XVI - Surpresas

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"Preferias que cantasse noutro tom
Que te pintasse o mundo de outra cor.
Que te pusesse aos pés um mundo bom
Que te jurasse amor, o eterno amor."
Rádio Macau, Cantiga de Amor


Não tinha havido uma noite, mas Goku sentiu, ao despertar, que se tinham passado uma imensidão de horas, que o sol, algures, numa memória distante mas familiar, nascera e que ele precisava de se levantar daquela cama. Espreguiçou-se com espalhafato, deliciando-se com a macieza do colchão. Estavam todos muito bem alojados, disso não havia dúvida.

Estirou os braços por cima da cabeça, abriu a boca emulando uma caverna. Ao querer mexer as pernas, sentiu um peso sobre as coxas e levantou a cabeça. Descobriu o filho mais novo a dormir ferrado, deitado sobre ele, babando-se, ressonando ao de leve, o que lhe arrancou um sorriso. Voltou a cabeça para a esquerda e viu que Trunks também dormia da mesma maneira de Goten, abandonado e inocente, na cama do lado. Voltou a cabeça para a direita e descobriu Vegeta ajeitando uma das luvas. Envergava o seu uniforme de combate e estava com uma cara de poucos amigos.

- Levanta-te, Kakaroto – disse-lhe, sem o encarar. – Temos de saber onde irá acontecer esse famoso torneio.

- Hai, Vegeta... – concordou com pouca convicção.

- Acorda-os.

E, depois, o príncipe escancarou a janela e entrou uma luz radiosa pelo quarto adentro. Debruçou-se sobre o parapeito e ficou a observar o que quer que se visse dali. Trunks resmungou alto, tapando a cabeça com o travesseiro. Goten resvalou simplesmente para o colchão, saindo de cima das pernas do pai, continuando o seu sono profundo. Goku sentou-se na cama, coçou o cabelo, bocejou uma segunda vez. Abanou o filho e chamou pelo filho de Vegeta. Goten entreabriu um olho.

- Hum?...

Goku sorriu-lhe.

- Vamos, levanta-te. Temos um longo dia pela frente.

- O torneio vai começar... hoje, 'tousan? – Perguntou o miúdo com a voz rouca.

- Não sei. Se calhar... Olha, acorda aí o Trunks, está bem?

- Hai... – respondeu ensonado.

Vegeta continuava a olhar pela janela, demasiado parado. Goku agarrou nas suas botas e começou a calçar-se. O seu estômago protestou e passou uma mão pela barriga.

- Já comia qualquer coisa... O que é que estás a ver, Vegeta?

Como não obteve resposta, juntou-se ao príncipe e olhou também pela janela.

Na verdade, não se via nada. Era uma imensidão ilimitada de branco, que lhes bafejava a cara com um hálito gelado.

Os dois rapazes levantaram-se contrariados e vestiram os respetivos dogi ainda meio adormecidos. Vegeta dirigiu-se para a porta do quarto e Goku fechou a janela. Levou a mão à túnica e retirou o diamante que guardava aí. Estava totalmente inundado pela bolha alaranjada, emitia uma espécie de calor, mas não brilhava. Apertou-o e, ao fazê-lo, sentiu-o amolecer como se tivesse entre os dedos gelatina. Ou algo como um coração. Arrepiou-se.

Focou-se noutro assunto e perguntou:

- Vegeta, não queres comer?

- Eu quero comer, 'tousan – choramingou Goten e recebeu uma cotovelada de Trunks.

O príncipe carregou uma sobrancelha.

- O que é que se passa? – Ao reparar no diamante, Vegeta acrescentou: – O diamante está a dizer-te alguma coisa?

Deuses e DiamantesOnde histórias criam vida. Descubra agora