A Outra Coisa No Espelho

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メメメメメメメ۝メメメメメメメ

Somos todos malucos. Quem não quer ver malucos, deve quebrar os espelhos.

Voltaire

メメメメメメメ۝メメメメメメメ

- Vai, tira a roupa, Fabinho - Rodrigo disparou antes mesmo que eu fechasse a porta do vestiário.

O sol ainda tingia o céu lá fora, cobrindo o fim de tarde num tom sangrento, mas já não havia ninguém por perto, só eu e ele. Era o nosso dia de recolher o equipamento de treino na quadra e eu imaginava que ele iria tentar me convencer a ficar com ele, pois vinha me seguindo o dia inteiro. Me olhava como um grande felino espreitando um passarinho distraído.

Eu segui para os chuveiros e enquanto ele me acompanhava de perto, senti seu olhar em minhas costas. Segurei a cortina da cabine com a ponta dos dedos e respirei fundo, meu estômago se contorcia com um calor recém adquirido. Havia muitas coisas que eu poderia dizer a ele, mas o máximo que eu pude fazer foi umedecer os lábios e gaguejar:

- Eu nã-não vou fazer isso Rodrigo, e-eu já disse que eu não vou ser uma foda passageira de nin-ninguém. - Apertei os olhos com vigor, me fiz parecer mais sério do que eu estava. - Tava legal, mas chantagem comigo não rola. Eu não quero mais nada contigo e já te paguei todo o dinheiro que eu tinha.

Mal fechei a cortina, e ele, rápido, projetou-se, o corpo enorme contra mim, empurrando meu rosto com força contra a parede da cabine ao lado.

- Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. - Ele me encarou com uma expressão assustadora, segurando meus braços com brutalidade. Meu rosto havia se chocado contra a porcelana e estava formigando enquanto eu resistia e me debatia contra ele.

- Não faz assim não, viadinho. A gente tá sozinho aqui, ninguém vai poder te ajudar - ele tirou o short e a cueca em um puxão único com a mão livre, a visão dele excitado me causou um lapso vertiginoso, como se tudo de repente corresse num tempo mais devagar. - Só se for a loira do banheiro.

A cortina, parcialmente aberta mostrou o espelho de um armário com moldura antiga que ficava na parede entre as duas últimas cabines dos chuveiros, ao lado dos bancos. Meu reflexo estava distorcido, assustado, ainda era eu? Meu cabelo fazia uma sombra cobrindo parte do meu rosto, era maluquice total pensar, mas mesmo assim, parecia que eu estava sorrindo no reflexo.

A loira do banheiro! Foquei o pensamento nisso, acompanhado de uma ânsia que me fez morder a ponta da língua com força para não desmaiar. Eu poderia chamar ela. Ou não? Sempre há uma desconfiança morando nos nossos próprios olhos no espelhos porque temos medo dos monstros lá dentro. Fossem eles sobrenaturais ou de carne e osso.

Sim, eu tinha medo do monstro que estava refeltido no espelho naquele momento e eu me debatia contra ele, tanto que estava divagando.

Fui trazido de volta a realidade quando Rodrigo cheirou meu pescoço suado e lambeu o suor que escorria no meu rosto. - Eu gostei de você, de verdade. Moreninho assim, tem um rabão que parece de uma mina. Você gostou também. E se você não me fizer o que eu mandar eu solto seu videozinho no grupo do colégio, pro pessoal do bairro, pra tua mãe... Imagina a cara de todo mundo vendo você todo empinado pra mim aqui no vestiário.

-Por favor, Rodrigo. - eu suplico, enojado, enquanto ele morde minha orelha, comprimindo sua ereção contra mim. O asco percorre meu corpo num calafrio. Minha voz sai embargada: - Me deixa em paz velho, não quero mais ficar contigo.

Mordidas: Contos Estranhos, Eróticos e GrotescosOnde histórias criam vida. Descubra agora