Catorze horas depois, Jennie entendeu o que era o medo extraindo cada gota de energia de um corpo.
Estava completamente entorpecida.
Apoiando a cabeça nos braços junto à bancada do "laboratório", tentou fazer com que os dentes parassem de bater.
Desde a ponta dos pés descalços – que ficavam ainda mais frios a cada vez que olhava pela janela para a terrível nevasca lá fora – até o alto da cabeça latejante, estava congelada.
Desesperada por um foco de pensamento que a desviasse das horrendas visões que seu raptor incutira em sua mente, apelara para os livros. Em algum momento por volta das 3h00, havia preenchido um caderno de anotações. Não era nada capaz de produzir os resultados que ele desejava. Mas talvez o suficiente para aparentar que eram possíveis, o que poderia ajudá-la a ganhar tempo.
As palavras eram um borrão numa das páginas agora.
Jennie levou um minuto para perceber que era porque estava chorando, as lágrimas faziam a tinta escorrer.
Um som, não muito mais que um sussurro ao vento, chamou sua atenção. Seu corpo se preparou de imediato por dentro. A tensão, tão forte que até o couro cabeludo doeu, tomou-a de assalto.
Mal se atrevendo a respirar, moveu a cabeça ainda apoiada nos braços apenas um pouco a fim de poder espiar por sobre o ombro.
Droga.
Piscou algumas vezes, tentando focar o olhar no vulto parado do lado de dentro de uma janela que devia ser pequena demais para que um corpo passasse por ela. O ar gelado envolveu-a como uma mortalha, fazendo-a piscar outra vez.
Tremores se alastraram por seu corpo, sacudindo-o incontrolavelmente. Ela ainda não conseguiu reunir forças para erguer a cabeça.
– Eu gostaria que as alucinações viessem junto com uma sensação de calor – resmungou para o próprio braço.
O vulto se moveu. Ela piscou mais algumas vezes, esperando que ele se desvanecesse. Mas aproximou-se mais.
E mais ainda.
Quanto mais perto o vulto chegava, mais Jennie se convencia de que tudo era mera ilusão, criada por uma mente ávida por lhe dar uma doce válvula de escape.
– Vamos – ordenou a ilusão.
Ela não ficou surpresa com o fato de que a alucinação tinha a forma de Lisa, sua voz possante.
Afinal, todos os seus pensamentos sensuais, seus devaneios e fantasias giravam em torno da fuzileira sexy. Na maior parte deles, porém, ela aparecia nua e os arrepios eram sempre de ordem sexual.
– Claro, vou com você – disse num tom de provocação.
Talvez fosse melhor usar de bom humor com a mente já que se dera ao trabalho de conjurar uma imagem tão perfeita da mulher dos seus sonhos.
– Mas se eu for, terá que me recompensar com beijos e deleite sexual. Já fiz os cálculos. Ao aparecer na festa e se revelar um fruto proibido – disse à alucinação –, você me privou de pelo menos 27 orgasmos. Concluí que seria o total que eu teria se a paixão tivesse seguido seu curso.
O vulto gelou por um segundo e, então, sacudiu a cabeça como se quisesse livrar os ouvidos de estática.
Parecia um arsenal ambulante, com uma arma automática pendurada no ombro, pistolas junto aos quadris e uma fileira de aparelhos de ar assustador no cinto. Usava uma jaqueta branca impermeável para frio intenso com capuz e uma máscara de tecido cobrindo a parte inferior do rosto. Apenas os olhos estavam visíveis. Eram do mesmo castanho vívido que ela se lembrava. Então, tornaram a ficar distantes. Alertas, avaliando, movendo-se constantemente em torno do recinto e quase tão frios quanto a neve do lado de fora.
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Sailor (Jenlisa)
FanfictionMuitas mulheres se sentem atraídas por pessoas fardadas, mas não Jennie Kim! Com ela, é exatamente o oposto. Como fora criada por um oficial, jurara para si mesma que nunca se envolveria com alguém de patente. Mas quando conheceu Lalisa Manoban, ach...