メメメメメメメ𓆏メメメメメメメ
O sapo preso no poço,
não conhece o oceano.Provérbio japonês
メメメメメメメ𓆏メメメメメメメ
A noite caiu mais escura que nunca.
De vez em quando um sapo coaxava triste e esticava a língua pegajosa para um grilo. Uma trilha sonora que parecia escurecer cada vez mais a noite; piados agourentos de corujas, chocalhos, guizos, um coaxar aqui e ali.
Mas de tudo, sobressaiu-se um coro de vozes que escapava no vento, vindo de longe, bem pro fundo virgem do mato, lá nos brejos.
O caçador, bem moço ainda, bonito e com um corpo viçoso, já estava bem longe do rancho e de vulto em vulto pelo mato fechado, aproximou-se sorrateiro daquela estranheza. A cartucheira tremia na mão e o dedo estava em prontidão no gatilho.
Tirou a cabeleira loira da cara e limpou o suor da testa.
Uma luz de fogueira no meio de uma clareira destacou sete longas silhuetas girando em volta do fogo. Eram todas mulheres, entoando preces incompreensíveis, entulhando vísceras de sapo, chocalhos secos e tantas outras nojeiras no braseiro.
Estavam nuas; não fossem máscaras ósseas que cobriam os rostos e mantos verdes feitos de musgo e cobertos de flores que escondiam suas costas. As máscaras - crânios amarelos de caititus, veados e outros bichos de grande porte - estavam enfeitadas com cipós e ramos.
O suor ardia nas dobras do braço, mas batia uma brisa do meio da clareira que logo esfriava; suor e alma.
Fez tantas vezes o sinal da cruz que perdeu o rumo da reza. Pois não pensou na nudez das estranhas, ou no quanto a mata tinha ficado tão quieta de repente. Muito menos nos pedaços de animais queimando, mas sim na brisa fria que vinha da fogueira.
Não o calor familiar das lufadas do ar quente, mas um frio que o fazia querer chorar e sair correndo, chamando pela mãe.
Não sabia por quanto tempo ficou dali, detrás das árvores, olhando assombrado pro ritual que sucedia na sua frente, mas quando tomou coragem pra fugir, correndo sem rumo pelo meio do mato, que o pânico tomou conta.
Foi um estrondo alto que o despertou, como se a terra estivesse rosnando ou o céu tivesse quebrado sobre sua cabeça. Virou-se para a fogueira a tempo de vê-la minguar e diminuir.
Antes de apagar, no pouco de luz que ainda tinha, o caçador pensou que os rostos cobertos com as caveiras de bichos, tinham virado para o seu lado, olhando naquela direção.
Naquele momento respirou fundo, apertou a cartucheira e se virou, devagar, pisando leve pela mata. Mas, uma mão saiu do meio do mato e o segurou no pulso, depois outra o segurou na perna e mais outra.
Ao tombar no chão, a cartucheira roncou e um tiro partiu na noite.
Os gritos do homem também quebraram o silêncio, pois tinha visto de relance no clarão da arma os crânios, e o som que saía deles - imaginou serem risadas - mas pareciam com o coaxar dos sapos.
Pouco antes de perder a consciência, um cheiro de madeira queimada invadiu o nariz...
Quando acordou estava nu, amarrado por cipós pelos pulsos e pernas em uma árvore. Se debateu ao ver, em um semicírculo à sua volta, as sete mulheres fazendo algum tipo de reza, todas com as mãos estendidas para ele.
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Mordidas: Contos Estranhos, Eróticos e Grotescos
ParanormalEm um mergulho audacioso no mundo do prazer e do medo, "Mordidas" apresenta uma antologia inovadora de contos eróticos de terror. O livro transporta os leitores a um território desconhecido, onde o prazer é vivenciado em toda a sua intensidade e for...