O certo e o errado

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Desde os primórdios da humanidade, ainda quando pequenos, aprendemos que na vida existe o certo e o errado, o preto e o branco. Aprendemos que falar a verdade é certo, mentir é errado. Ser educado é certo, mas a grosseria é errada.

Quando tornamo-nos adultos, o julgamento entre o certo e o errado, atrelado à culpa que a sociedade e nós mesmos nos impomos, torna-se ainda mais rígido. Não nos permitimos errar, tornamo-nos cada vez mais severos, abarrotados de regras, reprimindo sentimentos, desejos, espontaneidade e tudo o mais que, por muitas vezes, é considerado um lado negro de nossa alma. Porém, a verdade, é que todos somos seres ambíguos, somos ambos os lados de uma mesma moeda. Temos a obscuridade e a luz dentro de nós; somos honestos e corruptos, meigos e cruéis; somos profissionais e vagabundos, e tudo isso representa a graça e plenitude das diversas fases pelo qual passamos em nossas vidas.

Tudo seria mais fácil, mais leve, se deixássemos de ser menos julgadores, passando a ser mais "vivedores" de nós mesmos e de nossos anseios. Permitir tropeçar para se reerguer, errar para consertar posteriormente. Entender que a vida não se encerra em um amor e um trabalho, ela é um ciclo e muda com freqüência. O que é certo hoje pode ser errado amanhã, e vice-versa. E só pode ser considerado totalmente impróprio aquilo que nos faz mal, caso contrário, mergulhar de corpo e alma pode ser sua melhor decisão.

A cabeça de Maya girava e ela não conseguia pensar em mais nada que não fosse na sensação da maciez dos lábios de Carina pressionando os seus. O sabor do beijo dado há minutos atrás ainda podia ser sentido em sua boca, como se o ato não tivesse sido findado.

Ela ofegava, sentia o estômago embrulhar, estava em pânico. A loira teve que firmar seu corpo de costas em uma pilastra, fechar os olhos e tentar se acalmar antes de tomar qualquer outra atitude. Bishop esforçava-se para organizar seus pensamentos, mas estavam tão embaralhados como cartas em início de jogo, flutuando pela mente, que ela não conseguia nem ao menos expulsá-los. A sua incapacidade de coerência e discernimento a enervava ainda mais. Lembrou-se dos olhos marejados de Carina ao pedir desculpas pelo rompante, lembrou-se de que fugira, desencorajada de continuar o que podia ser sua ruína.

A comandante correu, literalmente, para a ala dos dormitórios. No caminho, em um corredor que dava acesso à saída norte daquele andar, ouviu a voz de Rust à dialogar com um colega de trabalho. Maya precisava fazer algo, precisava desabafar, tomar conselhos de alguém que pudesse analisar toda a situação de maneira neutra, sem prévios julgamentos e olhares inquiridores. Obviamente que seu subordinado não seria essa pessoa, mas ele a ajudaria a obter êxito no seu intento que acabara de tornar-se prioridade.

- Rust... - A loira aproximou-se, receosa - É, bem, desculpa interrompê-los, mas... eu preciso falar com você.

- Oh, claro. - O rapaz fez sinal para o outro que, após um cumprimento com a cabeça, retirou- se do recinto, deixando-os à sós - Pode falar comandante. - Ele a olhava de cima a baixo, discretamente, com o sobrolho erguido, por conta de seus trajes, ato esse que não passou despercebido pela mulher.

- Recebi uma ligação urgente e vim do dormitório às pressas para te procurar. Nem tinha me dado conta disso... - Seu tom era um tanto quanto constrangido.

- Não há problema algum. Só é... diferente vê-la livre do terno, apenas de camiseta, calça e sem sapatos. Além do que, só soube que tinha retornado à Casa Branca, pois vi seu carro estacionado na garagem... - A loira o repreenderia pelo comentário, mas aquele lapso era por culpa totalmente de seu descontrole emocional de instantes atrás.

- Então... eu vou ausentar-me por alguns minutos e preciso que dê uma atenção especial à Srta. Deluca. Sei que é noite. Provavelmente ela não deixará o quarto, nem irá requerer absolutamente nada, contudo, não se pode garantir. Para que nossa protegida se sinta mais segura, peça a alguém para ficar posicionado debaixo da janela de seu quarto.

A Filha do Presidente ( adaptação )Onde histórias criam vida. Descubra agora