encontra no mesmo sítio, onde estive ontem à noite.
Ele vê-me. "Ah Musa!" Exclama, contente por me ver. "Como te sentes hoje?"
"Bem, sinto apenas umas pequenas dores."
"Ótimo então, significa que não inflamou muito de ontem para hoje. Podes sentar-te." Recomenda e dirige-se ao armário onde Riven, ontem à noite, retirou o Zanbaq.
Sento-me, tiro o casaco e a manga do meu lado esquerdo. Sam senta-se a meu lado.
"Tiveram alguma notícia deles?" Pergunto ansiosa.
"Ainda não nos disseram nada para já." Informa o Senhor Harvey. "Mas quando soubermos de algo, serás das primeiras a saber." Assegura, dirigindo-se para mim.
Ele retira a ligadura. "Pensei que iria estar muito pior. É um bom sinal, mas é normal que nos próximos dias fique pior. Vou-te colocar então o Zanbaq, vamos abrandar isto." Avisa o Senhor Harvey.
Abano afirmamente a cabeça, preparando-me para a dor. Sinto o óleo a derramar na minha pele e as minhas feridas a arderem como nunca as senti antes. Lágrimas formam-se nos meus olhos, devido à ardência que sinto e sou obrigada a fechar os olhos.
"Estou aqui, ok?" Fala Sam com voz baixa, e sinto-o a colocar a sua mão na minha. Aperto-a com força, como forma de aliviar a dor.
"Prontos, já está, Musa." Avisa o pai do Sam. "Já vi pessoas a aguentarem menos. Que fada guerreira que temos aqui!" Diz e saí da nossa beira.
"Não podia ser mais valente, disso tenho a certeza." Comenta Sam.
Com a dor já a diminuir, tento falar, "Tenho que aguentar..." E é verdade, não posso estar sempre a fugir à dor, embora que preferisse mil vezes não a sentir.
"Se eu pudesse, estaria com eles a ajudar... Mas sei que não posso."
"Já basta o que aconteceu comigo, não quero que corras riscos por mim. Eles já o estão a correr. Não quero mais ninguém." Admito, olhando-o nos olhos.
Ele ia dizer algo, mas ouvimos o pai do Sam a falar ao telemóvel.
"Ainda agora acabei de lhe fazer o curativo e as marcas ainda permanecem, Saul. Não vi sinais de abrandamento." Ele aparece à nossa beira, olhando para mim. Eu e o Sam olhamos um para o outro, ambos percebendo que não o encontraram.
"Obrigado por avisares. Voltem para a escola em segurança." Termina e desliga.
"Não o encontraram, pois não?" Pergunta Sam.
"Eles encontraram alguns perto da zona onde a Musa foi atacada, mas parece que não foi o tal."
Abaixo a minha cabeça, pensando na pouca sorte que tive. Isto vai ser mais difícil do que imaginei.
"Eles já estão a regressar à Escola. Recomeçarão outra vez amanhã."
Inspiro. "É esperar para amanhã, então." Digo, a tentar ser positiva, mas sinto-me mais em baixo do que pensei que estaria. Acho que não estava preparada para ouvir más notícias.
Sam suspira. "Eles vão encontrá-lo, estou confiante."
A verdade é que não quero falar do assunto, sei que se pensar muito nele vou ficar mais triste do que já estou e talvez até zangada, por isso não digo nada, apenas sorrio para ele.
"Bem, eu devia de ir andando, ou então vou chegar atrasada à aula, ainda tenho que passar pela cantina." Informo.
"Não será melhor descansares? Não te esqueças que não podes fazer esforços."
"Concordo com o Sam, Musa." Aconselha o Senhor Harvey.
"Eu só vou à aula teórica, à prática, não vou, podem ficar descansados." Asseguro.
"Prontos, está bem, mas alguma coisa quero me ligues, ou venhas aqui." Diz Sam com a mão no meu ombro direito.
"Sim, chefe." Rio-me, colocando a minha mão em cima da dele.
"Vemo-nos mais tarde, durante a hora do almoço, então." Diz Sam, levantando-se.
Sigo-o. "Sim, claro. Até logo Senhor Harvey e obrigada!"
"De nada, Musa. Não te esqueças de passar por cá, no final da tarde, às sete horas, como combinamos ontem, está bem? Não podemos deixar passar como ontem. Temos que controlar muito bem essas feridas." Relembra.
Afinal não reparou que tinha feito curativo ontem, pensei para mim. "Não me irei esquecer, estarei aqui sem falta." Tento sorrir.
Sam acompanha-me até à porta, dá-me um beijinho de despedida e vou em direção ao refeitório.
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Fragmento
FanfictionTudo mudou quando eu fui atacada por um queimado. Desde o pensamento de morrer, promesas, indecisões, novos sentimentos até a dura verdade. E depois há o Riven. Solitário, rude, irónico e um dos melhores especialistas da Escola de Alfea. Não posso n...