"When my time comes
Forget the wrong that I've done,
Help me leave behind
Some reasons to be missed."
Linkin Park, Leave Out All The Rest
Número 17 sacudiu a cabeça para afastar a névoa platinada que lhe toldava a fronte e lhe cortava a respiração. Esfregou a cara aflito, para se limpar da secreção peganhenta colada à pele. Pigarreou algumas vezes e arrancou da garganta uma massa de expetoração enegrecida, como se tivesse engolido cinzas, que cuspiu para o chão. Apercebeu-se, só então, que estava de joelhos. Fez um esforço e pôs-se de pé. Encontrou a irmã a olhar para ele desnorteada, com a cara lívida e lavada em suor, a pestanejar demasiado depressa. Bafos de vapor saíam-lhe dos lábios indicando uma acentuada descida da temperatura.
Levantou os braços para olhar para as mãos arranhadas. Sentiu-os pesados e enfraquecidos. Não percebia o que é que tinha acontecido. O príncipe e o namekusei-jin agiam da mesma maneira embrutecida e baralhada da irmã.
Escutou um restolhar, os sons de alguém a recuperar a consciência. Notou que era Ozilia, deitada de costas, espancada e arrasada. Arrepiou-se, procurou pelo diamante cor-de-rosa que ela usava, deu um passo na direção dela, retendo a respiração. Encontrou-o ainda sobre o peito, que subia e descia ao ritmo de uma respiração entrecortada, unido ao corpo dela, e sabia que os ferimentos eventualmente seriam curados e toda a dor banida. Era apenas uma questão de tempo, a recuperação iria acontecer. Se seria rápida, isso ele não conseguia saber, provavelmente menos rápida que um feijão senzu e se precisavam da criatura curada e em plena forma, sabia-o menos ainda. E como todos os problemas que o seu processador não era capaz de solucionar num tempo razoável, tendo em conta as variáveis em análise, foi de pronto esquecido e não se aproximou dela. O diamante bastaria, a presença dele só serviria para irritá-la.
- Acho que eles voltaram ao normal.
A frase vibrou no ar gelado como uma nota desafinada de uma harpa. Fora o filho mais velho de Son Goku que falara. Os dois fedelhos estavam suados, com as roupas amassadas e rasgadas, cansados e com uma cara apatetada, que era todavia diferente da atitude da irmã, do príncipe, do namekusei-jin e, provavelmente, dele próprio. Eles estavam literalmente perdidos, desajustados e desorientados. Aquele trio de saiya-jin arraçados não estava simplesmente a fazer o papel de idiota. Miravam-no a querer assegurar-se que estavam mesmo a vê-lo e que não era nenhuma estranha miragem.
Estava um frio de rachar. Número 17 olhou para o céu toldado de uma espessa camada de nuvens cinzentas e vermelhas, que criava uma cobertura que impedia qualquer tipo de calor de penetrar ali e restabelecer o ambiente tépido anterior. Os bafos de vapor quente saíam da sua boca e da boca de todos os outros, ajudando a criar um cenário cada vez mais assustador por ser estranho. Entreolhavam-se confusos, sem desejarem verdadeiramente arrancar a conversa que poderia esclarecer todas as dúvidas.
A resfolegar, Ozilia pôs-se de pé. Verificou o diamante que sustinha na ponta dos dedos, voltando-o de um lado para o outro, os olhos percorrendo cada centímetro à procura de alguma lasca fatal que a condicionaria dali por diante. Ignorava-os e número 17, que a espreitava pelo canto do olho, também a ignorou. Cruzou os braços.
O príncipe esfregava a cara com a mão metida na luva desfeita e olhava para o filho mais velho de Son Goku.
- Kuso! Foste tu que me bateste na cara?!
Gohan confirmou:
- Hai. Estavas possuído, Vegeta-san... Tu atacaste-me e tive de me defender.
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Deuses e Diamantes
FanficDurante uma caçada na floresta, para onde se exilara, alguns anos depois da derrota de Majin Bu, o androide número 17 encontra uma estranha criatura ferida. Quando decide não a salvar, desencadeia uma série de acontecimentos que o levará até um mund...