XXVIII - Intrépido

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"Make your dreams come true

Don't give up the fight,

You will be alright

'Cause there's no one like you in the universe."

Muse, Invencible


Com muito cuidado, Gohan introduziu o senzu na boca da deusa, fazendo-o passar pelos lábios queimados. Ela não teve qualquer reação e ele ficou inquieto.

- Nii-chan...?

A voz sumida do irmão impeliu-o a agir. Apoiou uma mão no queixo dela e empurrou, de maneira a que os dentes trincassem o senzu e os primeiros sucos descessem pela garganta para que começassem a atuar.

- Estás a obrigá-la a comer?

A pergunta assertiva de Trunks, num tom distinto à timidez terna do irmão, fê-lo espevitar-se e tornou a empurrar o queixo dela.

- Hai. Ela está tão apagada que nem tem o reflexo de mastigar.

O pequeno feijão estalou repetidamente, enquanto os dentes o desfaziam por via do maxilar impulsionado cuidadosamente por Gohan. Então, Ozilia começou a reagir, muito devagar. Continuava inconsciente, o ki num mínimo perigosamente baixo, mas quando ele viu que no interior escuro do diamante começou a brilhar uma ínfima bolha cor-de-rosa, soube que ela estava salva. Era apenas uma questão de tempo. A esperança dos dois rapazes junto a ele, que era algo tépido e benfazejo, também ajudou.

Um estremeção sacudiu o corpo da deusa e Gohan segurou-a com mais força, à medida que os poderes curativos do senzu penetravam mais fundo, até à última fibra de cada célula. O ki explodiu alcançando um nível normal, o diamante coloriu-se de um tom forte de rosa. Ozilia inspirou o ar com sofreguidão, fazendo a garganta vibrar como um rugido, escancarou os olhos dourados saudáveis, húmidos, vivos e foi assim que ela despertou das garras da morte.

- Boa! – Exclamou Goten eufórico.

- Muito boa! – Confirmou Trunks partilhando a mesma euforia.

Ela ficou hirta ao ver-se nos braços de Gohan e adotou aquela expressão antipática que todos os deuses usavam para se dirigir a quem era diferente deles.

- Foste curada com um senzu, Ozilia-san – explicou ele acanhado, mas sem a soltar do abraço e ela sem se libertar do mesmo.

- O último senzu?

- Hai.

Transtornada, ela mostrou-lhe a dentadura cerrada, os sobrolhos franzidos, a testa enrugada e a cara toda torcida numa carantonha horripilante que sempre era preferível à ausência de expressão. E depois resmungou:

- Baka!...

Gohan sabia que ela falava do seu pai. Quis responder, apeteceu-lhe dizer alguma coisa, mas quedou-se a contemplá-la, hipnotizado com aquela inusitada proximidade a uma criatura intrigante e bastante atraente, com o cérebro às voltas a tentar, sem sucesso, organizar uma frase. E ela deixou-se estar ali, à espera que ele se decidisse: ou a falar ou a soltá-la.

Segunda hipótese. Gohan aligeirou o abraço, finalmente, e ela levantou-se com agilidade, deixando-o, estranhamente, vazio e frio. Encontrou Goten e Trunks a olharem para ele com ar de caso.

- O que foi?

- Tu não tens uma namorada? – Censurou Trunks.

Gohan corou estupidamente.

Deuses e DiamantesOnde histórias criam vida. Descubra agora