la tempête

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Inverno

Era tarde quando tudo começou; Elizabeth sequer sabia que dentro dela existia uma semente, fruto da mescla de suas células e das células de Robert. Mas isso não impugnava os fatos. Ela estava grávida.

Os sintomas já apareciam; enjoos matinais aqui e ali. Apenas alguma besteira que ela deveria ter comido, era o que Robbie dizia. Suas amigas do trabalho diziam que ela precisava aprender a cozinhar e parar de comer requentado e seu chefe abominava suas idas ao banheiro.

Ela não sentiu que ele estava ali, germinando dentro dela. Ele apenas estava. Até não estar mais.

Numa noite de quarta-feira, Elizabeth sentiu uma dor tão intensa em sua barriga que pensou que morreria; não iria aguentar mais uma semana daqueles enjoos. No entanto, aquilo era algo mais. Com certeza, algo mais, porque nunca tinha doído tanto. Ela não se preocupou muito; pelo menos até se levantar para tomar algo e ver a poça de sangue que se formava em seus lençóis, na altura de suas coxas.

Ela gritou Robert, que acordou assustado e correu com ela para o hospital. Parecia menstruação, mas não era. Ela sabia que não. Esse foi o seu primeiro.

Na época, ocorreu tudo tão rápido que ela não teve tempo de se ressentir; o embrião ainda era um sonho, pequeno e disforme demais para ser dotado de sentimento. Elizabeth passou dois meses sendo acompanhada pelo médico, para assegurar que estava tudo bem.

Robert sim, ficou estático; saber que existia um bebê no forno, trouxe-lhe tantos sentimentos, ainda mais por apenas sabe-lo quando já era tão tarde. Ele sempre foi um bom marido, mas a partir daquele evento, passou a se atentar mais à mulher; a estudar sinais e sintomas de gravidez, para compreender o corpo feminino e conseguir identificar quando fosse para valer.

Foi por isso que, meses depois, já na primavera, ele notou; Elizabeth estava no banho, a cortina aberta (ela nunca fechava) quando ele entrou no cômodo para escovar os dentes. Sua pele estava macia, seus seios levemente maiores. A curva de seus quadris com certeza estava avantajada. Mas o que o fez concluir de verdade foi quando ela falou que estava faminta pois nada que comera tinha conseguido digerir. O enjoo estava de volta.

Ele não falou nada; fez uma torta de aspargos - a preferida de Elizabeth - para o jantar e a acordou com panquecas no dia seguinte. Robert apenas nutriu aquele sentimento em silêncio, sem conseguir verbalizar aquela sensação que crescia em seu âmago.

Só ficou claro que eles teriam um bebê quando ligaram do hospital, era pouco depois do almoço, Robert descansava no sofá da mecânica, quando Ann Lee o informou que Beth tinha sofrido um aborto espontâneo. Mais um.

Mas tudo bem, porque naquela época eles ainda estavam brincando de formar uma família, sem necessariamente pensar nisso de fato. Robert sabia que Elizabeth queria filhos; um punhado deles. Ela amava crianças, amava seu cheiro, amava cuidar dos outros. Seus olhos brilhavam sempre que ela via algum acessório de bebê e até mesmo a casa já tinha sido escolhida com o intuito de criar a vida. Era um consenso para o casal o quanto "filhos" era uma parte importante de suas vidas e como eles queriam muito ter uma família grande e feliz.

Em uma noite, quando eles jantavam em Manchester, em uma das viagens de moto que fizeram, Elizabeth apenas disse de uma vez.

- E se nós tentarmos um bebê? Tentarmos para valer?

Robert queria sorrir, mas não podia até conseguir estar seguro de que era isso que ela queria.

- Por que essa ideia de repente?

- Por que não?! - Ela sorriu cobrindo a mão dele com a própria por cima da mesa. - Nós podemos fazer tudo com acompanhamento médico, por segurança.

lonely roads that leads to no where | l.s. ficOnde histórias criam vida. Descubra agora