VIII - Ajuda

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"Let the sky fall

When it crumbles

We will stand tall

Face it all together."

Adéle, Skyfall


Se não sabia o que era o medo, sabia muitíssimo bem o que era a dor.

Ozilia arfou, sentindo o corpo encolher-se e estalar, como um galho seco. O segundo ataque fora ainda mais forte do que o primeiro e desfizera-lhe completamente a defesa. Assentou as mãos na terra rochosa e cuspiu uma golfada de sangue. Sentia também que o ferimento do torso, abaixo das costelas, se tinha aberto.

As tonturas estavam a baralhar-lhe os sentidos e a barreira mental que tinha criado desfazia-se como uma teia de aranha varrida por uma rajada de vento. A clareira rochosa tremeu ligeiramente quando o guerreiro gigante aterrou com os dois pés ao mesmo tempo. Ela olhou em redor para se certificar que continuavam sem testemunhas e verificar se ele já tinha chegado.

Continuava sozinha com o seu adversário invencível.

Levantou-se e respirou fundo, concentrando poder nos músculos, todo aquele que conseguiu recuperar, agarrar e reter. Como a proteção tinha sido destruída, ao fazê-lo provocou um sismo que sacudiu os penhascos em redor e abriu fendas no solo. O guerreiro estava na sua posição habitual, parado e expectante. Não precisava de reunir energia, não tinha consumido nem um décimo daquela que possuía. Era um assassino extremamente eficiente, pensou ela, o melhor de todos os mundos, desprovido de alma e de qualquer senso de auto preservação, pelo que perseguiria o seu alvo até à morte – do alvo e dele próprio, se por azar o alvo fosse mais poderoso do que ele. O que nunca acontecia e, naquela ocasião, não acontecia de facto.

Ozilia atacou com uma chuva de raios, que disparava em rajadas lançando um braço e depois o outro, voltando ao primeiro e assim sucessivamente, gritando durante o ataque. O guerreiro desapareceu na explosão, continuando na mesma posição estática, deixando-se envolver pela espessa nuvem de fumo e pelo fogo dos raios.

Era um ataque estúpido, que a debilitava mais do que feria o guerreiro, mas utilizava o tempo para pensar.

Fugir não era opção. Um combate corpo-a-corpo estava fora de questão, dada a diferença abissal de tamanho. Um confronto mental era impossível, pois ele não estava ao alcance dela nesse plano. Os ataques energéticos eram tão inofensivos como se lhe atirasse pedras.

Não tinha opções, portanto.

Baixou os braços, saltou para trás, voando às arrecuas. Olhou para baixo, por cima do ombro, viu a floresta e deixou-se cair. Seria um terreno mais favorável para ela, uma vantagem pequena. Mas antes de alcançar o topo das árvores, um punho gigantesco apanhou-a e ela ficou presa na mão do guerreiro.

- Shimata!...

Fechou os olhos, erguendo uma barreira mental atabalhoada, criando uma diversão de luzes multicores. Por um segundo, o guerreiro ficou confuso. Viu-lhe a cabeçorra coberta pelo capacete girar, seguindo cada piscar das luzes. Ela aproveitou para arquear os braços de modo a criar a folga necessária para escapar. Mas o guerreiro esqueceu as luzes e apertou com mais força. Ozilia reprimiu um grito. Sentiu depois que estava a ser carregada pela frescura do vento. O guerreiro tinha-a atirado. O embate com a rocha dura cortou a frescura, aumentou-lhe as dores e as tonturas. Não conseguia respirar, não sabia quais os movimentos corretos que devia fazer para levar ar aos pulmões.

O sangue escorria-lhe do canto da boca enquanto sorria. Achou que seria uma boa reação, sorrir com ironia ante a obliteração. Pelo menos, não podiam dizer que ela não tinha coragem e que não tinha tentado, até ao derradeiro fôlego. Não conseguia manter o rasto luminoso que deixara na aldeia e apagou-o. Bem, paciência... Se ele não tinha chegado até àquele momento, já não chegaria. E mesmo que chegasse, já seria tarde demais para ela.

Deuses e DiamantesOnde histórias criam vida. Descubra agora