XXI - Armadilhas

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"You'll never be alone.

When darkness comes I'll light the night with stars.

Hear the whispers in the dark."

Skillet, Whispers In The Dark


Iria entrar em ação naquele torneio e estava excitado, apesar de o ocultar debaixo da habitual capa da indiferença. Escolheu pacientemente o seu adversário do lote dos escravos e optou por chamar com um dedo pretensioso o que lhe pareceu mais digno de se enfrentar ao humano artificial mais forte do mundo. Um monstro enfezado, magro, de modos dissimulados, com aspeto de réptil e um conjunto de cinco olhos espevitados. Quando se encararam, sobre o tatami, mudou de cor e fez surgir a língua bifurcada, sibilando e cuspindo. Não lhe meteu qualquer medo e número 17 sorriu antevendo as mesmas facilidades que o namekusei-jin tivera com o seu adversário. Arregaçou as mangas devagar.

O mestre-de-cerimónias gordo olhou em frente, brandiu o cetro e número 17 não esteve com contemplações: movimentou-se rapidamente, colou-se ao réptil e derrubou-o com um gancho esquerdino que o fez saltitar sobre o lajedo como um boneco de borracha. Quedou-se imóvel por largos segundos, desmaiado, os cinco olhos estáticos. Número 17 passou um dedo pelo nariz, sorrindo ufano.

O réptil levantou-se, rodando os globos oculares, a focar o adversário. Mostrou-se mais agressivo, a língua bifurcada assomava-se com mais frequência. Enquanto se posicionava novamente no tatami, número 17 voltou a atacar, com outro gancho esquerdino. Era ainda mais fácil do que julgara, pensou, com um suspiro.

Espreitou a assistência. Son Goku continuava esgotado, a respirar de boca aberta, a recuperar as forças perdidas no combate contra Vegeta e Valo estava ao lado dele, imobilizado numa posição majestosa, parecendo adormecido. Mas vigiava-os atentamente, agora que Argia fora forçado a intervir. Procurou por ela, mas não encontrou Ozilia. Os outros seguiam interessados o combate, apesar de ele julgar que não havia nada de interessante naquilo. Espancar um réptil de cinco olhos não se encaixava propriamente na sua noção de combate, ou sequer na de divertimento.

Por isso, decidiu, de repente, terminar com aquela farsa.

Olhou para o réptil que procurava levantar-se pela segunda vez. A pele escamosa mudava de cor, agora mais depressa, o que poderia indicar várias coisas: estava afetado, ferido, irritado, receoso.

Número 17 esticou um braço, concentrou energia. A mão brilhou e disparou uma esfera compacta que desintegrou o réptil. O fumo que subiu para a atmosfera carregava um odor metálico e tinha cores similares à pele do lutador.

Ao descer do tatami, susteve a vontade de repetir o que o namekusei-jin tinha dito no fim do seu combate, mas aquilo fora, de facto, fácil demais. Olhou para a irmã que passou por ele, prendendo uma madeixa loira atrás da orelha.

- É a minha vez – disse ela com um suspiro. Antecipava um fastio semelhante. Também ela teria julgado que o torneio traria outro tipo de emoção, mais condizente com os seus poderes.

Olhou para Valo, plantado como um sentinela ao lado de Son Goku.

Talvez estivessem a ser todos enganados, retidos por algum motivo ou a serem analisados. O certo era que Lux ainda não tinha aparecido, apesar de ele ter a impressão de que o vira, quando experimentara a fantasia irreal de estar dentro do diamante de Ozilia.

- Bom combate – felicitou o filho mais velho de Son Goku.

Número 17 não entendeu por que lhe falara o rapaz, nem a felicitação. Olhou-o com um desprezo gelado e Son Gohan encolheu-se.

Deuses e DiamantesOnde histórias criam vida. Descubra agora