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Quem tem medo
o bode chega cedo.Helgir Girodo
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- É o quê? - Toninho piscou. - Aquela bruxa doida te jogou praga foi?
A pressão da água no chuveiro aumentou em um estalo, enquanto ele estudava a esposa tirar a farda da lanchonete em que ela trabalhava, os cabelos loiros cobriram os seios assim que ela a puxou pela cabeça.
Elvira sorriu, e encenou uma voz anasalada: - Há de berrar por perdão, quando menos esperar!
- Se benze, parece até ameaça! - Toninho disse devagar, quase sussurrando.
- E tudo isso porque ela quase engasgou com uma azeitona!
O marido roncou uma risada abafada pela água caindo na cara e encarou um hematoma vermelho na testa pálida da esposa. - Ela nunca foi a lanchonete né?
- Não, e eu acho que ela só tava estressada... e nem acho que era comigo...
- Por quê?
Elvira abriu a boca para responder, mas, a chaleira chiou alto, e ela praguejou enquanto se enfiava no roupão e disparava para a cozinha.
Ouviu um "volta logo" do marido, e acenou com a mão enquanto saía do banheiro ajeitando o cabelo num coque.
O olho esquerdo ardia, como se tivesse revirado molho de pimenta nele. E sua cabeça ameaçava uma enxaqueca futura. O chá resolveria, ela tinha certeza.
Puxou a chaleira até a pia, e em um descuido queimou o dedo com vapor.
Irritada, tateou a torneira, abriu a água e enfiou o dedo embaixo lembrando da tal cigana-bruxa de mais cedo.- Olha dona, eu não sou de granfinagem não. Mas eu quase engasguei com um caroço de azeitona... - A mulher estendeu a mão e nela havia um caroço esverdeado, envolto de uma baba translúcida; provavelmente saliva.
- Desculpe senhora, mas eu não sei o que posso fazer para ajudá-la quanto a isso!
Elvira encarou a enorme quantidade de pulseiras no braço da moça enquanto ela ajeitava a cabeleira preta com a outra mão.
- Dona, não vou tomar seu tempo não. Devolve meu dinheiro que eu vou-me embora!
- Senhora, nisso eu não vou poder te ajudar... é política da empresa a não devolução caso tenha consumido tudo, que foi o seu caso.
Os outros clientes pararam observando a cena que começava a desenrolar ali.
- Pois eu não vou sair daqui se não me devolver! - A mulher fez uma carranca tão feia, que Elvira deu um passo curto atrás do balcão.
O segurança, como se adivinhasse a confusão que se aproximava, chegou ali bem na hora. - Posso ajudar senhora?
Elvira ensaiou um sorriso em sua direção, agradecendo mentalmente a ele.
- Pode sim, meu rapaz, quero cá meu dinheiro de volta e a mocinha aí não quer me dar!
- Já expliquei senhora, não posso devolver. A senhora consumiu tudo, se tivesse dito antes eu até...
- Pois enfie aí no cu! - A mulher avançou para cima dela, mas foi contida pelo enorme braço do segurança que a arrastou para fora da lanchonete. Não antes de disparar todo o tipo de palavrões contra Elvira.
Quando por fim chegou a porta, escapou um braço, desviando do homenzarrão fardado que a carregava e atirou a azeitona pelo ar, acertando em cheio a testa de Elvira.
- Há de se berrar por perdão sua cadela, quando menos esperar... berrar, sua rapariga! - Ela praguejou, e a porta se fechou em sua cara logo em seguida.
Elvira, não sabendo se por vergonha ou graça, e sem entender aquela explosão nervosa da moça pegou a azeitona e segurou no ar, pedindo desculpa aos clientes. E um burburinho de risadas e comentários se espalhou, espantando o clima pesado.
Mas a atendente ainda estava inquieta horas depois. Já em casa, com a testa dolorida e a cabeça cheia pensava na bruxa. Doida a mulher não parecia, mas nunca se sabe.
A presença do marido a trouxe de volta dos seus pensamentos, ele ainda estava molhado, havia saído há pouco do banheiro enrolado em uma toalha e a abraçou pelas costas. - Não voltou logo...
- Queimei o dedo. - Ela disse, inclinando a cabeça para trás, apoiada em seu ombro. - Preciso de cuidados extremos.
Toninho desatou o roupão da esposa que caiu aos seus pés. Então beijou seu pescoço, descendo a mão até chegar em sua bunda, e por instinto ela se inclinou para frente e apoiou as mãos na pia.
Toninho entendeu seu sinal e dirigiu a mão para entre suas pernas a tocando em movimentos circulares. Estava úmida logo e logo ele estava duro, conduzindo ela até o quarto. Assim que fechou a porta, guiou a esposa até a cama.
Desfeito da toalha, não demorou para penetrá-la, beijando e mordendo seu pescoço, a cintura se movendo em um vai e vem. A bunda do homem indo e vindo, firme. O quarto foi preenchido pelo barulho dos corpos suados se chocando, os gemidos abafados por mordidas e beijos quentes e demorados.
Elvira, de vez em quando se empolgava e dava uns gemidos mais altos e demorados num tom de voz mais grave, que Toninho entendia como prazer, mesmo que ela nunca tivesse feito aquele som.
Levaram algumas horas e muitos orgasmos para pegarem no sono, exaustos.
Toninho despertou horas depois. Passava da meia noite quando tocou o cabelo da esposa e estranhou a rigidez dos fios, e em como estavam curtos e pontudos. Ela roncava alto também, o que era incomum.
Então, assim sem muito ânimo Toninho acendeu o abajur ao lado da cama e quando virou para a esposa deu um grito, assustado.
Ao seu lado, havia não a sua Elvira, mas sim um bode de cor de cinza, com uma mancha preta no meio da testa.
O bicho abriu os olhos, espantado também e deu um berro horroso que varou a noite...
Beeeeeeeeeeé!
Então Toninho acordou do pesadelo.
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Mordidas: Contos Estranhos, Eróticos e Grotescos
ParanormalEm um mergulho audacioso no mundo do prazer e do medo, "Mordidas" apresenta uma antologia inovadora de contos eróticos de terror. O livro transporta os leitores a um território desconhecido, onde o prazer é vivenciado em toda a sua intensidade e for...