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Algumas pessoas nunca dizem uma mentira, se souberem que a verdade pode magoar mais.

- Mark Twain

– SAÚDE, AMIGA! – exclamou Jisoo, batendo o copo de cerveja de leve de encontro ao de Lisa na festa de aposentadoria do almirante. O tilintar do vidro se perdeu no mar de vozes bem moduladas, de música entediante de câmara e do ruído quase inaudível do ar-condicionado da mansão. – Deve ser dito, o velho tem estilo.

Lisa deu de ombros. Havia crescido como pobre o bastante para saber apreciar o fato de que, ao usarem copos ali na festa em vez da habitual e vulgar garrafa de cerveja, o sujeito do bufê incumbido de lavar a louça não ficava sem serviço e sem seu meio de sustento. Para além disso, no entanto, a opulência mais a confundia do que impressionava. E de que adiantava? Os ricos se preocupavam mais em ostentar sua fortuna do que os caras fortes em ostentar os seus...Músculos.

Nem sonharia em dizer isso a Jisoo, naturalmente. Em comparação aos Kim, a família dela, e o almirante, não vivia num lugar muito melhor que o estacionamento de trailers onde Lisa crescera.

– O que acha que ele vai fazer agora que está aposentado? – perguntou Jisoo num tom corriqueiro, enquanto olhava ao redor, observando a multidão de convidados. – Colocar uma daquelas camisas floridas e ficar cuidando do jardim?

– Espero que alguém tire fotos. – Lisa riu. Depois de mais um gole de cerveja, deu de ombros. – Ele mencionou que vai dar consultoria em Incheon e talvez iniciar alguns programas aqui na base naval.

Ali estava algo excelente em Jisoo. Não se importava com o fato do almirante e Lisa terem uma relação um pouco mais próxima. Por outro lado, o tio de Jisoo era senador e o pai possuía metade do Norte de Ulsan, o que lhe assegurava seus próprios contatos influentes.

– Para que se aposentar, então? – indagou ela. – A aposentadoria foi feita para uma pessoa relaxar, certo? Não é como estar de licença remunerada diariamente?

Lisa fez uma careta. Aquilo era relaxar demais a seu modo de ver. Como aquela festa. Esse tipo de evento não era do seu feitio. Olhou ao redor, à procura de um garçom e outro copo de cerveja.

Ao contrário dos pobres civis que se viram obrigados a usar smokings, ela e Jisoo, juntamente com outros oficiais, tiveram permissão para usar os uniformes brancos de gala. Não eram como a farda de serviço, mas semelhantes o bastante para fazê-la sentir-se confortável.

– Senhorita. – O garçom fez uma ligeira mesura enquanto trocou o copo vazio dela por um repleto de cerveja gelada.

Lisa moveu os ombros contra o tecido restritivo do uniforme. Ao menos, costumara se sentir confortável antes. Pela primeira vez, era como se o uniforme não lhe caísse bem.

– O que está havendo? – perguntou Jisoo, trocando o próprio copo. – Você está inquieta como nunca desde que chegamos.

– Quero apenas ir embora assim que possível. Este tipo de festa não faz o meu estilo.

– Amiga, você tem que festejar onde houver música tocando. – O sorriso de Jisoo desapareceu tão logo as palavras saíram da sua boca. Essa havia sido a frase favorita de Rosé.

Lalisa olhou para o próprio copo de cerveja. Haviam sido treinadas para isso. Haviam embarcado em toda e qualquer missão cientes de que havia não apenas a possibilidade, mas a probabilidade, de que, cedo ou tarde, um deles não voltasse. Então, qual a razão do drama emocional? Por que não diminuía, passava?

– Manoban, Kim, fico contente que tenham vindo – declarou o almirante num tom alto, social e caloroso. Em contraste à voz autoritária e seca que costumava usar para vociferar ordens. Não havia muita diferença, na verdade, a não ser pelo sorriso largo no rosto.

Sailor (Jenlisa)Onde histórias criam vida. Descubra agora