XXIII - Lutar

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"Where there is a flame, someone's bound to get burned.

But just because it burns,

Doesn't mean you're gonna die.

You've gotta get up

And try, try, try."

Pink, Try


A chuva fustigava a arena.

Despertou de mansinho, recuperando, uma por uma, todas as funções vitais do corpo abatido. Sentia-se enfermo e desgraçado, quebrado em mil pedaços dispersos, desfeito numa papa borbulhante que ousava sentir-se viva.

A obstinação e a teimosia classificavam-no inequivocamente, quase como o orgulho e a honra. Tudo nele sempre fora excessivo, até as derrotas, as vitórias e as paixões. E mesmo que tivesse a tentação de se render ao desespero, por, mais uma vez, não estar a conseguir superar o maldito adversário que o desmontava, bloco por bloco, até conseguir expor-lhe o tutano, ele haveria de resistir sempre, com os seus excessos todos intactos, mesmo que o corpo se convertesse num monte de cinzas. A obstinação, a teimosia, o orgulho e a honra, não necessariamente por esta ordem. Porque isso não era passível de ser incinerado.

Vegeta encheu os pulmões de ar e tossiu, porque quase não havia oxigénio naquele ambiente salobre. Esgravatou o solo com as unhas e soergueu-se nos braços trémulos. Estava perigosamente drenado, mas fez mais um esforço. Levantou a cabeça, a testa estava empapada em suor e em sangue. Fez um esgar que se assemelhava muito a um sorriso e ele gostou de enviar essa mensagem – de que nada o iria quebrar.

Uma onda de calor envolveu-o e a visão ficou vermelha. Outro ataque de Argia. Havia labaredas escaldantes e ramagens espinhosas a tentar despedaçá-lo, mas ele resistiu. Elevou o ki e libertou-se do ataque. Rebolou e deixou-se ficar deitado de costas, a respirar ofegante, a receber as gotas de chuva no rosto como lágrimas que lhe suplicavam que se aguentasse firme naquele combate.

Nisto, soube que a solução era simples.

Abriu os olhos, controlando a respiração. Era demasiado simples.

Ergueu-se, triunfando sobre o desânimo. Bradou:

- Argia!!

Obteve apenas silêncio e insistiu:

- Argia! Mostra-te, cobarde.

Ouviu uma voz pausada do lado direito.

- Estou aqui, príncipe dos saiya-jin. O que pretendes?

Vegeta voltou-se devagar. O deus guerreiro cruzava os braços e olhava para baixo, a cismar com qualquer coisa insignificante que estava no chão, a poucos centímetros da biqueira das botas.

- Vamos recomeçar este combate.

- Sabes que se trata de uma questão de segundos. Basta eu querer... e acabo contigo.

- Mas não queres. Porque sabes que existe uma possibilidade...

Argia inspirou profundamente, cismando agora com o horizonte soturno recortado em picos de ferro.

A chuva envolvia os dois adversários no mesmo destino negro e bafiento.

Vegeta completou:

- A possibilidade de vencer-te. E tu queres comprovar se o príncipe dos saiya-jin consegue derrotar um deus.

- Não consegue.

- Tu sabes que consegue! – Rugiu Vegeta. – Já o viste!

Argia aproximou-se tanto que ele teve de se inclinar para trás. Cuspiu-lhe a frase:

Deuses e DiamantesOnde histórias criam vida. Descubra agora