Adiar o inevitável?

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"O que é que ele queria?" Pergunta Sam, quando ele já não está mais à beira.

"Veio só ver como eu estava." Respondo contando a verdade.

"Riven e preocupação juntos? Mas o que é que se passa com ele últimamente?" Pergunta, pelo que percebo, retóricamente. Ou então não. Talvez a Beatrix tenha andado a fazer-se de anunciadora de fake news e inventado alguma história, só para me prejudicar a mim e ao Riven. Mas se algo se passasse, tenho a certeza que o Sam me iria dizer.

Mas o Sam tinha razão. Não estava habituada a ver o Riven assim. Preocupado, atencioso. Talvez ele já fosse assim, mas não o mostrava, ou quando o fazia era de um modo ruim, e por isso, afastava as pessoas. Acho que ao se afastar da Beatrix, só lhe fez bem. Rio-me ao pensar nessa conclusão. Estava feliz por ele finalmente se ter libertado dela. Ele é uma boa pessoa, lá no fundo.

O Sam vê que me estou a sorrir, mas não pergunta o motivo, apenas entra no quarto, pensando que me estava a rir do que ele tinha dito.

"A Bloom está a dormir, certo?" Pergunta, apontando para o quarto dela.

"Sim." Digo, abanando afirmamente a cabeça e empurro-o para o quarto, para não fazermos barulho.

Ao chegar à minha cama, vejo o meu telemóvel e lembro-me que não dei o meu número ao Riven.

"Eu enviei-te uma mensagem, caso estivesses acordada, mas não me respondeste, então decidi vir aqui." Explica Sam.

"Enviaste?" Pego no telemóvel para verificar e lá encontro uma mensagem do Sam. "Desculpa, não ouvi, estava em silêncio."

"Não tem mal, estou aqui contigo agora." Diz e deitasse na minha cama, junto a mim.

"Estás um bocadinho quente." Diz ao passar a sua mão na minha testa.

"Já me sinto assim desde que acordei, e pouco abrandou." Confesso.

Ele suspira. "Bem, tenta descansar, sim? Pode ser que acordes melhor." Mas ambos sabíamos que isso não ia acontecer. Não dava para ficar melhor na situação em que estou, mas o Sam era sempre positivo. As coisas podiam estar horríveis mas ele sempre acreditava na esperança. Fui me habituando a essa característica dele. Foi, também, uma característica que continuava a crescer em mim, pela sua influência.

"Pode ser que sim." Minto, mas mesmo assim, a esperança ficava sempre lá, de que, por algum milagre, ficaria melhor. Minutos depois, adormeço.

Depois de acordar para o almoço com o Sam, continuava na mesma com febre e com as dores. As dores nunca chegavam a parar. Eram constantes, permaneciam em mim. Determinadas a ficar, a me destruir aos poucos. Foi ainda pior quando coloquei o Zanbaq. Ao menos fazia a febre abrandar por cerca de uma hora. Até não o fazer. O status da infecção era como previsto, continuava a crescer, em direção ao meu coração e à minha cabeça.

Não havia mais nada que possavamos fazer. Era essa já uma ideia que tinha colocado na minha mente. Apenas havia uma solução e essa parecia inalcançável. Quanto mais se corria atrás dela, mais ela parecia fugir de nós. Escondia-se na escuridão para que não fosse encontrada e atacava quando alguém estava por perto. Sedenta de sangue. Sedenta de destruição.

Estava sentada na minha mesa de escritório a escrever no meu diário, quando umas batidas suaves surgem na minha porta.

Era o meu pai. Tinha me ligado cerca de uma hora antes quando chegou a Solária e agora estava aqui para me ver.

Vou a correr até à porta e quando a abro não me consigo deter e não abraçar o meu pai cuja cara estava uma preocupação só.

"Musa... Porque não me contaste antes minha querida filha?" Fala numa voz suave, cujo é raro eu ouvir. Passa as suas mãos no meu cabelo acariciando. Não fazia a mínima ideia das saudades que tinha dele, até o ver.

"Ainda disse a tempo...." Falo com voz baixa, lágrimas nos meus olhos.

Ele liberta-se do abraço e olha para mim. "E como estás filha? Sentes muitas dores?" Leva a sua mão à minha testa. "Tens febre."

Contei-lhe tudo premonizadamente. O que sentia, o esforço que estavam todos a fazer por mim e especialmente as probabilidades que eu tinha. Tudo o que não deu para explicar via telemóvel, expliquei-lhe hoje. Nenhuma dúvida ficava por responder. E tudo era muito claro como a água. Não havia porque não o ser. Aqui, só haviam duas vias. Ou o queimado era morto e eu sobrevivia ou, então, iria me transformar num.

O meu pai passou o resto da tarde comigo até chegar à hora de ir fazer o curativo no qual me acompanhou.

FragmentoOnde histórias criam vida. Descubra agora