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No final, todo mundo é míope. Ninguém se enxerga muito bem.

                                                                                                               - Lua Kalt

– KAI, pensei muito a respeito disto que quero lhe dizer. – Jennie manteve a voz baixa para tentar manter a conversa entre ambos em privacidade, oculta do restante dos clientes que jantavam no restaurante.

Após sua conversa com Hanbin na praia naquela tarde, havia se dado conta de que teria que lidar com o assunto antes que começasse a trabalhar na semana seguinte.

– Valorizo a nossa amizade. É muito importante para mim. Mas acho que não devemos arriscá-la tentando transformá-la em algo mais.

Depois de proferir palavras tão constrangedoras, ela conteve a respiração e aguardou a resposta de Kai. Os sons ao redor pareceram subitamente amplificados: garfos batendo em pratos, os passos dos garçons no piso cerâmico e até o ruído das tortillas ainda quentes sendo colocadas no molho.

Sem que o sorriso se apagasse do rosto bonito, Kai passou o guardanapo pelos lábios e, então, sorveu um gole de água. Estava ganhando tempo para lidar com a própria reação, percebeu Jennie pesarosa.

– Sei que vamos ficar bem. O nervosismo é natural antes de se dar um grande passo num relacionamento. Não deixe que isso preocupe você.

Não. A expectativa era natural. A excitação também. E, com certeza, o nervosismo, caso estivessem em circunstâncias do tipo "Ele vai gostar de me ver nua?" e "Ele estará disposto a posições criativas?". Mas aquela inquietação, a vontade de correr, a voz ao fundo de sua mente gritando "não"? Nada disso era normal.

O que precisava dizer para deixar seus sentimentos claros? Não queria magoá-lo.

De qualquer modo, precisava esclarecer a situação. Após a sua reação de manhã a "morena sexy da praia", como ainda se referia em seus pensamentos ao pedaço de mau caminho chamada Lalisa, não haveria meio de aceitar um relacionamento sem sexo. A química, o desejo, a paixão eram fatores fundamentais. Tivera de se conter para não perseguir a mulher pela praia, atirar-se aos pés dela e lhe implorar que a deixasse compensá-la pelo comportamento estranho do irmão. Uma massagem completa naquele corpo viril seria uma boa maneira.

Ora, havia ficado tão excitada pensando nela que acabara tendo dois orgasmos no chuveiro enquanto se preparara para sair para jantar. Era evidente que o subconsciente estava lhe enviando uma forte mensagem de que ela e Kai não se destinavam a ser um casal.

Mas ele não estava dando atenção ao seu subconsciente. Nem às suas palavras, aliás. O que isso dizia sobre a sintonia de ambos? Kai tinha o costume de acreditar que bastava ignorar algo de que não gostava para que o problema gerado acabasse desaparecendo. Tendo tentado isso por vezes o bastante e ainda com os pais para provar que não ia dar certo, ela podia ao menos ser compreensiva.

– Querida, nós sempre nos divertimos muito juntos – disse Kai animadamente, sacudindo o garfo no ar como meio de indicar que era desnecessário se preocupar. O cabelo loiro reluzia com os reflexos dos lustres coloridos, em formato de piñata, e os dentes perfeitos faiscavam.

– Formamos um ótimo par. Estamos em total sintonia. Nossos interesses, objetivos, valores, todos se encaixam.

Isso é o que conta, certo?

Jennie obrigou-se a curvar os lábios num sorriso de assentimento. Porque, naquele aspecto, ele estava certo. Ambos estavam em sintonia e se divertiam juntos. Mas não era o bastante.

Sailor (Jenlisa)Onde histórias criam vida. Descubra agora