Para o inferno

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"Maya, acorde! Você precisa acordar, Maya!"

A comandante ouvia uma voz feminina ao longe. Contudo, devido ao seu estado de consciência alterada, não sabia distinguir de quem era.

"É agora. Você precisa provar o quão forte é, agora!"

Suas pálpebras pesavam, sendo difícil levantá-las, quanto mais, mantê-las erguidas. Sua cabeça latejava e, conforme ia despertando, notava dores de diversas intensidades em várias partes de seu corpo.

Bishop havia perdido a noção do tempo. Ele já não era mais o seu aliado. Ela não tinha noção se estava presa naquele lugar há dias ou apenas horas, se estava claro ou escuro lá fora. O cômodo não possuía janelas, sendo o único contato com o mundo exterior, uma porta à sua frente.

A loira tinha sinais de desidratação, estava ferida, cansada, debilitada física e mentalmente. A cada arfada de seu peito era como o pouco de vida que lhe sobrara, se esvaísse bem lentamente.

Uma emergência pode acontecer com qualquer pessoa, em qualquer lugar.
Quando nos deparamos com uma situação de sobrevivência inesperada, temos que superar diversos desafios para garantir a continuidade de nossa existência. Mas, naquela situação, o que seria a sobrevivência mesmo?

"Maya, preste atenção aos sinais. A vida nada mais é do que uma sucessão de sinais, como placas em uma estrada indicando o caminho a seguir."

A comandante circundava o local com o olhar, assustada, tentando descobrir de quem era e de onde vinha a voz. Ela não tinha a companhia de ninguém naquele cubículo fétido, sem nem ao menos um duto de ventilação. Bishop estava só, e mesmo assim ouvia a voz de timbre peculiar, enrouquecida, nada familiar.
"Sobreviver é a arte de existir além de qualquer evento. Sobreviver significa manter- se vivo. Mantenha-se viva, Maya. Do que precisa para não cair?"

- Louca! Eu estou ficando...louca! - A loira sussurrava, encolhendo-se, abraçando as próprias pernas.

"Não, não está, mas pode ficar à qualquer instante. Você é um pavio curto, queimando. Do que você precisa, Maya? Responda!"

A pergunta era repetida tantas e tantas vezes em sua mente que só então ela se deu conta de que quem tentava se comunicar era seu subconsciente; uma espécie de alter-ego ou algo do gênero. Aterrorizante e insano seriam ótimas palavras para definir, para descrever aquele momento em que travava um diálogo consigo mesma.

- Eu não sei. - Bishop murmurou.

"O que aprendeu em seus treinamentos? "

- Não me lembro. - A mulher respondia, trêmula e aos prantos.

"Você precisa aceitar as circunstâncias em que se encontra e tentar melhorá-las enquanto sustenta a sua vida até conseguir sair dessa situação. Mas, mais importante que isso, sobrevivência é um estado mental, Maya."

- E eu estou louca...

"Eu já disse que por enquanto não. A sua sobrevivência vai depender da sua habilidade de lidar com o estresse nessa situação de emergência. Seu cérebro é sem dúvida a melhor ferramenta que você tem. Sabe disso, não sabe?"

- Sei.

"Então levante-se!"

- Eu não consigo.

"Levante-se!"

A voz ecoou mais rispidamente no cérebro da comandante, fazendo-a estremecer ainda mais, soltando um gemido abafado quando seu corpo se moveu sobre o colchão velho e desconfortável. Devagar, ela foi se levantando, dando alguns passos para frente, sorrindo ao perceber que realmente conseguia.

A Filha do Presidente ( adaptação )Onde histórias criam vida. Descubra agora