B(l)ackrooms

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メメメメメメメ۝メメメメメメメ

Eu estava dormindo e me acordaram
E me encontrei, assim,
num mundo estranho e louco[...]

Mario Quintana

メメメメメメメ۝メメメメメメメ

CHICO LARGOU OS PERTENCES NA CAIXA DE ENTRADA DA BOATE - A CONTRAGOSTO - e o rapaz que ficava no balcão e parecia o boneco Ken de cabelo rosa e batom, tinha cara de cu o suficiente para Chico saber que não devia brincar sobre levar o celular escondido.

Colocou uma pulseira verde no braço e seguiu pelo corredor durante alguns instantes, passando por salas pouco iluminadas. Passou a mão suada pela cintura, sentindo um calor incômodo. Luzes vermelhas, roxas ou azuis acompanhadas de uma batida baixa e ritmada de uma música sem letra preenchiam os cômodos pelos quais ele passava. A maioria deles estava de portas abertas, e os poucos que tinham as portas fechadas deixavam escapar o som de gemidos e outros sons que Chico conhecia bem.

Ele chegou na pista de dança daquele clube remexendo o corpo ao som da música, a mesma que tinha ouvido segundos antes, no corredor. Ritmada, cheia de batidas e estalos. Haviam homens dançando com os corpos coladinhos, esfregando os membros de forma sensual, alguns estavam visivelmente excitados e pareciam realizados com isso. Muitos estavam praticamente seminus, outros pareciam nem estar vestidos naquele ambiente escuro.

- O que vai ser, bonitão? - perguntou o barman, Chico estava com o pensamento tão vidrado na pista que não percebeu que faziam quatro minutos que estava encarando o homem.

- Rapaz, não me encara assim não, bonito desse jeito aí, olha que eu pulo o balcão hein? - o barman fez um biquinho com uma expressão exagerada.

- Oi? Ah desculpa, vai ser um whisky. - Chico sorriu. Em seguida brincou: - É que é impossível não te encarar mesmo, muito sedutor. - Achava impossível mesmo. Esse barman estava usando uma camisa social tão apertada que os botões poderiam voar a qualquer momento como mísseis de plástico e linha.

Chico estava com o mesmo frio na barriga de quem vai a um primeiro encontro, indo jantar com um primeiro amor, e não entendia de onde vinha aquela sensação. Afinal, um jantar com um amor era muito recatado em comparação com aquele lugar e amar alguém era complicado pra ele, que só podia ser quem era de verdade daquele jeito.

Não gostava de ir a lugares assim.
Afastou o pensamento assim que o whisky desceu queimando na garganta e ficou mexendo o corpo, afastado da muvuca quente que rolava no meio da pista.

Havia pedido mais um copo de whisky assim que o primeiro acabou, minutos depois pediu outro, e a sensação não ia embora. Já estava pela metade do quarto copo quando ouviu:

- Perdido por aqui meu lindo?

Chico virou-se para ver de onde vinha a voz, e se deparou com um homem saído das obras gregas. Alto, bonito e musculoso, a pele bronzeada chegava a brilhar, pelo que Chico imaginava ser suor.

Na Grécia eles chamavam algumas obras de tragédias. Um pensamento intruso surgiu, e ele coçou a nuca com a ponta dos dedos, tanto para espantar o pensamento quanto para fazer charme para os olhos profundos e azuis que o encaravam de cima. Chico era alto, e tinha um corpo moldado, resultado de um ano e meio de academia. Mas aquele homem o superava em ambos os quesitos.

- Perdido por aqui? - repetiu o bonitão.

- Talvez. - disse por fim, encarando o homem de volta, de cima a baixo. Ele usava roupas justas, uma camisa branca e uma calça preta que tentava cobrir as pernas musculosas. - Quer me ajudar a encontrar o caminho de casa?

Mordidas: Contos Estranhos, Eróticos e GrotescosOnde histórias criam vida. Descubra agora