XXVII - Imprevisível

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"This is it, the apocalypse.

I'm waking up, I feel it in my bones

Enough to make my systems blow.

Welcome to the new age."

Imagine Dragons, Radioactive


- É mesmo ele?

- Hai – respondeu Son Goku ao príncipe. Protegia o diamante cobrindo-o com a mão direita que fincava no peito, como se fosse fundamental mantê-lo ali colado.

- Como é que sabes?

Com a respiração alterada, tentando engolir, Son Goku apenas fez um gesto afirmativo com a cabeça.

E número 17 também tinha a certeza que aquele era Lux. Não só pelo porte irrepreensível, mas por causa do calafrio persistente, também e sobretudo por causa da sensação estranha de o oxigénio ter sido cortado pela metade causando uma horrível dificuldade para respirar.

A luz tinha diminuído, um pó fino amarelo brilhante, como minúsculas partículas de ouro, saturava o ar e uma calmaria artificial fechava-os numa espécie de redoma invisível – outra vez a impressão de que estavam dentro de uma bola de vidro, claustrofóbica e pequena, mas de algum modo suficientemente grande para contê-los na sua forma normal.

Os lutadores da galáxia do Norte entreolharam-se e havia receio e dúvida em todos os olhares.

Valo jazia no tatami reconstruído, como que desmaiado ou em qualquer outro estado que o fazia imóvel. Cansado e a resfolegar, Gotenks agarrava no diamante moribundo do deus.

- E agora, Ozilia?

Ela respondeu a número 17 pausadamente, saboreando as palavras, pronunciando-as devagar como se fosse a primeira vez que falasse aquele idioma:

- Agora... O torneio continua.

Uma resposta típica da deusa, que não o sossegou. Olhou para a irmã.

- Continuo preparada – disse-lhe ela.

E ele rematou:

- Também eu. Até porque o torneio... continua.

Son Goku deve ter recebido uma qualquer espécie de sinal, pois baixou o braço, largando o diamante que guardava debaixo da roupa, deixando aquele pedaço do tecido amarrotado. Quando número 17 voltou a olhar para o tatami, Lux estava ao lado de Valo e de Gotenks. Gohan deu um passo em frente, iria avançar para proteger o fedelho, uma atitude irrefletida e inconsequente, mas o namekusei-jin travou-o.

- Fica aqui!

Gotenks baixou o braço. Respirava depressa, estava muito cansado, as forças todas esvaídas e número 17 reparou que, em parte, era devido ao diamante do deus caído que lhe sugava as energias numa tentativa de se reanimar e de proporcionar uma nova oportunidade ao seu dono. A pedra tinha vida própria, o que chegava a ser perturbador.

Gotenks baixou o braço e olhou para cima, para Lux.

Era um deus magnífico, de uma beleza exótica e notavam-se traços semelhantes que o ligavam a Argia e a Valo – seriam, certamente, aparentados, algo como irmãos, apesar de os deuses não terem esse tipo de ligação, como Ozilia tinha explicado. Os olhos, debaixo de uns sobrolhos finos como que desenhados a lápis, eram amendoados, as íris de um tom marinho, mistura de verde e de azul. O nariz pequeno, afilado, a boca discreta, numa linha curta e severa. Os cabelos encaracolados eram do mesmo tom dos olhos. Esguio e elegante, usava umas vestes largas debaixo de uma couraça magnificamente talhada com arabescos, incrustada de pedras preciosas. Confiante na sua invencibilidade e na sua inatingibilidade, usava, tal como os supostos irmãos, o seu diamante de um azul elétrico pendurado ao pescoço, sobre a couraça. Tinha o carisma necessário para fazer vergar qualquer um à sua vontade, bastando um simples olhar ou um gesto mínimo, era alguém incrivelmente perfeito. Mas tratava-se de um tirano e número 17 não se deixou enganar pela sua aparência sem falhas. Son Goku e os outros faziam o mesmo esforço. Lux era, de certo modo, hipnótico.

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