De repente tudo pode mudar

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Existe um elo muito forte entre mãe e filho que nem mesmo o tempo é capaz de apagar. Talvez seja esta uma das ligações mais fortes da natureza, comprovada pelo sentimento que se estabelece com um bebê, lá nas primeiras semanas de sua existência dentro do ventre, e que dura para sempre.

Maya passou anos e anos de sua vida sofrendo, chorando escondida pelos cantos, imaginando como seu filho era, como ele estava sendo tratado, se comia bem, se morava bem, se frequentava uma boa escola. Não teve um dia sequer desde que Arthur fora raptado que a comandante não tenha pensado nele. Por vezes, suas esperanças de revê-lo, de encontrá-lo vivo, se esvaiam, chegando quase ao esgotamento, mas no fundo de seu coração, o amor que sentia pelo filho, resgatava a sua fé e a fazia se reerguer na positividade. Detalhes fascinantes sobre essa conexão tão ímpar entre a mãe e seu bebê.

Era claro que aquilo que a loira sentia pelo garoto desaparecido era um tanto quanto diferente do que ela provavelmente sentiria se ele tivesse sido criado por ela. Porém, a relevância do sentimento nunca deixou de ser parte fundamental de sua vida.

Anos de sofrimento, anos de busca, procura, lutas externas e internas travadas. Anos de amor acumulado. E agora, Bishop estava diante de um adolescente lindo, sentada à encará-lo, buscando eternizar em sua memória cada detalhe daquele rosto que foi privado dos beijos maternos que a loira sonhou tanto em dar.

- Então...você é o...Vincenzo? - Por mais que quisesse agarrar o menino e externar o carinho guardado, Maya ainda sentia-se nervosa, apreensiva, tal como o próprio rapaz demonstrava estar.

Ali eram mãe e filho sentados um de frente para o outro, mas também, querendo ou não, eram dois estranhos que teriam que se adaptarem aos poucos às mudanças, à nova realidade que a vida lhes impunha.

- É...sou. Estranho, ne? Cada vez que a família que me criou fugia, me davam um nome diferente. Já tive três. Quando me levaram para ficar com os ciganos, não quiseram mudar mais. É bem estranho mesmo. Vincenzo, disseram que escolheram por causa do presidente, em homenagem à ele, e agora eu tô aqui, na casa dele. - A loira riu, tomada pela graciosidade do rapaz, enquanto limpava uma lágrima que escapara, escorrendo pelo seu rosto.

- Seu pai e eu te demos o nome de Arthur, o nome de um príncipe.

- A Megan me contou boa parte da minha história antes de me perguntar se eu queria vir pra cá.

- E você quis...

- Quis, quis sim. Eu vivi esse tempo todo "fugindo" de algo e nem entendia o porquê. Meus pais não eram pais. Nunca tive ninguém que me amassem de verdade. Quando me contaram que minha mãe biológica estava procurando por mim, não pensei duas vezes. Sempre quis saber quem você era, como você era, desde quando descobri que era adotado. Antes eu imaginava que tinha sido abandonado, mas mesmo assim eu queria encontrar meus pais pra saber o motivo exato desse abandono.

- Oh, meu filho... - Nesse momento, a loira puxou Vincenzo para um abraço forte, apertado - Te tiraram de mim de uma forma tão brutal! Eu jamais te abandonaria. Jamais. E eu nunca desisti de você, nem um dia sequer.

- É...bom saber disso.

- Mas, Vince... Posso te chamar assim?

- Pode. Não ligo.

- Então... Quando você soube o que estavam fazendo contigo, por qual motivo não fugiu? Por que não tentou se livrar dessas pessoas?

- Eu não sabia exatamente. Sentia que algo estava errado, perguntava, mas sempre me enrolavam nas respostas. Fiquei mais desconfiado quando me entregaram pros ciganos falando que eram amigos e que eu iria adorar morar com eles enquanto viajavam. E mesmo se eu soubesse a verdade e resolvesse fugir, iria pra onde? Pra rua? Bem ou mal sempre tive comida, teto e escola. Não queria me arriscar a viver pedindo esmola, ou ser um bandido. Eu tava esperando arrumar um emprego pra juntar uma grana e sumir, poder viver por conta própria, sabe? Só que não deu tempo. Aquela ruiva que come dois sacos de batata por vez me achou antes.

A Filha do Presidente ( adaptação )Onde histórias criam vida. Descubra agora