Conexão

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Depois do almoço fomos passear um pouco lá fora como sempre costumavamos fazer.

"Já sentia saudades destes momentos." Digo olhando para o Sam com um sorriso.

"Já somos dois. As últimas semanas foram bastante diferentes..."

"Deixa-me só terminar os exames que vêm pela frente e juro que aí podemos passar mais tempo juntos." Digo.

"Sem problemas, eu também tenho os meus e com isto que aconteceu, não estudei absolutamente nada."

"Acredito que não. Mas agora-" Sou parada pelo súbito sentimento que sinto vindo de uma outra pessoa, que não era o Sam. No preciso instante que os sinto sei de quem se trata, mas o que sinto não era o que sempre senti, em vez disso, chegava a mim, raiva.

"Musa? Que se passa?"

As palavras do Sam passaram-se despercebidas por mim ao tentar identificar aqueles sentimentos. Viro-me para trás e ao longe vejo quem sabia que veria. Riven. O andar dele de contrariado era bem visível, rápido, levando a sua mão direita ao seu cabelo numa forma de dispersar o que estava a sentir. Dirigia-se para a escola. Perguntava-me o porquê de se sentir assim.

"Desde quando é que tens uma conexão com ele?"

Queria continuar a desembaraçar aquele sentimento mas a pergunta do Sam parecia mais importante agora.

Viro-me de volta para ele, desligando-me com alguma dificuldade da sua mente.

"Hum? Como assim?" Olho para o Sam que apresenta uma cara confusa.

"Ele está a mais de 10 metros de distância e mesmo assim consegues senti-lo." Ele aponta para aonde o Riven estava que olhando de volta para trás, já não era visto em lado nenhum.

"Não sei, os sentimentos dele eram bastante fortes por isso chamou-me a atenção." Olho para a cara dele que parece não acreditar em mim. "Parecia estar bastante zangado." Acrescento.

"Não sabia que eram tão chegados assim para terem uma conexão." Confessa, com um olhar distante.

"Somos só amigos. Raramente nos falamos."

"Por isso é que estou surpreendido." Ele ri-se. "O que viste nele para criares uma ligação?"

"Falas como se tivesse escolha. Sabes que não tenho controlo com quem tenho ligação, não sabes?" Digo um pouco irritada, pois parece que está a concluir coisas erradas.

Ele começa a andar, evitando o meu olhar com uma cara carrancuda. Eu sigo-o.

"Apenas estava a dizer porque nunca pensei que te darias tão bem com ele. Sois tão diferentes..." Dá de ombros.

"Sei que sim, mas tem mudado bastante desde que acabou com a Beatrix. Aliás, apoiou-me bastante desde o acidente, algo que nunca pensei." Sou sincera.

"Se eu fosse a ti, não acreditava tanto nisso."

"Que é que queres dizer com isso?" Pergunto, frangindo a minha sobrancelha esquerda.

"Não digo que não pensei que ele tivesse mudado, mas só pelo facto de quem ele voltou a acompanhar pode dizer muito." Diz num suspiro.

"Com quem?" Fico confusa.

"Com a Beatrix. Vi-os a se beijar perto da zona de treino, ontem. E de certeza que não fui eu o único a ver."

Eu rio-me de surpresa. "Tens a certeza?"

"Absoluta."

Será que ele recaiu nas sua garras outra vez e voltou para ela? Fico surpreendida com o que acabei de ouvir. Talvez o que me tivesse dito naquela vez fosse mentira e não a tivesse ultrapassado. Ele pareceu-me ser sempre tão decidido nas suas decisões, sem voltar atrás, principalmente em relação a ela. Ele não seria estúpido em voltar para ela assim. Teria que haver uma boa razão.

"Por isso é que acho que ele não seja uma boa amizade. Sei que o que ele fez por ti foi... mais do que eu poderia ter feito por ti, e agradeci-lhe por isso, estou grato, mas acho que ele continua o mesmo, sinceramente." Ele mantém o seu olhar distante, olhando para tudo menos eu.

Não acreditava nas palavras do Sam. Ele estava enganado. Tudo o que me contou, tudo o que senti, não era mentira, era verdade, e eu sabia disso.

"Infelizmente, pensei que ele tinha mudado." Confessa.

"Pode não ser nada disso. Deve haver uma boa razão." Foco o meu olhar para a escola.

"Com ele já duvido que seja boa."

Eu reviro os meus olhos. Eles sempre nunca se deram bem e parece que continuava igual. Nunca percebi a antipatia por eles os dois. Não davam sequer o benefício de dúvida entre eles.

"Seja como for..." Paro a meio do caminho, pensativa. "Foi uma pessoa que me apoiou e que se preocupou, caso contrário não o teria feito o que fez." Não queria estar a por mais lenha na fogueira pois sei que quando se tratava de Riven, o Sam não era muito racional.

"Sim claro, tens razão, isto agora não retira o que ele fez no passado. Ele é que sabe o que faz, a vida é dele." Ele dá de ombros.

"Não quero que te preocupes com a conexão, sinceramente nem sei bem porque a tenho, é meio inútil." E não minto, só agora ao pensar bem é que me apercebo do que realmente estou a falar. Eu tenho uma conexão com o Riven... Mas porque? Não fazia sentido. Confusão e questões pairavam na minha mente e não me deixavam. Mas, ao mesmo tempo, não sinto surpresa, era como se já estivesse a contar com isso, como se assim tivesse de ser.

"Não te preocupes com isso, apenas fiquei surpreendido. Sabes que eu e ele sempre chocamos um pouco." Ele olha para mim, finalmente, com um sorriso delicado.

"Eu sei que sim, por isso é que te estou a dizer. Foste tu apanhado de surpresa e eu também. Não fazia a mínima ideia." Minto. Uma meia mentira.

"Bem, vamos esquecer isto..." Ele apoia o seu braço nos meus ombros. "Nada de importante." Ele diz mas agora sei que está a mentir, não era necessário usar o meu poder para notar insegurança nas suas palavras, para além do pouco contacto visual, distante e irrequieto. Suspiro fundo ao me aperceber de que mais tarde ou mais cedo teríamos de falar deste assunto outra vez.

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